Neste 1º de maio, Festa de São José Operário,
queremos saudar os trabalhadores e trabalhadoras, bem como reafirmar o
compromisso com a dignidade e a grandeza da pessoa humana e do trabalho.
Continuamos a viver sob a luz que o tema da
Campanha da Fraternidade deste ano nos traz para as muitas relações que devem
ser criadas em nossa sociedade. Com o tema: “Políticas Públicas e Fraternidade”
e o lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), somos
convidados a perceber como todos, governantes e povo em geral, devem priorizar
o bem comum e não os interesses mesquinhos dos que só se preocupam consigo
mesmo, querendo apenas levar vantagens. A estes, bem sabemos, pouco importam a
vida e a dignidade das pessoas. Pois, embora aquilo que se entende por política
pública seja primordialmente uma responsabilidade do Estado, cuja finalidade é
garantir o bem comum dos cidadãos, todas as pessoas e instituições devem se
sentir protagonistas das iniciativas e ações que promovam “o conjunto das
condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações
alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (“Gaudium et spes”, 74).
Esta é a data em que recordamos o esforço dos
trabalhadores por melhores condições de vida no mundo do trabalho. Foi graças à
coragem e persistência de muitos trabalhadores que os direitos e benefícios
foram conquistados. Como nos lembra o Documento de Aparecida, “são os leigos,
conscientes de seu chamado à santidade em virtude de sua vocação batismal, os
que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para construir uma cidade
temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus” (n. 505).
Diante das últimas tragédias em nossa cidade
e país, como negar a quantidade de pessoas que perdem a vida, os seus empregos,
o direito à moradia digna, à saúde e à educação por conta da corrupção, dos
desvios de recursos públicos e do desmando das classes governantes? Tudo isso
corrói a esperança e a vida, acentuando o clima de violência, insegurança e
desamparo na vida de tanta gente!
Quando se abandona a lei do amor, acaba por
se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco. O pecado habita no coração
do ser humano (cf. Mc 7, 20-23) e se manifesta como avidez, ambição desmedida
de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros. Leva à exploração da criação
(pessoas e meio ambiente), gerando aquela ganância insaciável que considera
todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir
inclusive quem está dominado por ela.
Em nosso país não é diferente. A ganância, a
ambição e a corrupção fazem surgir a cada época novas formas de acumulação e
especulação. A compra da consciência das pessoas faz com que aqueles que
deveriam proteger a população e legislar em favor do bem comum acabem, muitas
vezes, ajudando a perpetuar e fortalecer uma sociedade com estruturas injustas
e desumanas que corroem e destroem a vida das famílias.
É a manifestação da dureza de coração, que
concentra a riqueza e é causa da miséria de muitos. Como seria bom se todos,
seguindo o exemplo do divino Mestre, que “não veio para ser servido, mas para
servir” (Mt 20,28), buscassem uma participação mais ativa na sociedade como
forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura
fraterna baseada no direito, na justiça e no bem comum!
Precisamos, no entanto, acreditar que através
da nossa união, fé, amor, oração, coragem, comprometimento, diálogo, comunhão e
revisão da realidade conseguiremos gerar uma nova realidade.
Não podemos e nem devemos ficar à margem da
busca pela justiça. Ao contrário, devemos nos empenhar na edificação da paz
neste nosso mundo marcado por muitas violências e guerras, e, hoje de modo
particular, pelo terrorismo, a corrupção e a exploração sexual (Bento XVI,
Exortação Apostólica pós sinodal “Sacramento da Caridade”, 78-88).
Só a partilha - e não apenas o aumento da
riqueza - é capaz de levar as pessoas e os povos a terem uma qualidade de vida
melhor. É preciso que a mensagem Pascal: “A multidão dos fiéis era um só
coração e uma só alma” seja testemunhada como proposta de vida real e concreta
para toda a humanidade.
Como cristãos, portanto, precisamos nos
empenhar no anúncio e construção do Reino de Deus, que começa já aqui, com a
construção de uma sociedade mais justa e fraterna. É na partilha e no amor
fraterno, propostos por Jesus, que encontraremos saída rumo às mudanças
necessárias para realizar o plano de Deus, onde o ser humano recupere a
dignidade do ser imagem e semelhança de Deus e corresponsável na condução de
toda Criação (cf. “Laudato Si” 14).
Por tudo isso, celebrar a Festa de São José
Operário neste dia 1º de maio é para nós da Pastoral do Trabalhador, das
pastorais sociais e de toda a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro a
reafirmação de nosso compromisso com a dignidade do trabalhador, a grandeza do
trabalho e com todos os que lutam em favor da dignidade humana.