Por D. Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro
Os olhares
do mundo se dirigiram para o Rio de Janeiro durante os dias da Jornada Mundial
da Juventude! Evidentemente que a mídia em geral enfocou principalmente, como
não poderia deixar de ser, a presença, os gestos e as palavras do Papa
Francisco em sua primeira viagem pastoral, e justamente à “sua” América Latina.
Realmente, foram de “lavar a alma” aqueles belos momentos. Muitos artigos ainda
serão publicados sobre cada gesto, sobre cada frase ou cada possível omissão de
palavra na frase, ou ainda sobre os momentos escolhidos para que o primeiro
peregrino da Jornada estivesse em contato com os jovens presentes no Rio de
Janeiro, e, através das mídias, com o mundo todo. Nunca saberemos quantos
milhões de pessoas foram atingidas naqueles dias e que foram convidadas para a
construção de um mundo mais justo e humano.
Porém, a
Jornada teve muitos outros olhares. Os encontros menores, os países presentes,
a primeira viagem de muitos jovens fora de sua pátria, a experiência das
paróquias, dos padres, das famílias acolhedoras! E o que dizer da feira
vocacional, do encontro de grupos nacionais em grandes momentos, a presença das
relíquias de santos e beatos, as mostras culturais, os shows variados pela
cidade?
E a
presença de jovens, que embelezaram todos os cantos durante mais de uma semana,
levou também à admiração e simpatia os habitantes dessa cidade. Já tinham dado
um grande passo: abriram suas casas e seus corações ao irmão que veio de longe!
Nisso, as pesquisas foram unânimes: a alegria dos que foram acolhidos pela
generosidade e fraternidade dos cariocas! Os que para cá vieram experimentaram
que foram acolhidos como irmãos! Isso aconteceu tanto nas residências como nas
paróquias. Todos se esmeraram. Até mesmo para resolver problemas surgidos de
última hora, como falta de vistos de entrada, perda de passaportes ou de outros
documentos, dificuldades de alojamento para quem não tinha feito inscrição,
acolhimento em dias não previstos, alimentação a mais fornecida com carinho
para esses jovens, que fizeram essa longa peregrinação.
Essa JMJ, foi,
sem dúvida, uma ação de Deus na vida de todos nós! Para quem organizou nesses
quase dois anos, com todos os detalhes, e discutiu todas as possibilidades,
tudo o que houve não se pode atribuir a nós! Creio que foi o evento que mais
teve mudanças que podemos saber: desde a mudança da base aérea de Santa Cruz,
passando pela renúncia e eleição do Papa, até a mudança do local das
celebrações finais.
Nesse
mesmo contexto, tivemos a dificuldade financeira da Europa, as manifestações no
Brasil, acontecimentos que mudaram as questões de segurança, como o incêndio da
casa de espetáculos no sul e o atentado nos EUA, que fizeram com que as normas
se modificassem a cada momento, com novas exigências. Claro que as pequenas
manifestações de pessoas que não concordam com os valores da Igreja também
estiveram presentes, mas foram respondidas com paz e fraternidade de quem não
estava para brigar, mas para dar as mãos e anunciar a paz!
A
colaboração de todas as autoridades e organizações trouxe a certeza de que o
Senhor conduz a história. Não teria como fazer tantas mudanças e continuar tudo
tão em paz, inclusive com a limpeza inédita da praia de Copacabana, após um
grande evento, e a não ocorrência de violência em uma concentração de mais de
três milhões e meio de pessoas no mesmo lugar! Num espaço em que se falavam
todas as línguas, a “linguagem do amor” prevaleceu. Contagiou os moradores de
Copacabana, que estão acostumados a ver sua região ter grandes eventos, e
viram, naqueles dias, que algo novo estava no ar.
As dificuldades
para chegar perto do Santo Padre são naturais, pois ele é um só para milhares
de pessoas, mas de uma forma ou outra, ele se aproximou o mais possível. Até
mesmo a segurança, tão preocupada, viu que a única ameaça que havia era o
“grande amor” do povo para com o Santo Padre. Infelizmente, em algumas
celebrações, na entrada de sacerdotes prevaleceu mais a força que a caridade,
mas tenho certeza de que eles saberão perdoar esses momentos mais difíceis. Em
geral, a alegria era contagiante.
As
catequeses nas diversas línguas, por todos os cantos da cidade, e os encontros
menores falaram muito ao coração de quem recebia e de quem participava. Não era
só um evento de massa! Foi um evento em que houve contatos pessoais, partilhas,
meditação, oração! O que dizer dos momentos de oração silenciosa, não só em
Copacabana, mas também nas paróquias, com jovens fazendo vigílias nas igrejas?
Esses
jovens são responsáveis por um mundo mais justo e humano! Estão dispostos a ir
às ruas, como pediu o Papa, também para testemunhar que um mundo novo, sem
violência, sem guerras, sem divisões – é possível. Vieram de todos os tipos de
regime de governo e sabem o que é cada situação, ou de exclusão ou de ditadura.
Sabem também de sua responsabilidade no mundo de hoje e de amanhã. Essa
experiência de troca universal, que houve aqui no Rio de Janeiro, permanecerá
em seus corações e, tenho certeza, já os entusiasmou para viverem ainda mais
sua vocação e sua missão.
Nós, que
os recebemos aqui, também fomos transformados! Mesmo os corações mais
empedernidos se abriram. Essa experiência por nós vivida precisa ser
continuada: abertura ao outro, acolhimento do irmão, alegria pela presença das
pessoas em nossas vidas, protagonismo do jovem, preocupação com a paz e a
fraternidade, luta por um mundo mais justo, diálogo com toda a sociedade e
anúncio de Jesus Cristo, Nosso Senhor, caminho, verdade e vida!
Irmãos e
irmãs: a Jornada foi um evento importante para nossas vidas e nosso país. Aqui
nessa cidade vimos a mão de Deus agir. Agora, precisamos continuar nesse mesmo
caminho, buscando concretizar tantos sonhos e tantos desejos expressos naqueles
dias. Cabe a cada um de nós, a nossas paróquias e nossas pastorais, darem os
passos dentro daquilo que o Senhor nos concedeu, por inteira liberalidade e
misericórdia.
Teremos
ainda muitas reflexões a fazer, pois, melhor que ninguém, cada um que viveu
aqueles momentos terá muito a contribuir para o presente e o futuro. Agradeço a
Deus que se mostrou fiel em tudo o que aconteceu, peço-Lhe para que todos os
jovens que para cá vieram se tornem protagonistas em seus ambientes, e exorto a
todos dessa querida arquidiocese a estarmos ainda mais unidos para discernir os
caminhos que o Senhor nos apontou naqueles abençoados dias.
Aceitem o
meu abraço de coração agradecido a todos, e minhas orações na intenção do
presente e futuro do mundo que aqui esteve reunido durante uma semana.