segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

É Natal

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro

“Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida” (São Leão Magno).
Vitória. Perdão. Vida. Tudo isso nos é dado porque “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). No dia 25 de março, a Igreja celebra a anunciação do Senhor e a encarnação do Verbo; nove meses depois, no dia 25 de dezembro, o Verbo encarnado nasce para que possamos ver a sua glória velada, mas real. O Menino frágil e dependente de Maria e de José é o Filho de Deus encarnado, é Ele e somente Ele quem pode dar-nos a vitória, o perdão e a vida.
Mas podemos recomeçar! O perdão de Deus se nos oferece constantemente para que, com alegria, vivamos a nossa fé. Por mais pecador que sejamos não tenhamos medo do Senhor; Ele fez-Se tão pequeno para que os pequenos deste mundo se aproximassem d’Ele com a esperança da reconciliação com Deus e com todos os homens. Nem permitiremos que alguma falta de perdão aos outros invada o nosso coração neste dia santo. Abriremos de par em par o nosso ser a Deus e a todos os homens e mulheres, máxime àqueles que estão próximos a nós. Tais pessoas merecem a nossa atenção, gratidão e estima. Lembremo-nos da oração que o Senhor nos ensinou: “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Perdoemos! Perdoemos de coração a quem nos ofendeu e sentiremos um grande alívio, uma grande paz, uma restauração que vai do mais profundo ao mais periférico do nosso ser.
Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito. N’Ele havia vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam” (Jo 1,5). A vida do Filho de Deus ilumina a vida dos filhos dos homens. Ilumina-a porque a retira das trevas do pecado e da morte. Ilumina-a porque dá sentido ao que antes estava desorientado. Ilumina-a porque dá todos os meios necessários para alcançar a felicidade já neste mundo e, depois, na eternidade. Talvez muitas pessoas considerem-se como que “jogadas aí na existência” e aí deixadas simplesmente porque não descobriram o projeto de Deus para as suas vidas. É misterioso e, ao mesmo tempo, é duro pensar que nós, seres humanos, podemos frustrar os desígnios de Deus. Foi exatamente isso que aconteceu com alguns dos contemporâneos de Jesus, fariseus e mestres da Lei, dos quais se diz que ao rejeitarem o Batismo de João e, posteriormente, o de Jesus “tornaram inútil para si mesmos o projeto de Deus” (Lc 7,30).

Eis a graça, a glória, o mistério desta noite! Por isso a alegria: o Deus fiel cumpriu o que prometera e ultrapassou toda promessa. Nesta noite tão santa, tão única, tão cheia de frescor, como são comoventes as palavras do apóstolo na segunda leitura. Olhem o presépio e escutem, olhem a manjedoura e prestem atenção: “A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade”. Olhem o presépio! Olhem o presépio: a graça de Deus é uma Criança, o Menino que nos foi dado! A graça de Deus está “envolvida em faixas e deitada numa manjedoura”. Que graça pequeninha; que graça tão grande! Que graça tão frágil; que graça tão forte! Quem é tão duro de coração, que não se comova? Quem é tão desumano, que não se emocione? Quem é tão pecador, que não queira aproximar-se de Deus? Quem é tão insensível, que não sinta, nesta noite, o desejo de amar, o desejo de ser bom, o desejo de paz, o desejo de se deixar abraçar por Deus? “Não tenhas medo!” Quem quer que sejas tu: não temas! Não tenhas receio pelos teus pecados, não te afastes da graça desta noite por causa das tuas infidelidades! Compreende: hoje, teu Deus vem a ti! Vem a ti a Paz, vem a ti o Perdão, vem a ti a misericórdia, vem a ti a plenitude do teu coração e o sonho da tua vida! Hoje nasceu para ti, para nós, um Salvador!
Não tornaremos inútil o projeto de Deus para nós. Ao participarmos das celebrações da Igreja durante esses dias solenes, aproximar-nos-emos do presépio humilde de Belém e diremos ao Senhor que a sua vida encha a nossa vida, que o nosso amor encha o nosso coração e que nas nossas vidas se cumpram os eternos desígnios da Santíssima Trindade. Maria, a Mãe de Jesus, está segurando o Menino Jesus nos seus braços e quer deixar que também nós tenhamos em nossos braços o divino Salvador. Ela sabe que só Ele tem a chave para todos os mistérios da nossa vida. Jesus, sendo verdadeiro Deus, é também o verdadeiro homem que mostra em si mesmo como deve ser a pessoa humana segundo os projetos eternos. Feliz Natal para todos e que o Menino Deus ilumine nossos caminhos!