A ser canonizado por meio de decreto pelo Papa Francisco no
próximo dia 2 de abril, o jesuíta José de Anchieta marca a história do Brasil e
a evangelização da juventude. Para celebrar, o arcebispo do Rio de Janeiro,
Cardeal Orani João Tempesta, presidirá missa em ação de graças na Catedral
Metropolitana de São Sebastião, no mesmo dia da canonização, às 18h. O Papa
Francisco celebrará missa em ação de graças no dia 24 de abril na igreja romana
dos jesuítas, Chiesa Del Gesù.
“Vamos
pedir a Deus para que esse grande homem, esse jovem que veio para o Brasil, que
deu sua vida aqui, nos inspire para que possamos viver a nossa vida de fé,
falar de Jesus Cristo a essas novas gerações”, ressaltou Dom Orani. O cardeal
relembrou a alcunha do novo santo de “apóstolo do Brasil”. Em 1553, com 19
anos, foi convidado a vir para o Brasil como missionário, quando era noviço da
Companhia de Jesus.
O arcebispo
disse ainda que vivemos uma “mudança de época e de valores que são muito sérias”.
A canonização de Anchieta mostra que a Igreja “reconhece pela sua vida, pelo
trabalho que fez, pela sua pregação um grande evento que deve ser difundido
pelo mundo afora”..
Além de ser
emblemático para a história do Brasil, José de Anchieta também é uma “figura
universal”, de acordo com o antigo reitor da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro e doutor em Direito Canônico , padre Jesus Hortal Sánchez, SJ.
A canonização
era aguardada por fiéis de todo o país dada a popularidade do jovem, que soube
unir povos e culturas. “Representa esse ideal da unidade em torno da mesma fé e
da mesma cultura que se acaba formando pela fusão do português e do indígena. Creio
que realmente é uma alegria muito grande e especialmente para nós jesuítas,
porque Anchieta foi jesuíta e provincial. Foi uma pessoa importante dentro da
nossa Ordem”, explicou o sacerdote.
Processo de Canonização
A causa de
Anchieta foi iniciada na Capitania da Bahia ainda em 1617, mas não foi dado
seguimento ao processo. Em 1970,
a campanha foi retomada e foi formada uma associação
para a beatificação. Ele foi beatificado pelo então Papa beato João Paulo II,
em 22 dejunho de 1980.
A canonização
pelo Papa Francisco veio também como uma resposta a já reconhecida vida de
santidade de José de Anchieta. Um dos intercessores da Jornada Mundial da
Juventude, Anchieta foi citado pelo Santo Padre em sua homilia na missa de
envio no Rio de Janeiro. “Um grande apóstolo do Brasil, o bem-aventurado José
de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas 19 anos! Sabem qual é o
melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a
ser percorrido!”, disse o Santo Papa.
Apesar de
extraordinária, a canonização por decreto é bem aplicada ao caso de Anchieta,
de acordo com Dom Roberto Lopes, vigário episcopal para a Vida Consagrada e
delegado para a Causa dos Santos. “Para o Brasil, já é muito tranqüilo desde a
sua morte a questão do seu estado de santidade. Então, num processo tão longo,
o mais simples é fazer um decreto que tem a mesma validade”.
A
criatividade na evangelização é uma grande característica do novo santo,
segundo Dom Roberto. Ele lembrou que Anchieta trabalhou com educação, arte, música
e dramaturgia. Ele chegou a ter escritos em quatro línguas: latim, espanhol,
português e tupi guarani. “Ele é um grande ícone para a juventude. Teve coragem
de deixar sua pátria e veio ao Brasil por uma necessidade que havia, e veio
para evangelizar. Um grande evangelizador, educador e catequista”, ressaltou.
Vida e História
Nascido em
1534 em Tenerife, nas Ilhas Canárias, na Espanha, foi um religioso fortemente
ligado à evangelização no Brasil. Aos 14 anos, foi estudar em Coimbra, em
Portugal, e descobriu sua vocação. Em 1551, ingressou na Companhia de Jesus,
chegando ao Brasil em 1553.
Foi
ordenado sacerdote em 1556, e ocupou o cargo de superior de comunidade e
provincial de toda a missão no Brasil. Faleceu no ano de 1597, aos 63 anos, na
aldeia jesuítica de Iriritiba, atual cidade Anchieta. Foi sepultado em Vitória
(ES).
O jesuíta
atuou nos estados da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, Teve
uma grande importância na articulação da fundação da cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro, conforme expressou o postulador da causa de Anchieta, padre
Cesar Augusto dos Santos, SJ, em artigo publicado no jornal “Testemunho de Fé”.
“José de
Anchieta teve papel importantíssimo na motivação para que os índios de São
Vicente e de Piratininga ‘embarcassem’ na missão de Estácio”, disse padre César
sobre o episódio da retomada da Guanabara pelos portugueses comandados pelo
capitão-mor Estácio de Sá e a “fundação” da cidade.
A cidade
foi erigida no dia 1º de março de 1565 por Estácio de Sá, com a presença de
aliados, especialmente José de Anchieta e alguns indígenas. O local hoje é
conhecido como Urca. “O missionário, durante três meses adversos – janeiro,
fevereiro e março de 1565 – manteve o espírito combativo dos indígenas,
imprescindível para a fundação do Rio”, destacou padre César. Em 20 de janeiro
de 1567, Dia de São Sebastião, padroeiro da recém-fundada cidade, os portuguese
conseguiram vencer os últimos redutos de resistência dos franceses.