quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Cinzas e conversão

Com a quarta-feira de cinzas iniciamos um tempo de conversão quaresmal rumo à Páscoa quando deveremos renovar as promessas batismais iniciando um novo tempo em nossas vidas. Ao recebermos as cinzas significamos que estamos dispostos a aproveitar para dar passos na vida de conversão. “Convertei-vos e crede no Evangelho” é o texto mais utilizado nesse dia. Porém, um outro, mais antigo ainda é uma possibilidade, embora sejam palavras duras, mas sem dúvida, reais!
“Lembra-te, homem, que és pó, e em pó retornarás!” (Gen 3, 19b). É uma das passagens bíblicas que são lembradas neste dia das Cinzas. Cinzas enquanto a Ressurreição não nos restaurar em Jesus Cristo, o novo Adão. Daí não ser motivo de desesperança frente a tantos sofrimentos e violências. Tenhamos cabeça e coração regenerados pela penitência para sermos testemunhas vivas da paz transbordante da cruz que não é mais morte, mas vida plena.
Tudo nos adverte da vaidade com que presumimos ser sem termos Deus no coração. O nosso corpo volta ao pó recordando a nossa criação, porém com a presença de Deus, e unidos a Ele, temos a plenitude de vida, no “já e o ainda não”. Não temos o direito de afogarmo-nos no desespero, pois temos o dever de juntos buscarmos novos canais e esperar, ativamente como cristãos autênticos promotores de vida, de esperança e de paz. Tempo de esperança e paz! São os temas do ano em que vivemos! Eis um qualificativo necessário em nosso mundo hoje, homens e mulheres de esperança, eis a minha, a sua e a nossa missão. Procuremos semear e ser testemunhas da esperança e mantê-la viva no coração de nossas cidades. Tempo de verdade profunda, que converte, restitui esperança e, levando a repor tudo no seu lugar, traz serenidade e faz nascer otimismo. Eis o tempo privilegiado da quaresma que somos chamados a viver!

Somos destinados a ter parte no Cristo à vida de Deus: filhos no Filho. Com alegria de Pastor renovamos sempre este momento de oração e de exercícios espirituais, celebração penitencial, jejum, abstinência, lectio divina mais intensa, e esmola à luz da Palavra de Deus ao retornar a Cristo Nosso Senhor reconciliando-nos com Deus. Aproveitaremos também para numa reflexão espiritual e pastoral entre amigos e irmãos refletirmos sobre as questões sociais trazidas pela Campanha da Fraternidade: Igreja e Sociedade questionando-nos se realmente vivemos para servir o próximo. Sem a fé e a esperança a nossa caridade seria apenas “um címbalo que retine”, ou seja, sem a oração e reflexão, por meio da qual procuramos manter-nos unidos a Deus. Eis o momento propício de encarnarmos em nossas vidas a figura emblemática do Bom Samaritano, que para no caminho, reconhece o irmão e coloca o seu tempo e bens ao serviço, numa partilha diária. O Bom Samaritano é a Igreja, é cada um de nós; por vocação e por dever. O Papa Francisco não se cansa de anunciar que a Igreja deve ser “samaritana”. Para isso necessitamos de conversão qu enoa leve a servir os irmãos. O Bom Samaritano vive a caridade.
O Apóstolo Paulo nos diz no texto da quarta-feira de cinzas que “somos embaixadores ao serviço de Cristo” (2 Cor 5,20). Eis aí a nossa responsabilidade. Somos enviados ao encontro dos outros, ao encontro dos nossos irmãos. Correspondamos generosamente a esta confiança que Cristo depositou em cada um de nós.
Devemos ir ao encontro do outro como ao Cristo que vem até nós, e Ele vem às vezes desfigurado pelo pecado, mas confia em nosso acolhimento e abraço sem interesse. “O verdadeiro discípulo de Cristo se distingue tanto pelo amor de Deus como pelo amor do próximo… todos os fiéis cristãos são, pois, convidados e obrigados a procurar a santidade e a perfeição do próprio Estado”. Pois “os que usam deste mundo não se fixem nele, pois passa a aparência deste mundo”. Árduo o esforço para alcançar vitória sobre as paixões desordenadas. Entre essas paixões estão o ódio e a vingança, que jamais poderão medrar um discípulo de Jesus Cristo.
Reflitamos como temos caminhado em nossa vida cristã de serviço desinteressado aos irmãos e irmãs, sobre como nos temos comportado a respeito. E se a consciência nos acusar alguma injustiça escutemos com o coração aberto “convertei-vos e crede no Evangelho renovando o coração e o comportamento. “Reconciliai-vos com Deus, eis o tempo favorável”.
O cristão, de fato, chamado pela Igreja à oração, à penitência e ao jejum, ao despojamento de si mesmo, interior e exterior, ao pôr-se diante de Deus, reconhece-se e redescobre-se a si mesmo. As cinzas que recebemos na quarta feira, nos levam a pensar na seriedade da nossa conversão e é um primeiro sinal externo dela. Vivamos estes quarenta dias de penitência e de conversão como sinal de esperança na vida futura, a vida das bem aventuranças do céu. A graça de Jesus, nosso Senhor, nos dê a coragem de seguir o caminho que leva a Deus e nos afaste de todo pecado e nos conduza à vida.

Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/684/cinzas-e-conversao