Discurso do Santo Padre no Hospital
São Francisco: legado da JMJ Rio2013
Senhor arcebispo do Rio de Janeiro, amados irmãos no episcopado,
distintas autoridades, queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São
Francisco da Penitência,
prezados médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde, amados
jovens e familiares!
Quis
Deus que meus passos depois do Santuário de Aparecida, se dirigissem para um
particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de
Assis. É bem conhecida a conversão do santo patrono de vocês: o jovem Francisco
abandonou riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos
pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira
riqueza, e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e
servir aos demais. Mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto
se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão
sofredor foi “mediador de luz (...) para São Francisco de Assis” (“Lumen
Fidei”, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne
sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química,
quero abraçar a cada um e cada uma de vocês – vocês que são a carne de Cristo –
e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e
também o meu.
Abraçar.
Precisamos todos aprender a abraçar quem passa necessidade, como São Francisco.
Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor,
como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas
sociedades o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores da morte” que
seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo custo! A chaga do tráfico de
drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira
sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso de drogas, como se
discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão
e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que
estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os
jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em
dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o outro com
os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para
expressar solidariedade, afeto e amor.
Mas
abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem
caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você
pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos
amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas
que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é
o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível!
Você
encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a
subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas
estão solidárias com vocês. Olhem para a frente com confiança; a travessia é
longa e cansativa, mas olhem para frente, existe “um futuro certo, que se
coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos
do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias” (“Lumen
Fidei”, 57). A vocês todos quero repetir: não deixem que lhe roubem a
esperança! Mas digo também: não roubemos a esperança, pelo contrário,
tornemo-nos todos portadores da esperança!
No
Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por
assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. “As pessoas passam,
olham, mas não param; indiferentes seguem seu caminho: não é problema delas! Somente
um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e
cuida dele” (cf. Lc 10,29-35). Queridos amigos, penso que aqui, neste hospital,
se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas
solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede
de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa
dificuldade, porque vêem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a
carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar
aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é
um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: “Todas as vezes que fizestes a
um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt
25,40), diz-nos Jesus.
E
quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês
familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe
dos esforços que vocês fazem. Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao
lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros, e
Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de
Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário de Aparecida, confiei cada um de vocês
ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está
ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençoo.