No início da Igreja, se encontra um mandato de Jesus aos seus discípulos,
no qual Ele ordena que o Evangelho seja pregado a toda a criatura (cf. Mc 16,15).
O Concílio Vaticano II, na Constituição “Dei Verbum”, no nº 18, afirma que os
Livros do Evangelho “são o coração de toda a Escritura”, pois são “o principal
testemunho da vida e da doutrina do Verbo Encarnado, nosso Salvador”. Assim, o
Evangelho, a Boa-Nova trazida por Jesus, está consignado por escrito,
sobretudo, no relato dos quatro evangelistas, sendo estes, para nós, “como o
fundamento da fé”.
O termo Evangelho
A palavra
‘evangelho’ é de origem grega e no seu uso profano significa uma “boa notícia”,
geralmente um anúncio de uma vitória militar. Esta palavra é usada na Bíblia
quando o Antigo Testamento ganha sua versão grega. No livro do profeta Isaías,
entre os capítulos 40 – 66, o ‘evangelho’ vai se tornar a promessa da vinda do
Reino de Deus, com uma mensagem de consolo, perdão dos pecados e salvação que
atingirá, não só Israel, mas que se estenderá a todas as nações (Is 40,9; 52,7;
62,6; 61,1). No contexto para o qual o profeta escreve, o Reino se identifica
com o fim do exílio e a reconstrução de Jerusalém. Todavia, no sentido pleno,
era um anúncio da vinda dele em Cristo.
O Evangelho
Jesus se
apresenta como o mensageiro da Boa Nova e, ao mesmo tempo, como a própria Boa
Nova. Ele – sua pessoa, sua palavra, seus gestos – é o Evangelho de Deus. Ele
tem a unção do Espírito para evangelizar os pobres (cf. Mt 3,16s; Lc 4,16-21;
At 10,38). Ele é a própria mensagem a ser anunciada, pois nele o tempo de paz,
de perdão, de consolo, de misericórdia e de amor se inaugura (cf. Mt 12,28; Mc
1,1). O Reino de Deus iniciado por Jesus se dirige a todos os homens, em
especial, aqueles que são pobres em espírito, aos pecadores, aos pequenos e aos
pagãos. Ele espera uma atitude de conversão dos homens como movimento de
entrada neste Reino (cf. Mt 9,36; 14,14; Mc 1,15; 8,35; Lc 7,47-50; 19,1-10).
Do Evangelho aos Evangelhos
Segundo a
“Dei Verbum”, no nº 19, existiram três etapas na formação do texto dos
evangelhos. A primeira etapa é aquela da própria vida e do ensinamento de
Jesus. É a fase histórica da atuação de Jesus na Palestina, na qual os seus
discípulos conviverem com o Mestre e foram testemunhas de seu mistério pascal
(cf. Lc 1,1-4). A segunda etapa está ligada com o mandato de evangelização do
Ressuscitado. Aquelas testemunhas começaram a anunciar, após a ascensão, à
outras pessoas tudo aquilo que tinham visto e ouvido a respeito do Verbo da
Vida (cf. 1Jo 1,1-4). Esta fase se caracteriza pela oralidade do discurso sobre
Jesus e sua atuação. A terceira etapa é a redação dos evangelhos. Alguns
homens, os evangelistas, foram escolhidos por Deus e dotados com um carisma
especial para colocar por escrito, sob a ação do Espírito Santo, aquilo que
deveria ser conservado e transmitido às futuras gerações. Todavia, no momento
da escrituração, os quatro evangelistas tinham como objetivo escolher certas
coisas das muitas que eram ditas em vista das necessidades de suas comunidades
(cf. Jo 21,24-25). Os quatro evangelhos são frutos da vivência
litúrgico-catequética das primeiras comunidades cristãs.
Os quatro Evangelhos
A Igreja
recebeu e transmitiu o Evangelho de Jesus Cristo em quatro narrações, segundo
Marcos, Mateus, Lucas e João. Eles foram sendo escritos durante a segunda
metade do primeiro século e, desde o segundo século, possuímos testemunhos do
uso destes na Igreja. De acordo com o testemunho dos padres, São Mateus teria
escrito seu evangelho para a comunidade da Palestina; Marcos, companheiro de
Paulo e intérprete de São Pedro, teria escrito para a Igreja de Roma; São
Lucas, companheiro de São Paulo, teria escrito para Teófilo, mostrando as
questões da igreja da Antioquia; e João dirigiu seu texto para os cristãos da
Ásia Menor, da Igreja de Éfeso. Eles têm como objetivo anunciar a pessoa de
Cristo e a sua obra salvífica em favor dos homens. Desta forma, um evangelho,
procura nos dizer quem é Jesus e o que é a salvação que Ele nos trouxe.
Importante entender que apesar de ter traços biográficos de Jesus, as
narrativas evangélicas querem fazer com que o leitor ou o ouvinte se encontre
com o Cristo Vivo, a Palavra de Deus.
Para aprofundar
Para saber
mais sobre o assunto, conferir os parágrafos 124–127 do Catecismo da Igreja
Católica (CIC); o Compêndio do Catecismo, pergunta 22; o Youcat, pergunta 18; a
Constituição Dogmática “Dei Verbum”, capítulo V.
Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e
Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida