Francisco aponta leigos como
‘apóstolos dos bairros’
“Os leigos são chamados a
viver um humilde protagonismo na Igreja e tornar-se fermento de vida cristã
para toda a cidade”
“Encontrar Deus no coração da cidade –
cenário de evangelização para o terceiro milênio” – foi o tema da 27ª
Assembleia Plenária do Conselho Pontifício para os Leigos, realizado de 5 a 7
de fevereiro, no Vaticano.
Segundo a ONU, desde 2007 a população urbana
superou a rural e em 2050 mais de 70% da população mundial viverá em centros
urbanos. Trata-se de um fenômeno sem precedentes na história da humanidade.
Através da programação, os participantes
discutiram este complexo e gigantesco processo com os olhos da fé. A cidade
moderna e secularizada, com suas conquistas tecnológicas, tende a colocar Deus
no banco de reservas, reduzindo a fé a um mero fato privado.
Os olhares dos participantes da assembleia
foram dirigidos às numerosas periferias geográficas e existenciais que sacodem
a Igreja e a impelem, hoje mais do que nunca, na direção de uma conversão
missionária e pastoral para que se torne numa Igreja em saída, habitada por uma
salutar inquietude por Deus e pelo homem.
Cidadãos responsáveis
Na abertura do encontro, que refletiu sobre a
questão da urbanização, fenômeno que desperta um crescente interesse no
magistério ordinário da Igreja, o presidente do Pontifício Conselho para os
Leigos, Cardeal Stanislaw Rylko, destacou sobre a utopia da cidade na visão do
Papa Francisco.
“O projeto de Francisco para a cidade é o de
transformar todos os cidadãos em uma aldeia. Habitantes de nossas megalópoles
urbanas, eles são um conjunto orgânico de ‘cidadãos responsáveis’. Sujeitos
coletivos capazes de gerar seus próprios processos históricos”, disse o
cardeal.
A sede de Deus dos pobres
O segundo dia caracterizou-se pela
intervenção do arcebispo de Manila, Cardeal Luis Antonio Tagle, que falou sobre
a sede de Deus que caracteriza os ‘desertos urbanos’, e ressaltou que esta é
principalmente a busca de uma nova mediação da relação com Deus, buscando
comunhão e pertença e a procura pela vida.
A partir da realidade das megalópoles
asiáticas, lembrou das milhares de pessoas que passam fome de pertença, e que a
Igreja é chamada a dar uma resposta. Destacou a importância de descobrir o
valor da vida e da fé de cada um, reforçando que a partilha com os mais fracos
é uma fonte de renovada vida cristã.
Também houve mesa-redonda sobre o tema “Dar
uma alma à cidade: o sentido e o prazer de ser povo”. Houve discussão, sobre
paróquia como comunidade de comunidades, e a questão de encontrar uma nova
estética arquitetônica e artística na construção de novas igrejas.
Missão na cidade
No dia 7 de fevereiro, foi o momento dos testemunhos
sobre “missão na cidade”, seguido de audiência com o Papa Francisco. Na parte
da tarde, destaque para o relatório do secretário do dicastério, Dom Josef
Clemens, fazendo um balanço e apresentando propostas para o futuro. Os
trabalhos foram concluídos com a celebração eucarística, presidida pelo Cardeal
Rylko.
Formação dos leigos
Na audiência que teve com os participantes da
Assembleia plenária do Pontifício Conselho para os Leigos, o Papa Francisco
exaltou os leigos a não terem medo de ir ao encontro dos homens da cidade,
local de cidadãos e de não cidadãos, onde Deus continua presente.
“Deus continua a estar presente nas cidades
frenéticas e distraídas”, disse o Papa. Elas são locais de grandes
oportunidades e grandes riscos, “um terreno de apostolado mais fértil do que
tantas vezes se imagina”.
“Deus não abandonou a cidade: Ele habita na
cidade”, lembrou o Papa, porque “acompanha a procura sincera das pessoas e dos
grupos para encontrar apoio e sentido às suas vidas”.
Nesse contexto, o Papa destacou a importância
de “cuidar da formação dos leigos para que vejam a cidade com os olhos de Deus,
capazes de propor o coração do Evangelho, a serem apóstolos dos bairros”.
Uma cidade de paz
“O trabalho da Igreja faz com que as pessoas
que moram nas cidades se sintam fraternas, irmãs umas das outras, de tal
maneira que esse povo, que é povo de Deus, possa transformar a cidade em uma
cidade de paz”, disse o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta,
que participou pela primeira vez da Assembleia Plenária, como membro do
dicastério, que começou a fazer parte logo após o anúncio de sua nomeação
cardinalícia.
“É um grande desafio falar hoje a linguagem
do homem moderno, que vive nas grandes cidades, e fazer com que as pessoas
possam se encontrar com Jesus Cristo e com o outro também, de tal maneira que
se caminhe em comunhão”, reforçou o cardeal.
Dom Orani falou que o projeto do Papa
Francisco para as cidades tem muito a ver com o Rio de Janeiro, que tem sua
própria realidade, onde a periferia está dentro da cidade.
“Sair do centro para as periferias significa
ir ao encontro das pessoas, ao encontro de quem procura um sentido para a
própria vida. Às vezes são questões fundamentais, da própria existência. O
importante é a presença da Igreja em todos os ambientes, anunciando a boa nova
do Evangelho, despertando a esperança na vida e na caminhada das pessoas”,
reforçou.
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/2989/encontrar-deus-no-coracao-da-cidade