“Cristo é o centro da nossa vida, a esperança
e a certeza da ressurreição”, disse o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom
Orani João Tempesta, ao convidar os fiéis para rezar pelo descanso eterno do
jovem Paulo Sérgio, de 24 anos, que morreu para salvar um amigo, que estava se
afogando.
A Missa de Sétimo Dia, realizada na Paróquia
Sagrada Família, em Nova Holanda, no dia 6 de setembro, foi concelebrada pelo
pároco, padre Geovane Ferreira Silva, e pelo vigário episcopal para a Vida
Consagrada e delegado arquidiocesano para a Causa dos Santos, Dom Roberto
Lopes.
“Unidos aos pais, familiares e amigos,
celebramos essa Eucaristia na intenção do sétimo dia desse jovem que volta à
casa do Pai. Ao mesmo tempo que pedimos para que ele repouse na paz do Senhor,
também agradecemos pela sua vida, pelos seus exemplos”, convidou o arcebispo.
Bons exemplos
A igreja estava lotada. O clima era de
saudade, silêncio, mas a esperança e a certeza na vida eterna falavam mais
alto. Nas camisetas dos familiares e de muitos fiéis, inclusive dos jovens, a
estampa do jovem Paulo Sérgio.
“Depois de uma semana que Paulo morreu e foi
sepultado, voltamos a bendita paróquia que ele frequentava. A dor no coração
que cada um sente pela sua ausência demonstra o tanto que ele amou e foi amado.
Louvamos a Deus pelo bem que fez, pelos bons frutos que deixou na sua curta
existência neste mundo, pelos bons exemplos que marcaram a vida de tantas
pessoas”, frisou.
O ofertório foi simbólico, recordando a
caminhada de fé do jovem Paulo e seu entusiasmo pela evangelização. Sua mãe,
Lusimar Alves de Souza Oliveira, trouxe uma estampa de sua devoção, Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro. Seu pai, Paulo Sérgio Alves de Oliveira, uma
camiseta do grupo jovem Ágape, onde ele foi seu coordenador.
A celebração foi concluída com uma
apresentação dos jovens retratando o episódio em que ele deu a vida por amor,
encenada pelo próprio companheiro que foi salvo.
Também foram concelebrantes o vigário
episcopal do Vicariato Jacarepaguá e responsável na arquidiocese pela Pastoral
dos Coroinhas, cônego padre Robert Josef Chrzascz, e o padre Piero Olivero, que
exerce há muito tempo na comunidade um ministério de forma missionária e
solidária.
Esperança cristã
Na reflexão do Evangelho, Dom Orani salientou
sobre a necessidade de repetir e dar sentido a profissão de fé feita por Maria,
a irmã de Lázaro, de que Cristo é verdadeiramente a ressurreição e a vida.
“O próprio Salvador, o Filho de Deus que nós
cremos, nos revelou que a morte não é o fim, que ela não tem a última palavra.
Temos uma vida que perdura por toda a eternidade. ‘Quem crê em Mim, ainda que
tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá jamais’,
disse Jesus. É por causa dessa certeza que nós estamos aqui”, disse.
Essa mesma fé, lembrou o arcebispo, foi
trilhada por Paulo. “O que se conta sobre a sua vida de fé é um testemunho
claro de alguém que se deixa conduzir pelo Senhor. Ele foi incansável e
disponível ao Senhor, usando o tempo de sua vida, de seu trabalho, para
evangelizar, para proclamar a Palavra de Deus e levar as pessoas ao
conhecimento da verdade’, pontuou.
Exemplo para os jovens
O arcebispo recordou ainda que ninguém sabe o
dia de sua morte, a hora do retorno ao Pai. Se com pouca ou muita idade, de
doença ou por alguma circunstância drástica da vida. “O importante é estar
preparado”.
Nesse contexto, o arcebispo recordou sobre a
importância de se preparar, a exemplo de Paulo, que procurou buscar o Senhor, a
corresponder aos dons do Espírito Santo, para que as maravilhas de Deus possam
ser manifestadas ao mundo.
“A coerência da fé que Paulo viveu, dando
testemunho com sua própria vida, e que todos nós somos chamados a fazer o
mesmo, é o sinal que permanece no coração e na vida das pessoas. Um exemplo
para os jovens de que é possível buscar o Senhor, de caminhar como Igreja, de
buscar a conversão e a vida de santidade, de corresponder à graça e aos planos
de Deus”.
Na conclusão, o arcebispo rezou: “Que nosso
irmão repouse na paz, que seus sinais e exemplos permaneçam na comunidade, nos
corações e ultrapassem as fronteiras da comunidade, na certeza que a vida não
termina com a morte”.
Amigo de Deus
No final da celebração, o testemunho do padre
Geovane sobre Paulo Sérgio: “Quando fiquei sabendo do falecimento do Paulo, eu
estava em Praga, na República Tcheca. Gostaria de estar aqui, no velório, no
enterro, mas não pude. Diante da imagem do Menino Jesus de Praga, venerada na
Igreja de Nossa Senhora Vitoriosa, agradeci a Deus pela sua vida.
Conheço Paulo desde quando fez a Primeira
Eucaristia. Convivi com ele todos esses anos. Ele foi coroinha, catequizando,
cerimoniário, membro da Renovação Carismática Católica (RCC) e, por seis meses,
chegou a morar na minha casa, fazendo o processo vocacional no Instituto
Preciosa Vida, discernindo a vocação. Por fim, era o coordenador do grupo jovem
Ágape. Sempre foi um exemplo de cristão, fiel a Deus, evangelizador,
anunciador, pessoa de oração, de entrega, de doação. Ele deixou se transformar
por Deus.
Triste pela notícia, mais feliz por saber de
sua atitude: a de morrer para dar a vida pelo outro, para salvar o amigo.
Paulo nunca se permitiu perder-se na vida.
Foi alguém que viveu diante de Deus, que lutou com todas as forças na busca do
caminho da santidade, um santo. Um exemplo para os jovens de nossa paróquia,
exemplo de castidade, oração e santidade.
Ele, que viveu e trabalhou entre nós, posso
afirmar que morreu em santidade. Tenho certeza que por causa de sua morte vamos
ver muitos sinais, vamos colher muitos frutos. Ele foi e é amigo de Deus”.
Contemplando as maravilhas
de Deus
"Como proposta paroquial para trabalhar
os temas da unidade e fidelidade, os jovens do grupo Ágape se programaram para participar
de passeio turístico, realizado no dia 30 de agosto, no Morro da Urca.
Em preparação, Paulo pediu para que os jovens
rezassem três Ave-Marias durante a semana, terminando na sexta-feira, véspera
do passeio com uma adoração, conduzida por ele mesmo. Chegamos na Urca às 9h
com um grupo de 18 jovens. Depois de um teste de paciência para achar um
estacionamento, subimos com muita alegria. Paulo tirava fotos e filmava a
subida dos jovens, tendo como cenário a beleza da criação de Deus. Ele estava muito
realizado ao ver se cumprir tudo o que havia planejado. Vindo as dificuldades
já previstas, sempre havia alguém pra ajudar e um deles era o Paulo. Chegando
ao pico, fizemos uma oração belíssima e partilhamos os lanches. Na descida,
alguns reclamavam do cansaço. Paulo dizia para oferecer como penitência pelos
pecados e como sacrifício pela Igreja e pelo grupo. Confessou para mim que se
morresse naquele dia, morreria feliz por tudo o que tinha vivido naquelas
últimas horas.
No pé do morro, à espera da chegada de uma
Van, cinco jovens me pediram para dar um mergulho na Praia Vermelha, entre eles
o Paulo. Deixei ir, seria rápido. Era exatamente 13h30 e, num piscar de olhos,
vejo as pessoas correndo. Um dos jovens, o Eduardo, estava sendo retirado
desmaiado, pois havia se afogado. Paulo ainda estava na água e os salva-vidas
voltaram para procurá-lo. Perguntei o que havia acontecido, e disseram que
caíram em um buraco fundo, mesmo sendo perto da margem, que tinha sido cavado
pela ressaca do mar. Caíram Mateus Chagas e Eduardo. Quando o Paulo viu o
Eduardo se afogando, correu pra ajudá-lo, mesmo não sabendo nadar. Pegando o
Eduardo por baixo, o empurrou pra cima deixando que os salva-vidas o vissem e o
pegasse. Porém, ele mesmo caiu no buraco e não conseguiu sair, sumindo por dez
minutos, sendo encontrado depois já sem vida. No Hospital Rocha Maia, os jovens
rezavam e cantavam na esperança de vê-lo vivo, depois choraram muito. O irmão
Mateus e eu fomos liberados pra ver o corpo, que estava sereno. Rezamos e o entregamos
a Deus. Depois o levaram pra capela do hospital, enquanto os familiares
chegavam."
Irmão Tarcísio
Fonte:
Jornal Testemunho de Fé