Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo
do Rio de Janeiro
A celebração da Solenidade de Nosso Senhor
Jesus Cristo, Rei do Universo, fecha o Ano Litúrgico. Neste período, meditamos,
sobretudo, no mistério de sua vida, sua pregação e o anúncio do Reino de Deus.
Esta festa celebra Cristo como o Rei bondoso e singelo, que como pastor guia a
sua Igreja peregrina para o Reino Celestial e lhe outorga a comunhão com este
Reino para que possa transformar o mundo no qual peregrina. Nesse final de
semana comemoramos também o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas.
Abriremos também a campanha para a evangelização: “Cristo é a nossa Paz!” Em
nossa arquidiocese iremos celebrar a segunda Festa da Unidade Arquidiocesana.
Por isso estamos esperando as forças vivas da nossa Igreja na Catedral para o
Dia da Unidade, entre 13h e 19h, com a celebração da Santa Eucaristia. Na
semana que se iniciará também iremos comemorar o Dia Nacional de Ação de
Graças. Em todas as nossas atividades deve reinar o Senhor Jesus Cristo!
Cristo Rei anuncia a Verdade e essa Verdade é
a luz que ilumina o caminho amoroso que Ele traçou com sua Via Crucis, para o
Reino de Deus. “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao
mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta minha voz.” (Jo
18, 37). Jesus nos revela sua missão reconciliadora de anunciar a verdade ante
o engano do pecado. Assim como o demônio tentou Eva com enganos e mentiras,
agora Deus mesmo se faz homem e devolve à humanidade a possibilidade de
retornar ao Reino, quando qual Cordeiro se sacrifica amorosamente na Cruz.
Durante o anúncio do Reino, Jesus nos mostra
o que este significa para nós como Salvação, Revelação e Reconciliação
ante a mentira mortal do pecado que existe no mundo. Jesus responde a Pilatos
quando pergunta se na verdade Ele é o Rei dos judeus: “Meu Reino não é deste
mundo. Se meu Reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que
não fosse entregue aos judeus. Mas meu Reino não é daqui” (Jo 18,36). Jesus não
é o Rei de um mundo de medo, mentira e pecado, Ele é o Rei do Reino de Deus que
traz e ao que nos conduz. A possibilidade de alcançar o Reino de Deus foi
estabelecida por Jesus Cristo ao nos deixar o Espírito Santo, que nos concede
as graças necessárias para obter a santidade e transformar o mundo no amor.
Essa é a missão que Jesus deixou à Igreja ao
estabelecer seu Reino. Cristo Rei foi uma das últimas celebrações instituída
pelo Papa Pio XI, na época em que o mundo passava pelo pós-guerra de 1917,
marcado pelo fascismo na Itália, pelo nazismo na Alemanha, pelo comunismo na
Rússia, pelo marxismo-ateu, pela crise econômica, pelos governos ditatoriais
que solapavam toda a Europa, pela perseguição religiosa, pelo liberalismo e
outros que levavam o mundo e o povo a afastar-se de Deus, da religião e da fé,
culminando com a 2ª Guerra Mundial. O Papa Pio XI instituiu essa festa para que
todas as coisas culminassem na plenitude em Cristo Senhor, simbolizado no que
diz o Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Ômega, Princípio e Fim de todas as coisas.”
(Ap1, 8) Ressalta a restauração e a reparação universal realizada em Cristo
Jesus, Senhor da vida e da história. Nessa festa, celebra-se também nossa
participação no Reino de Deus, sob a condição de aderirmos à verdade trazida
por Jesus, pela qual somos caminheiros que se dirigem à Casa do Pai, para
participarmos da mesa do Reino e de assumirmos o compromisso do Evangelho.
A celebração, fechando o Ano Litúrgico, traz
para nós cristãos a reflexão em torno da vida de Jesus, que significa para nós
a salvação, onde impera no mundo o pecado. Assim, Jesus Cristo sendo Rei e
Pastor do Reino de Deus que, nos tirando das trevas, nos guia e cuida
do nosso caminho para a comunhão plena com Deus Amor.
Eis, pois, caríssimos no Senhor. Celebremos
hoje a Realeza de Cristo, dispondo-nos a participar da sua cruz. Na Igreja, no
Reino de Deus, reinar é servir. Sirvamos, com Cristo, como Cristo e por amor de
Cristo! No Evangelho desta solenidade, o critério para participar do Reinado do
Senhor Jesus é tê-Lo servido nos irmãos: no pobre, no despido, no doente, no
prisioneiro, no fraco. Que Reino, o de Cristo! Manifesta-se nas coisas
pequenas, nas pequenas sementes, nos pequenos gestos, no amor dado e recebido
com pureza cada dia.
Na verdade, segundo os Santos Padres da Igreja,
o Reino de Cristo, o Reino que ele entregará ao Pai, somos nós; nós, que
fizemos como ele fez, lavando os pés do mundo e servindo ao mundo a única coisa
que realmente compensa: o amor de Cristo, a verdade de Cristo, o Evangelho de
Cristo, o exemplo de Cristo, a salvação de Cristo, a vida de Cristo para que o
mundo participe eternamente do Reino de Cristo!
Somos chamados a olhar liturgicamente o que a
Igreja nos aponta: tudo deve convergir para que Cristo Reine! Que assim ocorra
em nossas vidas, em nossas famílias, em nossas comunidades, em nossos
relacionamentos, em nosso pais. A melhor coisa que poderá ocorrer para toda a
humanidade é quando acolhermos Cristo como Rei em nossas vidas.
Por isso despojemo-nos de todo pensamento
mundano sobre reis, reinos e coroas. Fixemos nosso olhar no trono da Cruz,
naquele que ali se encontra despido e coroado de espinhos. Aprendamos com
admiração, estupor e gratidão que nossa mais gloriosa herança neste mundo é
participar do seu reinado, levando a humanidade a descobrir quão diferentes dos
nossos são os critérios de Deus. Quando aprendermos isso, quando a humanidade
aprender isso, o Reino entrará no mundo e o mundo entrará no Reino, Reino de
Cristo, “Reino de verdade e de vida, Reino de santidade e de graça, Reino da
justiça, do amor e da paz!”.