O Concílio Vaticano II, na
Constituição Dogmática “Dei Verbum” no nº 21, afirma que “a Igreja sempre
venerou as divinas Escrituras, como também o próprio corpo do Senhor”, e, mais
na frente, no mesmo número, que “sempre considerou as divinas Escrituras e
continua a considerá-las, juntamente com a Sagrada Tradição, como regra suprema
da sua fé (...) Elas continuam a dar-nos imutavelmente a palavra do próprio
Deus e fazem ouvir a voz do Espírito Santo através das palavras dos profetas e
apóstolos”. Consideremos agora alguns pontos importantes sobre a Escritura
Sagrada.
Revelação e Escritura
Deus
revelou-se a si mesmo e o mistério de sua vontade, a fim de que os homens
pudessem ter acesso a sua vida. Esta revelação divina tem seu ponto culminante
na pessoa de Jesus, que é o seu mediador e a sua plenitude. Ele é a palavra do
Pai encarnada, que veio dar a vida em abundância aos homens. Ora, aquilo que o
Senhor revelou, por atos e palavras, foi entregue aos apóstolos, com a missão
de transmitir às futuras gerações. Esta tradição apostólica guarda e comunica
na sua pregação oral, na sua vivência e nas suas instituições aquilo que
receberam do próprio Cristo. Foi ela quem mostrou à Igreja quais são exatamente
os livros sagrados que contêm a Palavra de Deus escrita pela inspiração do Espírito
Santo.
A Bíblia
Do
ponto de vista etimológico, a palavra ‘Bíblia’ significa conjunto de pequenos
livros. O termo latino tem sua origem no grego e, nesta língua, ‘bíblia’ é o
diminutivo plural de biblos (livro). Bíblia ficou como designativo para os
livros nos quais a Igreja reconheceu como inspirados. Outros nomes podem ser
dados aos escritos, tais como Sagrada Escritura, Sagradas Letras, Divina
Escritura. De forma geral, apresentam o duplo caráter dos escritos. Por um
lado, são inspirados pela ação do Espírito Santo e, por outro, são escritos por
homens, os hagiógrafos, situados em determinado momento histórico.
Cânon Bíblico
O
termo grego canôn significa relação,
catálogo, tabela, lista. Sendo assim, o cânon
bíblico é a lista dos livros que a Igreja reconheceu como inspirados e que contêm,
por isso, a Palavra de Deus. Podemos perceber ao longo da história uma
diferença na definição do cânon entre
os cristãos: a Bíblia católica possui 73 livros, enquanto que a Bíblia
protestante possui 66 livros. Esta última possui menos sete livros e alguns
trechos (perícopes): Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, 1 e 2
Macabeus, além de Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14.
Por que esta diferença?
Esta
diferença se dá porque Lutero, no século 16, assumiu a classificação feita
pelos judeus da Palestina, no primeiro século. A classificação palestinense
ocorreu no sínodo de Jâmnia e dizia que os livros inspirados deveriam obedecer
quatro critérios: serem escritos em hebraico, serem escritos na Terra Santa,
terem sido escritos antes do tempo do governador Esdras e, sem contradição, com
a lei (Torá).
Ora,
a questão é que os apóstolos e os evangelistas não utilizaram este cânon de Jâmnia, mas usaram a versão dos
Setenta, que possuía aqueles livros e perícopes rejeitadas pelos judeus. De
fato, das 350 citações do Antigo Testamento no Novo, 300 pertencem à Bíblia dos
Setenta. Até o século 16, a
Tradição da Igreja sempre citou aqueles sete livros e aquelas passagens como
Sagrada Escritura, levando o Concílio de Trento a afirmar, de maneira categórica,
que eles são livros e passagens inspirados pertencentes ao cânon.
O Antigo e o Novo Testamento
A
Bíblia se divide em duas partes segundo a centralidade do seu conteúdo. A
primeira parte chamada de Antigo Testamento trata da antiga Aliança que Deus
selou com os israelitas, se tornando o seu Deus. Possui 46 livros divididos em
quatro grupos, de acordo com o conteúdo e o gênero que pertencem: o Pentateuco;
os livros históricos; os livros proféticos e os sapienciais. A segunda parte,
chamada de Novo Testamento, trata da Nova Aliança, prometida já na Antiga. Esta
Nova Aliança se dá com o mistério pascal de Cristo. Possui 27 livros, que podem
ser divididos da seguinte maneira: os evangelhos; os Atos dos Apóstolos; as
cartas de São Paulo; as cartas católicas e o livro de Apocalipse.
A
nossa palavra ‘testamento’ vem do grego diathéke
e significa “a vontade de um testamento; um pacto, uma alinça”. Esta, por sua
vez, tenta traduzir o termo hebraico berit,
que corresponde à aliança feita entre Deus e os homens, testemunhadas na
Sagrada Escritura. No Antigo Testamento, três alianças se destacam: a feita com
Noé, a com Abraão e, por último e retomando todas as anteriores, a com o povo
de Israel. No Novo Testamento, Jesus vai ser a Nova Aliança, plenificando a
aliança com o Antigo Povo, universalizando-a e tornando-a eterna e definitiva.
Para aprofundar
Para
saber mais sobre o assunto, conferir os parágrafos do Catecismo da Igreja Católica
(CIC) dos números 51 a
82 e 101 a
133; o Compêndio do Catecismo, da pergunta 18 até a 24; e a Constituição Dogmática
“Dei Verbum”, do número 14 ao 20.
Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e
Luz e Vida