terça-feira, 23 de setembro de 2014

"Cristo é o centro da nossa vida, a esperança e a certeza da ressurreição"

“Cristo é o centro da nossa vida, a esperança e a certeza da ressurreição”, disse o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, ao convidar os fiéis para rezar pelo descanso eterno do jovem Paulo Sérgio, de 24 anos, que morreu para salvar um amigo, que estava se afogando.
A Missa de Sétimo Dia, realizada na Paróquia Sagrada Família, em Nova Holanda, no dia 6 de setembro, foi concelebrada pelo pároco, padre Geovane Ferreira Silva, e pelo vigário episcopal para a Vida Consagrada e delegado arquidiocesano para a Causa dos Santos, Dom Roberto Lopes.
“Unidos aos pais, familiares e amigos, celebramos essa Eucaristia na intenção do sétimo dia desse jovem que volta à casa do Pai. Ao mesmo tempo que pedimos para que ele repouse na paz do Senhor, também agradecemos pela sua vida, pelos seus exemplos”, convidou o arcebispo.

Bons exemplos
A igreja estava lotada. O clima era de saudade, silêncio, mas a esperança e a certeza na vida eterna falavam mais alto. Nas camisetas dos familiares e de muitos fiéis, inclusive dos jovens, a estampa do jovem Paulo Sérgio.
“Depois de uma semana que Paulo morreu e foi sepultado, voltamos a bendita paróquia que ele frequentava. A dor no coração que cada um sente pela sua ausência demonstra o tanto que ele amou e foi amado. Louvamos a Deus pelo bem que fez, pelos bons frutos que deixou na sua curta existência neste mundo, pelos bons exemplos que marcaram a vida de tantas pessoas”, frisou.
O ofertório foi simbólico, recordando a caminhada de fé do jovem Paulo e seu entusiasmo pela evangelização. Sua mãe, Lusimar Alves de Souza Oliveira, trouxe uma estampa de sua devoção, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Seu pai, Paulo Sérgio Alves de Oliveira, uma camiseta do grupo jovem Ágape, onde ele foi seu coordenador.
A celebração foi concluída com uma apresentação dos jovens retratando o episódio em que ele deu a vida por amor, encenada pelo próprio companheiro que foi salvo.
Também foram concelebrantes o vigário episcopal do Vicariato Jacarepaguá e responsável na arquidiocese pela Pastoral dos Coroinhas, cônego padre Robert Josef Chrzascz, e o padre Piero Olivero, que exerce há muito tempo na comunidade um ministério de forma missionária e solidária.

Esperança cristã
Na reflexão do Evangelho, Dom Orani salientou sobre a necessidade de repetir e dar sentido a profissão de fé feita por Maria, a irmã de Lázaro, de que Cristo é verdadeiramente a ressurreição e a vida.
“O próprio Salvador, o Filho de Deus que nós cremos, nos revelou que a morte não é o fim, que ela não tem a última palavra. Temos uma vida que perdura por toda a eternidade. ‘Quem crê em Mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá jamais’, disse Jesus. É por causa dessa certeza que nós estamos aqui”, disse.
Essa mesma fé, lembrou o arcebispo, foi trilhada por Paulo. “O que se conta sobre a sua vida de fé é um testemunho claro de alguém que se deixa conduzir pelo Senhor. Ele foi incansável e disponível ao Senhor, usando o tempo de sua vida, de seu trabalho, para evangelizar, para proclamar a Palavra de Deus e levar as pessoas ao conhecimento da verdade’, pontuou.

Exemplo para os jovens
O arcebispo recordou ainda que ninguém sabe o dia de sua morte, a hora do retorno ao Pai. Se com pouca ou muita idade, de doença ou por alguma circunstância drástica da vida. “O importante é estar preparado”.
Nesse contexto, o arcebispo recordou sobre a importância de se preparar, a exemplo de Paulo, que procurou buscar o Senhor, a corresponder aos dons do Espírito Santo, para que as maravilhas de Deus possam ser manifestadas ao mundo.
“A coerência da fé que Paulo viveu, dando testemunho com sua própria vida, e que todos nós somos chamados a fazer o mesmo, é o sinal que permanece no coração e na vida das pessoas. Um exemplo para os jovens de que é possível buscar o Senhor, de caminhar como Igreja, de buscar a conversão e a vida de santidade, de corresponder à graça e aos planos de Deus”.
Na conclusão, o arcebispo rezou: “Que nosso irmão repouse na paz, que seus sinais e exemplos permaneçam na comunidade, nos corações e ultrapassem as fronteiras da comunidade, na certeza que a vida não termina com a morte”.

Amigo de Deus
No final da celebração, o testemunho do padre Geovane sobre Paulo Sérgio: “Quando fiquei sabendo do falecimento do Paulo, eu estava em Praga, na República Tcheca. Gostaria de estar aqui, no velório, no enterro, mas não pude. Diante da imagem do Menino Jesus de Praga, venerada na Igreja de Nossa Senhora Vitoriosa, agradeci a Deus pela sua vida.
Conheço Paulo desde quando fez a Primeira Eucaristia. Convivi com ele todos esses anos. Ele foi coroinha, catequizando, cerimoniário, membro da Renovação Carismática Católica (RCC) e, por seis meses, chegou a morar na minha casa, fazendo o processo vocacional no Instituto Preciosa Vida, discernindo a vocação. Por fim, era o coordenador do grupo jovem Ágape. Sempre foi um exemplo de cristão, fiel a Deus, evangelizador, anunciador, pessoa de oração, de entrega, de doação. Ele deixou se transformar por Deus.
Triste pela notícia, mais feliz por saber de sua atitude: a de morrer para dar a vida pelo outro, para salvar o amigo.
Paulo nunca se permitiu perder-se na vida. Foi alguém que viveu diante de Deus, que lutou com todas as forças na busca do caminho da santidade, um santo. Um exemplo para os jovens de nossa paróquia, exemplo de castidade, oração e santidade.
Ele, que viveu e trabalhou entre nós, posso afirmar que morreu em santidade. Tenho certeza que por causa de sua morte vamos ver muitos sinais, vamos colher muitos frutos. Ele foi e é amigo de Deus”.

Contemplando as maravilhas de Deus
"Como proposta paroquial para trabalhar os temas da unidade e fidelidade, os jovens do grupo Ágape se programaram para participar de passeio turístico, realizado no dia 30 de agosto, no Morro da Urca.
Em preparação, Paulo pediu para que os jovens rezassem três Ave-Marias durante a semana, terminando na sexta-feira, véspera do passeio com uma adoração, conduzida por ele mesmo. Chegamos na Urca às 9h com um grupo de 18 jovens. Depois de um teste de paciência para achar um estacionamento, subimos com muita alegria. Paulo tirava fotos e filmava a subida dos jovens, tendo como cenário a beleza da criação de Deus. Ele estava muito realizado ao ver se cumprir tudo o que havia planejado. Vindo as dificuldades já previstas, sempre havia alguém pra ajudar e um deles era o Paulo. Chegando ao pico, fizemos uma oração belíssima e partilhamos os lanches. Na descida, alguns reclamavam do cansaço. Paulo dizia para oferecer como penitência pelos pecados e como sacrifício pela Igreja e pelo grupo. Confessou para mim que se morresse naquele dia, morreria feliz por tudo o que tinha vivido naquelas últimas horas.
No pé do morro, à espera da chegada de uma Van, cinco jovens me pediram para dar um mergulho na Praia Vermelha, entre eles o Paulo. Deixei ir, seria rápido. Era exatamente 13h30 e, num piscar de olhos, vejo as pessoas correndo. Um dos jovens, o Eduardo, estava sendo retirado desmaiado, pois havia se afogado. Paulo ainda estava na água e os salva-vidas voltaram para procurá-lo. Perguntei o que havia acontecido, e disseram que caíram em um buraco fundo, mesmo sendo perto da margem, que tinha sido cavado pela ressaca do mar. Caíram Mateus Chagas e Eduardo. Quando o Paulo viu o Eduardo se afogando, correu pra ajudá-lo, mesmo não sabendo nadar. Pegando o Eduardo por baixo, o empurrou pra cima deixando que os salva-vidas o vissem e o pegasse. Porém, ele mesmo caiu no buraco e não conseguiu sair, sumindo por dez minutos, sendo encontrado depois já sem vida. No Hospital Rocha Maia, os jovens rezavam e cantavam na esperança de vê-lo vivo, depois choraram muito. O irmão Mateus e eu fomos liberados pra ver o corpo, que estava sereno. Rezamos e o entregamos a Deus. Depois o levaram pra capela do hospital, enquanto os familiares chegavam."

Irmão Tarcísio

Fonte: Jornal Testemunho de Fé