Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (17/10/2014)
A III Assembleia Geral Extraordinária do
Sínodo dos Bispos, que teve como tema “Os desafios pastorais da Família no
Contexto da Evangelização”, se conclui neste domingo com a beatificação do Papa
Paulo VI. A sua missão na Igreja foi importantíssima, pois deu continuidade ao
Concílio Vaticano II convocado pelo Papa São João XXIII e levou avante todas as
propostas conciliares.
É também significativo que nesse mesmo final
de semana celebremos o Dia Mundial das Missões, quando o tema proposto pelo Papa
Francisco é sobre a Igreja em saída. Os seminaristas do regional Leste 1 fazem
neste final de semana uma bela experiência missionária na região da Maré em
nossa arquidiocese.
A Giovanni Battista Enrico Antonio Maria
Montini, que com a sua eleição atribui-se o nome de Paulo VI, vemos neste dia
19 de outubro elevado a glória dos altares como Beato. Nascido nas proximidades
de Bréscia (Concesio), em 26 de setembro de 1897, foi ordenado presbítero em
1920 e, após estudos complementares, ingressou no serviço diplomático da Santa
Sé. Em 1923, encontrava-se empenhado na Nunciatura de Varsóvia e, em 1924,
exerceu funções no Secretariado de Estado. Até 1933, desempenhou,
concomitantemente, a tarefa de assistente espiritual na União dos Estudantes
Católicos da Itália.
Em 1937, tornou-se Montini substituto
(subsecretário de Estado), com o que passou assumiu a ser um dos mais próximos
colaboradores de Pio XII. Em 1944, assumiu a secção que trata das tarefas
(internas) reguladoras do Secretariado de Estado. Em 1º de novembro de 1954,
foi promovido para o ofício de arcebispo metropolitano de Milão. Ali se
empenhou por uma reforma da cura de almas atualizada, uma renovação litúrgica e
um contato, na medida do possível, com todos os segmentos da população,
particularmente de ir ao encontro dos que trabalhavam nas fábricas e nas
periferias industriais. Montini foi criado cardeal da Santa Igreja Romana no
primeiro Consistório do Papa João XXIII. Participou das primeiras sessões do
Concílio sob o pontificado do Papa Roncali.
Após o falecimento de João XXIII, eleito
Papa, Paulo VI foi investido no dia 30 de junho de 1963 e deu continuidade ao
Concílio, que foi por ele designada como tarefa mais importante do seu
pontificado. Além de sua preocupação com o Concílio, o Papa dedicou-se também à
reforma da Cúria Romana, à qual imprimiu caráter internacional. Em 7 de
dezembro de 1965, realizou-se a última sessão do Concílio e, em 8 de dezembro,
a festiva cerimônia de encerramento.
Logo após o Concílio, formaram-se as
comissões pós-conciliares que levaram adiante as decisões conciliares.
Significativas foram também as encíclicas do Papa: “Ecclesiam suam” (de 3 de
agosto de 1964) sobre a Igreja; “Mysterium fidei” (de 3 de setembro de 1965),
sobre a eucaristia, “Sacerdotalis coelibatus” (de 24 de junho 1967), sobre o
celibato sacerdotal. A “Humanae vitae” (de 25 de julho de 1968), sobre o
matrimônio, o amor conjugal e o controle da natalidade, suscitou discussões.
Significativa ainda foi a encíclica sobre o desenvolvimento “Populorum
progressio” (de 26 de março de 1967). Às mensagens do magistério do Papa
pertence também o “Credo do povo de Deus”, publicado em 30 de junho de 1968, no
encerramento do Ano do Fé. O seu grande documento sobre a evangelização,
“Evangelii Nuntiandi”, até hoje é citado para a missão principal da Igreja.
Muitos outros documentos podem ser citados escritos pelo Papa Paulo VI nesse
período importante de atualização da Igreja.
As relações para com a Igreja Ortodoxa, que
haviam decisivamente melhorado a partir do Concílio Vaticano II, foram
aprofundadas sob Paulo VI. O Papa teve um encontro com o patriarca ecumênico
Atenágoras I, em Jerusalém, em 1964, e em Constantinopla, em 1967. Em 7 de
dezembro de 1965, a excomunhão que fora pronunciada contra a Igreja Ortodoxa em
1054 foi solenemente revogada. Ficou evidente que Paulo VI via no diálogo um
passo essencial no caminho da unidade das Igrejas, como escreveu em livro
oportuno o Cardeal Agostinho Casarolli.
Foi o primeiro Papa dos tempos modernos a
viajar para diferentes partes do mundo: Em 1964, a Terra Santa; ao Congresso
Eucarístico realizado em Bombaim (1964) e Bogotá (1968); Fátima, em Portugal
(1967); Genebra, em 1969, e África, no mesmo ano. Em 1965, em Nova Iorque,
perante a Assembleia Geral da ONU, pronunciou um discurso muito respeitado. Em
fins de 1970, visitou o Extremo Oriente.
Em 1975 celebrou o Papa o Ano Santo, que
tinha por lema: “Reconciliação, renovação, paz”. Paulo VI morreu em 6 de agosto
de 1978. Até hoje eu me recordo quando ouvi a notícia pelo rádio indo de uma
capela rural para outra numa tarde de domingo. Ingressa na história como o Papa
que, numa época conturbada, conduziu com grande prudência a Igreja. Era
exatamente tão fiel à tradição quanto aberto a novos desenvolvimentos. Todos
sabemos de seus sofrimentos nas grandes decisões que teve que tomar. Exatamente
quando a Igreja enfrenta um tema importante como o da família, é muito
importante ver que junto com a cultura, serviço e organização, esse homem de
Deus que serviu a Igreja como Papa foi alguém que se distinguiu pela santidade
de vida, agora reconhecida oficialmente. Vemos com muita alegria a Igreja ser
servida no século 20 por pessoas santas que levaram adiante o chamado de Jesus.
Paulo VI foi um homem de Igreja que a serviu e sofreu por ela. Amando a Cristo
e a Igreja colocou as bases para a sonhada atualização sem rupturas.
Aquele que escreveu que “os homens de hoje
escutam mais as testemunhas que os mestres e se escutam os mestres é que são
testemunhas” viveu isso durante sua vida e neste final de semana a Igreja assim
o reconhece. Que o exemplo do Beato Paulo VI nos ajude a vivermos a tão sonhada
unidade em Cristo Senhor!