Por D. Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro
A
dimensão da “peregrinação” faz parte do espírito da JMJ. Eis que estamos às
portas, e jovens do mundo inteiro estarão acorrendo ao Santuário Mundial da
Juventude para o encontro com Cristo juntamente com o primeiro peregrino, o
sucessor do Apóstolo Pedro, o Papa Francisco, em sua primeira viagem
apostólica.
Os jovens
não virão à nossa cidade para fazer turismo, nem para outras atividades que não
seja um encontro amoroso com Cristo Ressuscitado, abrindo o seu coração e a sua
alma para acolher Cristo e a mensagem contida no Evangelho. Virão como
peregrinos. Este é o espírito da Jornada. Por isso a acolhida simples, a
caminhada para o “Campus Fidei”, o tempo de oração e reflexão.
Todas as
vezes que nós vamos peregrinar, e a peregrinação é sempre a um lugar santo, como
os santuários marianos ou os outros locais de devoção cristã, devemos nos
preparar espiritualmente. Em primeiro lugar precisamos fazer um exame de
consciência completo de nossa vida cristã, de nossa pertença às comunidades e
de nossa adesão ao Evangelho. Eu mesmo recordei a todos os voluntários e famílias
acolhedoras para que vivessem o tempo de espera em oração, confissão,
penitência para crescerem na fé.
Somos
chamados a nos arrepender de nossos pecados, procurando deixar de lado tudo
aquilo que nos afasta de Deus e da Santa Igreja. A nossa unidade como Igreja
fará a diferença nesse momento tão importante de nossa caminhada. Também os que
aqui residem podem ter o espírito de peregrino acolhendo os irmãos na fé. Como
eu sigo Jesus Cristo? Como eu vivo o Evangelho? Esta deve ser a nossa
preocupação fundamental nesse itinerário espiritual, tanto para os que chegam
como para os que acolhem os jovens aqui no Santuário Mundial da Juventude.
Todo ser
humano é um ser em caminho. Esta característica exprime-se e alimenta-se quer
na viagem existencial de cada pessoa que percorre um itinerário ao longo do seu
tempo de vida com todas as vicissitudes que o marcam, quer nas múltiplas viagens
que ela realiza pelas estradas do mundo, por necessidades e interesses vários.
Um dos motivos para a viagem é a fé.
O homem
põe-se a caminho à procura de Deus ou atraído para o encontro com Ele: “Tu
atraíste-nos para Ti, Senhor, e inflamaste os nossos corações”. Quando o
peregrino parte movido pela fé, animado de verdadeiro espírito religioso em
resposta a um apelo e impulso divinos, então podemos dizer que ele faz uma
“santa viagem”. Com o seu ato adora a Deus, põe-se à escuta da sua voz, acolhe
o Evangelho, manifesta o seu amor e a sua fé para com Deus e cultiva a sua
espiritualidade.
A
peregrinação religiosa é uma constante na história da humanidade e da Igreja. É
motivada pelo fascínio exercido pelos “lugares santos” ou pela esperança de dar
passos em sua caminhada espiritual, ou mesmo para pedir ou agradecer situações
existenciais. Frequentemente, o peregrino leva no coração a gratidão por alguma
graça alcançada ou o desejo de cumprir determinada promessa que fez.
Normalmente,
os santuários são a meta das peregrinações religiosas. Pelos acontecimentos e
graças que neles se verificam, os santuários são memória viva da manifestação
de Deus e das maravilhas que Ele ali realiza em favor dos seus fiéis; são
também sinais da Sua proximidade e disponibilidade para com os homens,
beneficiados com os dons espirituais que recebem; tornam-se igualmente lugares
de esperança para alívio e consolação das tribulações e anseios humanos.
A
peregrinação, enquanto ato religioso em direção a um lugar sagrado, constitui
um memorial dos acontecimentos e graças de Deus que nele se realizaram.
Torna-se, com frequência, para muitos peregrinos, experiência da presença e
ação de Deus junto dos que Nele confiam. E dá corpo à súplica confiante e
humilde de ajuda e ação de graças mediante atitudes, gestos e palavras.
Por isso,
quem vem ao Rio de Janeiro é um peregrino que quer se abrir ao Redentor, que do
alto do Corcovado está de braços abertos conclamando os peregrinos a irem ao
Seu Divino Encontro.
A
narração evangélica da peregrinação da Sagrada Família de Nazaré ao templo de
Jerusalém, permite-nos compreender o mais importante do objetivo e da
espiritualidade desta prática religiosa (Lc 2, 41-52). O objetivo dessa família
era cumprir a lei de Deus, adorando-O no seu templo (cf. Ex 23,16; Dt 16,16). Todo
aquele que se faz peregrino centra-se em Deus, procura escutar e obedecer a voz
do Espírito que o guia nos seus caminhos e o faz entrar na comunhão com Deus. E
o fruto da peregrinação, semelhante ao que viveu Jesus, será o crescimento em
sabedoria e graça diante de Deus e dos homens.
As
peregrinações evocam nossa caminhada pela terra em direção ao céu. São
tradicionalmente tempos fortes de renovação da oração. Os santuários são para
os peregrinos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais para viver
"como Igreja" as formas da oração cristã.
Ao virem
como peregrinos ao Rio de Janeiro, a caminhada é para que o encontro com o
Senhor juntamente com jovens do mundo inteiro, que são muito bem-vindos, os
faça viver como discípulos à “luz da fé”, que os levem a retornar para suas
casas como animados missionários: "Ide e fazei discípulos entre todas as
nações!" (cf. Mt 28, 19). Fazer discípulos, chamar outros para a comunhão
e o convívio com o Senhor é o tema mais querido do Evangelho de São Mateus. Esse
mandato, essa missão já está anunciada em todo o Evangelho. E, na verdade, só
faz discípulo quem já é discípulo, quem convive com o Senhor.
Neste
tempo de “mudança de época”, em que a nossa juventude assume o seu profetismo
cristão nas manifestações pacíficas e com objetivos claros de cidadania, todos
nós, como peregrinos cristãos, somos chamados a ser “protagonistas de um mundo
novo”. Por isso mesmo, o peregrino discípulo-missionário pauta sua vida pela
disponibilidade e fraternidade. Quer fazer uma verdadeira experiência de
comunhão com Cristo e com os irmãos e irmãs. Não procura levar vantagem em nada
por se colocar a serviço e tampouco desanima com as dificuldades próprias de
uma grande concentração. Ele, com isso, ganha a pertença ao Reino, ganha a certeza
do amor de Deus, ganha a certeza de ser para os outros sinal cândido de
misericórdia e de amor.
O
peregrino, com certeza, ganha o levar e doar a paz do Senhor. Leva no seu
coração e reparte com os outros a esperança de tempos novos. São frutos e dons
que o mundo necessita muito e que cada um que chega como peregrino deverá levar
para sua casa. No mundo de hoje, com as violências, guerras, corrupção,
maldade, divisão, dependências e frustrações, o peregrino é sinal que em Cristo
Ressuscitado, razão única de sua vida a esperança, tem seu fundamento.
Sejam
todos muito bem-vindos! Desejo uma boa preparação para este espírito de
peregrinação que a todos nós deve mover para ir ao encontro do Redentor!