terça-feira, 30 de abril de 2019

Carta Aberta pelo dia 1º de maio de 2019 aos trabalhadores e trabalhadoras do Rio de Janeiro

Neste 1º de maio, Festa de São José Operário, queremos saudar os trabalhadores e trabalhadoras, bem como reafirmar o compromisso com a dignidade e a grandeza da pessoa humana e do trabalho.
Continuamos a viver sob a luz que o tema da Campanha da Fraternidade deste ano nos traz para as muitas relações que devem ser criadas em nossa sociedade. Com o tema: “Políticas Públicas e Fraternidade” e o lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), somos convidados a perceber como todos, governantes e povo em geral, devem priorizar o bem comum e não os interesses mesquinhos dos que só se preocupam consigo mesmo, querendo apenas levar vantagens. A estes, bem sabemos, pouco importam a vida e a dignidade das pessoas. Pois, embora aquilo que se entende por política pública seja primordialmente uma responsabilidade do Estado, cuja finalidade é garantir o bem comum dos cidadãos, todas as pessoas e instituições devem se sentir protagonistas das iniciativas e ações que promovam “o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (“Gaudium et spes”, 74).
Esta é a data em que recordamos o esforço dos trabalhadores por melhores condições de vida no mundo do trabalho. Foi graças à coragem e persistência de muitos trabalhadores que os direitos e benefícios foram conquistados. Como nos lembra o Documento de Aparecida, “são os leigos, conscientes de seu chamado à santidade em virtude de sua vocação batismal, os que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para construir uma cidade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus” (n. 505).
Diante das últimas tragédias em nossa cidade e país, como negar a quantidade de pessoas que perdem a vida, os seus empregos, o direito à moradia digna, à saúde e à educação por conta da corrupção, dos desvios de recursos públicos e do desmando das classes governantes? Tudo isso corrói a esperança e a vida, acentuando o clima de violência, insegurança e desamparo na vida de tanta gente!
Quando se abandona a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco. O pecado habita no coração do ser humano (cf. Mc 7, 20-23) e se manifesta como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros. Leva à exploração da criação (pessoas e meio ambiente), gerando aquela ganância insaciável que considera todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem está dominado por ela.
Em nosso país não é diferente. A ganância, a ambição e a corrupção fazem surgir a cada época novas formas de acumulação e especulação. A compra da consciência das pessoas faz com que aqueles que deveriam proteger a população e legislar em favor do bem comum acabem, muitas vezes, ajudando a perpetuar e fortalecer uma sociedade com estruturas injustas e desumanas que corroem e destroem a vida das famílias.
É a manifestação da dureza de coração, que concentra a riqueza e é causa da miséria de muitos. Como seria bom se todos, seguindo o exemplo do divino Mestre, que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28), buscassem uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito, na justiça e no bem comum!
Precisamos, no entanto, acreditar que através da nossa união, fé, amor, oração, coragem, comprometimento, diálogo, comunhão e revisão da realidade conseguiremos gerar uma nova realidade.
Não podemos e nem devemos ficar à margem da busca pela justiça. Ao contrário, devemos nos empenhar na edificação da paz neste nosso mundo marcado por muitas violências e guerras, e, hoje de modo particular, pelo terrorismo, a corrupção e a exploração sexual (Bento XVI, Exortação Apostólica pós sinodal “Sacramento da Caridade”, 78-88).
Só a partilha - e não apenas o aumento da riqueza - é capaz de levar as pessoas e os povos a terem uma qualidade de vida melhor. É preciso que a mensagem Pascal: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” seja testemunhada como proposta de vida real e concreta para toda a humanidade.
Como cristãos, portanto, precisamos nos empenhar no anúncio e construção do Reino de Deus, que começa já aqui, com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. É na partilha e no amor fraterno, propostos por Jesus, que encontraremos saída rumo às mudanças necessárias para realizar o plano de Deus, onde o ser humano recupere a dignidade do ser imagem e semelhança de Deus e corresponsável na condução de toda Criação (cf. “Laudato Si” 14).
Por tudo isso, celebrar a Festa de São José Operário neste dia 1º de maio é para nós da Pastoral do Trabalhador, das pastorais sociais e de toda a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro a reafirmação de nosso compromisso com a dignidade do trabalhador, a grandeza do trabalho e com todos os que lutam em favor da dignidade humana.