quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Desejo-vos a Paz!



A Paz esteja convosco!

A saudação litúrgica prevista na Celebração Eucarística que o bispo preside evoca a saudação do Cristo ressuscitado que se dirige aos seus discípulos nas aparições pascais, evocando que a Paz estivesse com eles. A Paz que Cristo desejava que estivesse com os seus discípulos é a própria presença de Cristo – o príncipe da Paz.

Constata-se, hoje, uma situação mundial de conflitos, guerras, ódios e discriminações que geram uma sociedade de não-Paz. A Paz não é somente a ausência da guerra, pois os conflitos pessoais e comunitários estão na raiz dos problemas hodiernos que geram uma sociedade de instabilidade econômica e social. Mas, como cristãos, sabemos que a Paz é uma Pessoa, Jesus Cristo. Observamos movimentos internacionais que apregoam a retirada de Deus de nossa cultura, como nunca antes observada na história humana. Nunca existiu uma sociedade sem divindade: tribos acreditavam em divindades, os persas, babilônicos também, os gregos e os romanos eram politeístas. Mas no século XIX, um movimento marcado pelo racionalismo, o antropocentrismo e o cientificismo buscava colocar Deus para fora da civilização. Nossa sociedade é herdeira e continuadora do movimento: “Deus está morto!”. Queremos colocar Deus para fora da esfera pública e social, mas uma questão me inquieta: é possível sustentar uma sociedade de paz e justiça sem um imperativo ético sustentado na experiência de fé?

Os movimentos internacionais na atual conjuntura mundial, com as devidas influências em nosso país, cada vez mais atuam nessa direção. Não é a primeira vez na história e nem será a última, por isso necessitamos estar atentos para saber em que terreno pisamos e quais são as principais dificuldades e problemas hodiernos. Ao “venderem” essas idéias e tentarem implantá-las na sociedade, sabemos qual será o fim e quais serão as dificuldades que surgirão. Os totalitarismos existem de diversas formas e até mesmo naquelas que se acobertam com o nome de “democráticas” devido ao novo nominalismo que se vive dentro da imposição de certas ideologias culturais.

O dia 1º de janeiro é o Dia Mundial da Paz. Em 2013, o tema escolhido pelo Papa Bento XVI para esse dia é “Bem-aventurados os obreiros da Paz”, no qual ele recorda que os obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade, e que é necessário educar para uma cultura da paz em família e nas instituições, através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia.

Porém, na mensagem para o ano de 2012, que finda, para o dia mundial da paz, 1º de janeiro, ele falou com um viés especial para os jovens. Como estamos iniciando o Ano da Juventude em nossa cidade, gostaria de recordar alguns pensamentos do Santo Padre que se dirige aos jovens, pais e responsáveis pela sociedade, solicitando que "os jovens sejam educados para a Justiça e a Paz, e que o início de Ano Novo seja também marcado pela Justiça e a Paz". Convida todos os homens de boa vontade para verem o novo ano de modo confiante, especialmente “os jovens que são os mais otimistas. Nos jovens repousa a esperança do mundo".

Dirigindo-se também aos pais, às famílias e a todos que têm responsabilidades sociais, o Papa nos recorda que "todos temos compromisso de mostrar o valor da vida e do bem”. 

No ano que se descortina, acolheremos em nossa Arquidiocese milhões de jovens do mundo inteiro para o encontro com o Papa. O Papa adverte que o protagonismo dos jovens deve ser uma realidade em nossa Arquidiocese “porque os jovens buscam acolhida e desejam espaço para intervir na sociedade, dando-lhe um rosto mais humano e solidário".

O Papa Bento XVI destaca que "é na família que se inicia a educação para a Justiça e a Paz. Pois, na família os jovens conhecem os valores humanos e cristãos como a primeira escola para justiça e paz". Destaca ainda que "a sociedade atual ameaça as famílias e destrói vidas. Por isso, os filhos devem colocar sua Esperança em Deus, fonte da verdadeira Justiça e Paz". Exortando a Igreja doméstica – a família – para educar os filhos na escola de Cristo para gerar uma consciência de justiça e paz.

O Pontífice fez um apelo aos líderes religiosos e educadores através do mundo a combater "a cultura do relativismo", e a transmitir aos jovens os valores da paz e da justiça. "A cultura do relativismo apresenta uma questão radical: é ainda necessário educar? E educar para que?", questionou o Papa.

Muitos grupos minoritários poderão desejar ter “seu minuto de fama” manifestando-se durante a JMJ. Por isso será muito importante a nossa consciência de encontrarmos os caminhos para um verdadeiro anúncio da verdadeira vida, promovendo hoje uma pastoral em que se eduquem as crianças e os jovens na escola de Cristo, o promotor da justiça e da paz. Reensinando a nossas crianças e jovens os valores do respeito, da tolerância e principalmente do amor ao próximo. Estes valores são valores do futuro, pois são valores de sempre e constituem a essência do Evangelho. As paróquias são convidadas neste novo ano a reconstruírem as relações interpessoais, evocando sempre os valores do Evangelho para nortearem nossas ações paroquiais e com a comunidade civil que circunda nossa Igreja. Promovamos gestos concretos de justiça e paz!

Cônscio dos desafios de promover em nossa cidade do Rio de Janeiro uma cultura da paz e da justiça, exorto todos a fazerem destes valores os compromissos de nossa ação pastoral. O Papa Bento XVI reconhece que "a Paz ainda não é um Bem alcançado, mas uma meta para todos buscarmos alcançá-la". Eis o desafio para 2013 – fazermos de nossa Arquidiocese uma escola da caridade!  

         Desejo a todos um santo e abençoado ano de 2013, evocando sobre toda a Arquidiocese, de forma especial às crianças, doentes, idosos, injustiçados e vitimados pela violência, as bênçãos do Cristo Redentor. O nosso olhar carinhoso para a juventude, que contagiará a todos com a sua alegria e testemunho.

         Consagro as primeiras horas do Novo Ano à intercessão da Santa Mãe de Deus sobre todo o Povo de Deus de nossa Igreja particular.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
  Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ