“O
grande serviço que a vida consagrada presta à Igreja é a própria vida em
comunidade, ou seja, em nossas casas, missões e trabalhos poderíamos colocar um
objetivo especial neste ano: a vida em fraternidade vivida com carinho, sem
isolamentos, cheia de atitudes de atenção e delicadeza...”, expressou, em
mensagem, o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani João Tempesta.
Em
Carta Pastoral para o Ano da Vida Consagrada, proclamado pelo papa Francisco
para o período de 30 de novembro de 2014 a 2 de fevereiro de 2016, dom Orani
agradece aos consagrados e consagradas que dedicam suas vidas à missão da
Igreja no Brasil.
O
Dia Mundial da Vida Consagrada comemorado hoje, 2 de fevereiro, foi instituído
por São João Paulo II em 1997. A data tem por objetivo celebrar a vida de
homens e mulheres que consagraram suas vidas a Deus por meio dos votos de
pobreza, obediência e castidade.
Confira a íntegra da
mensagem:
GRATIDÃO,
PAIXÃO, ALEGRIA E ESPERANÇA
Carta
Pastoral do Cardeal Orani João Tempesta
para
o Ano da Vida Consagrada
Aos irmãos e irmãs no
Deus que a todos ama,
Aos sacerdotes, diáconos e
consagrados,
Aos irmãos bispos auxiliares,
que tanto me auxiliam na
minha missão na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Queridos Consagrados e
Consagradas
1.
A Alegria do Evangelho enche o meu coração de pastor neste ano tão especial
para nós, religiosos, que encontramos o Cristo pobre, casto e obediente e que,
de acordo com nossas regras e constituições, nos impulsiona para viver com
generosidade cada instante de nossas vidas. Que neste tempo de graça e
salvação, no encontro diário com nosso Mestre e Senhor, renasça sem cessar, em
cada um de nós, a paixão, a alegria e a esperança[1].
2.
Queremos, com o Papa Francisco, dar graças ao Pai, ao Filho, através de nossa
plena adesão ao seu Evangelho e do serviço à sua Igreja e, de igual modo,
bendizemos o Espírito Santo que nos plenifica de alegria e nos torna
testemunhas do seu amor e da sua misericórdia neste belo Ano da Vida
Consagrada, que teve início no último dia 30 de novembro de 2014, I Domingo do
Advento, e terminará com a Festa da Apresentação de Jesus no Templo, em 02 de
fevereiro de 2016. Sabemos que esta celebração, traduzida pelo povo como de
Nossa Senhora das Candeias, sempre foi uma data em que grande parte dos
religiosos e religiosas emitia seus votos de consagração. Eu mesmo me recordo
dessa data com muito carinho, que marcou os meus primeiros e, mais tarde,
definitivos votos.
3.
Unimo-nos ao Papa Francisco, aos consagrados e consagradas, assim como à
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e às Sociedades de Vida
Apostólica, e juntos, louvamos a Deus pela proclamação de um Ano para a Vida
Consagrada [2], por ocasião do quinquagésimo aniversário da Constituição
Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja que, no capítulo VI, trata dos
religiosos, bem como do Decreto Conciliar Perfectae Caritatis, sobre a
renovação da vida religiosa.
4.
Este ano proclamado pelo Papa Francisco em sua Carta Apostólica “Às pessoas
Consagradas” deverá ser uma ocasião para um aprofundamento da Vida Consagrada
na Igreja. É importante refletir sobre alguns temas do Evangelho, Profecia e
Esperança! Isso tudo nos convida a um tempo de meditação e atitudes concretas,
agradecendo pelo dom da vida religiosa e outras formas de vida consagrada em
nossa Arquidiocese, em sua história marcada por esta presença desde os inícios
e ainda hoje, nos atuais desafios da “mudança de época” cultural.
5.
Este tempo é uma oportunidade de testemunharmos a possibilidade da construção
da paz em nosso país (Ano da Paz proclamado pela CNBB), e de alimentar a esperança
em tempos novos (Ano da Esperança na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de
Janeiro) sempre tendo Cristo, nossa paz, como razão e fundamento de nossa
esperança. Ao fazer memória da história dessa “Cidade Maravilhosa” em seus 450
anos atualmente celebrados, vemos com muita alegria a presença da vida
consagrada desde o início no anúncio de Cristo, levando as pessoas à fé e
contribuindo na construção de uma cultura de paz, educando gerações de cristãos
nos valores da vida humana.
6.
A vivência do Cristo pobre, casto e obediente deve ser sempre possibilitadora
de liberdade interior e exterior para atitudes de evangélica radicalidade na
direção da paz e, com isso, suscitar esperança nos corações de quem sofre. A
consagração manifesta-se no testemunho pessoal e comunitário. Tal realidade em
nossos dias, tão marcados por perplexidades, é um sinal fecundo de paz e de
esperança. Que cada consagrado faça de sua vida um exemplo forte de sonho e
ação pela paz, num caminhar sempre pautado na esperança.
7.
Seguindo fielmente o ensinamento do Papa Francisco, e em plena comunhão com o
Magistério de São João Paulo II, repetimos a orientação da Exortação Apostólica
pós-sinodal Vita Consecrata: “Vós não tendes apenas uma história gloriosa para
recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai para o futuro,
para o qual vos projeta o Espírito a fim de realizar convosco ainda coisas
maiores”. [3] E é com perspectiva de futuro que olho esta oportunidade que se
delineia a nossa frente nesta região metropolitana, que é uma verdadeira
vitrine para o mundo.
Objetivos
do Ano da Vida Consagrada em nossa Arquidiocese
8.
Um importante objetivo do Ano da Vida Consagrada em nossa Arquidiocese de São
Sebastião do Rio de Janeiro é, também, um convite a contemplar com gratidão o
passado, isto é, um olhar atento e profundo, cheio de ação de graças e alegria
para cada um dos nossos Institutos, de onde provém toda aquela rica história
carismática. Neste ano, somos convidados a retornar para as nossas origens, o
carisma fundacional, onde está presente a ação de Deus que, no seu Espírito,
chama, na perspectiva de um carisma específico, algumas pessoas a encontrarem e
seguirem de perto a Jesus Cristo, traduzindo o Evangelho numa forma particular
de vida, lendo, assim, com os olhos da fé, os sinais dos tempos e dando de
forma criativa uma resposta às necessidades da Igreja.
9.
Neste ano, é fundamental que cada família religiosa recorde o seu carisma, os
seus inícios e o seu desenvolvimento histórico, isto é, usando a imagem do Papa
Francisco, olhar como a semente se tornou uma árvore, alargando seus ramos.
Este ano tem por primeiro objetivo, portanto, um gesto de gratidão a Deus que,
deste modo, ofereceu à Igreja tantos dons que a torna bela, fecunda e
habilitada para toda boa obra.[4]
10.
Rever a própria história é indispensável para manter viva a identidade e também
fomentar a unidade da família religiosa e o sentido de pertença dos seus
membros. Isto não é o cultivo de inúteis nostalgias, mas da retomada do caminho
das gerações passadas para nele buscar a fonte inspiradora, os ideais, os
projetos, os valores que moveram todo o caminho percorrido, desde os
fundadores, as fundadoras e as primeiras comunidades, unindo aos passos dados
até os dias de hoje.
11.
Essa gratidão é uma tomada de consciência de como foi vivido o carisma ao longo
do tempo e da história, que criatividade foi inspiradora para que dificuldades
e desafios fossem enfrentados e como foram superados. Essa consciência poderá
apontar as incoerências, fruto das fraquezas humanas, e até mesmo do
esquecimento de alguns aspectos essenciais do carisma.
12.
Fazer memória, além de nos ajudar a buscar as raízes de nossas vocações, é
também um grande impulso para viver o carisma fundacional nos desafios próprios
de nossos tempos. Diante de uma sociedade que se esfacela e é inundada de
injustiças, violências e desigualdades, a vida consagrada é desafiada a
encontrar seu espaço e lugar para poder servir ao povo de Deus, levando-o ao
encontro com o Cristo Senhor Ressuscitado.
13.
Que este Ano da Vida Consagrada seja ocasião para confessar, com gratidão,
humildade e confiança em Deus, que é amor[5], a própria fragilidade e como ela
é ocasião para viver a experiência da reconciliação e do amor misericordioso do
Senhor. Sempre é tempo de recomeçar ou de incrementar ainda mais a nossa missão
que se inicia, acima de tudo, pelo “ser”, antes do que pelo “fazer”. Somos
chamados a ser testemunhas de unidade, comunhão, vida fraterna e,
principalmente, de entrega ao Senhor no carisma específico, em comunhão com a
Igreja particular onde estamos inseridos.
14.
Outro objetivo deste Ano da Vida Consagrada é o convite feito pelo Papa a viver
com paixão o presente. Isso mesmo! Paixão é a palavra que somos impelidos a
viver. A lembrança cheia de gratidão do passado nos impele a uma escuta orante,
atenta àquilo que o Espírito diz hoje à Igreja, para que possamos implementar,
de maneira ainda mais profunda, aspectos fundamentais da nossa vida consagrada.
Saber ver os sinais dos tempos e viver com alegria o carisma a que fomos
chamados nos faz perceber que, diante da crise do mundo hodierno, esta é a
oportunidade de anunciarmos ainda mais o caminho da vida e salvação em Jesus
Cristo Nosso Senhor, e isso com atitudes concretas.
15.
Desde os inícios do monaquismo, tanto no Oriente quanto no Ocidente, até hoje
nas “Novas Comunidades” também presentes em nossa Igreja Particular, cada forma
de vida consagrada nasce do apelo do Espírito Santo que move e suscita o
seguimento a Jesus Cristo, segundo o ensinamento de sua Palavra.[6] Para os
fundadores e fundadoras, a regra em absoluto é o Evangelho; qualquer outra
regra de vida é o reflexo, a expressão do Evangelho e instrumento para vivê-lo
em plenitude. O nosso ideal é Cristo, assim, devemos aderir inteiramente a Ele,
dizendo como São Paulo: “Para mim, de fato, o viver é Cristo”[7]. Os votos só
têm sentido se contribuem para implementar este amor apaixonado. É justamente
nesta paixão pela Boa Nova da Salvação, isto é, no seguimento radical de Cristo
pobre, obediente e casto que a nossa consagração recebe o seu incremento e
entusiasmo.
16.
Lembremo-nos de quantos irmãos e irmãs nossos deram com alegria suas vidas para
a causa do Reino de Deus! Quantos mártires em nossos institutos! Quanta
disponibilidade que testemunhamos! Seria muito interessante neste ano fazer vir
à tona estes sinais em nossas comunidades para que, tanto os jovens quanto os
mais antigos possamos ver e atualizar o entusiasmo pelo dom que recebemos e
pela vida que somos chamados a entregar em cada momento.
17.
Por isso, algumas perguntas devem nos inquietar nesta Ano da Vida Consagrada:
“Deixamo-nos ser interpelados pelo Evangelho? Como? A Palavra de Cristo é
verdadeiramente uma referência para a vida diária e para as ações e opções que
somos chamados a fazer?” Isso é realmente exigente e deve ser vivido com
radical sinceridade. Jesus pede para pôr sua Palavra em prática e não somente
lê-la ou apenas meditá-la, mas sim vivê-la com alegria.
18.
Portanto, segundo o Papa Francisco, viver com paixão o presente significa
tornar-se “peritos em comunhão”, tema este muito citado em diversos documentos
do Magistério. Isso significa que, numa sociedade marcada pelo conflito, a
convivência difícil entre culturas diversas, a prepotência em relação aos mais
fracos e as desigualdades, somos chamados a oferecer um modelo concreto,
visível, palpável de comunidade/comunhão de vida, mediante o reconhecimento da
dignidade de cada pessoa e a partilha do dom que cada um possui. Isso nos
permite viver relações fraternas, isto é, somos chamados a experimentar o
milagre da unidade na pluralidade. Viver alegremente a vida de comunidade pode
ser motivo de testemunho para as novas gerações que desejam assumir um modo
radical de vida evangélica.
19.
O grande serviço que a vida consagrada presta à Igreja é a própria vida em
comunidade, ou seja, em nossas casas, missões e trabalhos poderíamos colocar um
objetivo especial neste ano: a vida em fraternidade vivida com carinho, sem
isolamentos, cheia de atitudes de atenção e delicadeza, sobretudo com os
doentes e idosos; uma fraternidade amorosa e efetiva capaz de unir sempre mais
a comunidade para viver seus grandes ideais com generosidade e alegria. Seria
muito importante que o mundo de hoje pudesse reconhecer no cotidiano de nossas comunidades
o “vede como se amam”! Esse testemunho também animará muitos jovens a seguirem
esse carisma com o coração aquecido pelos ideais da radicalidade da
consagração.
20.
Como cariocas, (os aqui nascidos ou os que para cá viemos) assumimos a vida e
cultura dessa grande metrópole e não podemos deixar de mencionar um carisma
natural que perpassa o nosso povo brasileiro e que encontra nessas terras
fluminenses grande eco: a alegria. Não foi coincidência o Documento de
Aparecida usar a expressão “Alegres discípulos-missionários”[8]. O núcleo da
Exortação Apostólica Evanglii Gaudium do Papa Francisco, que participou da
elaboração do Documento de Aparecida quando ainda Cardeal, fala-nos com
vitalidade surpreendente da alegria. Ele narra, em sua Exortação, a parábola da
alegria, dizendo-nos do encontro com Jesus, que acende em nós a beleza
original, aquela do rosto sobre o qual resplandece a glória do Pai[9], no fruto
da alegria. Como não esquecemos também as palavras de nosso saudoso Papa São
João Paulo II, que nos alertou através da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita
Consecrata: “O primado de Deus é plenitude de sentido e de alegria para a vida
humana, pois o homem está feito para Deus e inquieto até encontrar n’Ele a
paz”. [10] A alegria supõe a gratidão e a paixão, bem como a esperança. A carta
circular da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades
de Vida Apostólica, que abriu o Ano da Vida Consagrada, foi justamente sobre
esse tema: “Alegrai-vos”!
21.
Outro objetivo que se pretende neste Ano da Vida Consagrada é abraçar com
esperança o futuro, diante dos desafios e das dificuldades que enfrenta a vida
consagrada: em alguns casos a diminuição das vocações, em outros o
envelhecimento dos(as) consagrados(as), às vezes o desânimo devido a divisões
internas, dificuldades em perdoar e conviver uns com os outros, levando tantos
irmãos e irmãs a procurarem outros caminhos. Além disso, em face dos atuais
problemas econômicos na sequência da grave crise financeira mundial, na globalização,
além das insídias do relativismo, a marginalização e a irrelevância social
(...), é que se atualiza a potência de nossa esperança, que continua a nos
fazer repetir as Palavras do Senhor: “Não tenhas medo (...), pois estou
contigo”. [11]
22.
O Papa Francisco é muito claro para todos nós e nos exorta que a esperança de
que falamos não se funda sobre números ou sobre obras, mas sobre Aquele em quem
pusemos a nossa confiança[12] e para quem “nada é impossível”. [13] Esta é a
esperança que não decepciona[14] e que permitirá à vida consagrada continuar a
escrever uma grande história no futuro, para o qual se deve voltar o nosso
olhar, cientes de que é para Ele que nos impele o Espírito Santo, a fim de
continuar a fazer conosco grandes coisas.
Novos
Horizontes
23.
Como pastor, espero, particularmente neste Ano da Vida Consagrada, contemplar
novos horizontes: crescimento espiritual, disponibilidade para servir e
cooperar com a Igreja local onde estão inseridos, bem como a alegria no viver,
pois desejo que entre nós não se vejam rostos tristes, pessoas desgostosas e
insatisfeitas. Numa sociedade que ostenta o culto da eficiência, da saúde, do
sucesso e que marginaliza os pobres e excluídos, os “perdedores”, podemos
testemunhar, através da nossa vida, a verdade destas palavras da Escritura:
“Quando sou fraco, então é que sou forte. ”[15] Sem dúvida que será o grande
desafio de construir uma sociedade de paz, caminhando na esperança nesta cidade
bela, porém cheia de divisões e injustiças.
24.
Aplicamos à Vida Consagrada, portanto, o que o Papa Francisco escreveu na
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, citando uma homilia do Papa Bento XVI:
“A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração”. [16] A Vida Consagrada
não cresce, não alarga seus horizontes se apenas organizarmos belas campanhas
vocacionais, mas se as jovens e os jovens que nos encontram sentirem-se
atraídos por nosso entusiasmo, se nos virem como homens e mulheres felizes!
Deste modo, é o nosso testemunho que deve falar, uma vida na qual transparecem
a alegria e a beleza de viver o Evangelho e seguir a Cristo. Lembremo-nos de
Paulo VI na Evangelii Nuntiandi: “Os homens de hoje escutam mais as testemunhas
que os mestres; e se escutam os mestres é porque são testemunhas”.
25.
Vivemos em uma bela e importante cidade, porém cheia de injustiças, violências
e muitos problemas culturais e sociais. A Igreja que está no Rio de Janeiro
quer contar ainda mais com os carismas da vida consagrada para ser uma presença
“próxima” de tantos irmãos e irmãs que sofrem com a marginalização e o
empobrecimento. São inumeráveis necessidades que existem e às quais temos dado
algumas respostas que nos animam e encorajam. Mas a “messe é grande”! Há muitas
pessoas, mulheres e homens, jovens e crianças, idosos e solitários, que
aguardam nossa fidelidade ao mandato de Cristo e sofrem por causa da
desnutrição, do desemprego, pela exclusão social e, além disso, inseridos em
realidades em que a atividade criminosa violenta e armada ceifa vidas aos seus
entes queridos. É imensa a missão na grande cidade! Vivendo o carisma e abrindo
os corações para os necessitados de carinho e atenção, nós mesmos cresceremos
em nossa vida consagrada e em nossa alegria ao encontrar Cristo na “carne do
pobre”, como bem nos recorda o Papa Francisco. A presença de tantos irmãos e
irmãs que fazem a Igreja presente em situações difíceis é uma realidade que
agradecemos e incentivamos. No meio deste mundo dividido e em ruptura somos
chamados a ser testemunhas do Amor e da Reconciliação, fazendo a partir desse
Amor, uma opção concreta por Cristo presente nesses irmãos e irmãs. Assim
responderemos, a partir de Cristo, a um sistema econômico que coloca os
benefícios antes do homem, de uma cultura que descarta o ser humano como “um
bem de consumo”, antes do que promover a sua dignidade de pessoa.
26.
Outro ponto importante a ser contemplado, que é fundamental em nosso contexto
eclesial, e que alargará os nossos horizontes neste Ano da Vida Consagrada, é
que espero ver crescer a comunhão entre os membros dos diferentes Institutos de
Vida Consagrada, bem como das “Novas Comunidades”. Não poderia ser este ano
melhor ocasião de sair, com maior coragem, das fronteiras do próprio Instituto
ou “Nova Comunidade”, para se elaborar em conjunto, a nível Arquidiocesano,
projetos comuns de formação, de evangelização, de intervenções sociais,
podendo, assim, oferecer a toda a nossa Igreja Particular, de forma mais
eficaz, um real testemunho profético. A comunhão e o encontro entre os
diferentes carismas e vocações é um caminho de esperança. A unidade é uma
característica imprescindível para podermos evangelizar. E cada Instituto ou
Comunidade tem muito a partilhar e a receber um do outro. A unidade na
diversidade para que o “mundo creia” e, assim, possamos desvelar ao nosso povo
que “Deus habita nesta cidade”. A cultura do diálogo que desejamos para todos
os atores desta metrópole deve começar conosco, em nossas vidas e missões.
27.
Um tema muito caro em minha formação religiosa e que procurei colocar em
prática em minha vida é o “sentir com a Igreja”. Quem tem São Bernardo como um
grande monge e, ao mesmo tempo, um homem do seu tempo e preocupado com todas as
situações de sua época, sabe a importância de vivermos o carisma e, ao mesmo
tempo, com os pés na realidade, permanecermos unidos e “sentindo” com a Igreja
local, seus sonhos, suas dificuldades e suas soluções. São muitas comunidades
que assim vivem, mas temos necessidade de incrementar ainda mais tal realidade.
Os tempos são difíceis para todos e a unidade entre nós é um dos sinais da
presença da Igreja aqui nestas terras. Convido a todos para trazerem seus
carismas para a missão em terras cariocas e compartilhar de nossos anseios e
buscas, unidos dentro de uma caminhada Arquidiocesana. Juntos, sob a ação do
Espírito Santo, chegaremos mais longe em nossa missão!
28.
O Papa Francisco aqui no Rio de Janeiro, durante a Jornada Mundial da
Juventude, desafiou-nos a uma missionariedade que aplico no contexto atual do
Ano da Vida Consagrada e, por isso, exorto também a todos a sair de si mesmos
para ir às periferias existenciais: “Ide por todo mundo”.[17] Não nos fechemos
em nós mesmos, não vos deixeis asfixiar por pequenas brigas de casa, não
fiquemos prisioneiros de nossos problemas. Estes serão resolvidos se sairmos
para ajudar os outros a resolverem os seus problemas, anunciando-lhes a Boa
Nova. Encontraremos a vida ofertando nossa própria, a esperança dando a
esperança, o amor amando. Ao olhar o vasto horizonte e a grande missão que nos
espera, com Cristo, abertos ao Espírito Santo, saberemos superar nossas dificuldades
e os conflitos diários.
29.
Deste modo, caros consagrados e consagradas, sempre com ardor renovado, somos
impelidos através de nosso chamado a Evangelizar, tornando-nos arautos da
Palavra de Deus, onde quer que exerçamos nossa missão. Começando com o
testemunho e vivendo o carisma, somos chamados a dar as razões de nossa fé.
Este ímpeto evangelizador deve ser forte em nossos corações! Contudo, devemos
cuidar, como alertou o Papa Francisco, para não cairmos no “martalismo” (que
vem de Marta), ou seja, aqueles que mergulham no trabalho descuidando da melhor
parte, que é sentar-se aos pés de Jesus [18]. Portanto, a máxima beneditina se
faz necessária, em nossa vida, “Reza e trabalha”[19]; evangeliza, anuncia com a
Palavra por meio de uma catequese eficiente e adaptada às exigências de hoje,
entretanto, sem descuidar do dever da oração, que sustenta e dá pleno sentido a
toda e qualquer ação evangelizadora.
11º.
Plano de Pastoral de Conjunto
30.
O Ano da Vida Consagrada em nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de
Janeiro está em conformidade com o que nos indicou o Objetivo Geral de nosso
11º. Plano de Pastoral de Conjunto, isto é, sermos uma Igreja que anuncia e
reanuncia Jesus Cristo, que não se cansa de anunciá-Lo, sendo uma rede de
Institutos e Comunidades, procurando uma sinergia sincera e viver a comunhão
entre todas as vocações na Igreja, a começar pelos presbíteros e os leigos, a
fim de fazer crescer a espiritualidade de comunhão nos diversos serviços e
ministérios, em permanente estado de missão, a serviço da vida em todas a suas
instâncias.[20] Este ano, dentro de nosso planejamento pastoral, vivemos o Ano
da Esperança! Assim, nós o iniciamos com a festa do nosso padroeiro: São
Sebastião, testemunha da Esperança.
31.
A Nossa Senhora da Penha, Virgem da escuta e da contemplação, que intercede
pelo povo do Rio de Janeiro do alto de seu penhasco, primeira discípula de seu
amado Filho, confio este Ano da Vida Consagrada, olhando-a como modelo
insuperável de seguimento no amor a Deus e no serviço ao próximo.
32.
Neste ano da Vida Consagrada, da Paz e da Esperança nós nos colocamos diante de
Deus e transformamos nossas reflexões em oração, invocando a intercessão de
Maria:
Senhora da Penha,
Senhora do penhasco, Senhora
das alturas,
que, embora difíceis, tudo
permitem vislumbrar
Senhora que intercede nas
dores da vida,
escutai a prece dos(as)
consagrados(as).
Acolhei a súplica que
fazemos pelos(as) consagrados(as).
Senhora das Candeias, da
Luz, da Paz e da Esperança,
Senhora que aponta o Cristo
Jesus e nos manda fazer o que Ele disser,
ajudai-nos a descobrir, a
cada dia, a beleza da consagração.
Fortalecei-nos no seguimento
de Vosso Filho casto, pobre e obediente.
Senhora Aparecida, Senhora
do Brasil,
Senhora da Vida, do sonho,
da entrega e da firmeza.
Senhora que gerou Jesus no
silêncio de Nazaré,
que O deu à luz na
simplicidade de Belém,
que o recebeu nos braços aos
pés da cruz.
Fazei que a consagração seja
sempre vivida como missão,
na entrega, no serviço, na
união, na disponibilidade, na partilha e na prece.
Amém.
São Sebastião do Rio de
Janeiro, 2 de fevereiro de 2015
Orani
João Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo
de São Sebastião do Rio de Janeiro
[1] Cf. Papa Francisco,
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 1
[2] Cf. Papa Francisco,
Carta Apostólica Às Pessoas Consagradas, para proclamação do Ano da Vida
Consagrada
[3] Papa São João Paulo II,
Exortação Apostólica pós-sinodal Vita Consecrata, n.110.
[4] Cf. Constituição Dogmática
Lumen Gentium sobre a Igreja, n. 12.
[5] Cf. 1Jo. 4, 8.
[6] Cf. Decreto Conciliar
Perfectae Caritatis, n. 2.
[7] Cf. Fl. 1, 21.
[8] Cf. Documento de
Aparecida, n.27.
[9] Cf. 2 Cor. 4, 6.
[10] Papa São João Paulo II,
Exortação Apostólica pós-sinodal Vita Consecrata, n.27.
[11] Cf. Jr. 1, 8.
[12] Cf. 2 Tm. 1, 12.
[13] Cf. Lc. 1, 37.
[14] Cf. Rm. 5, 5
[15] Cf. 2 Cor. 12, 10.
[16] Cf. Papa Francisco,
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n.14.
[17] Cf. Mc. 16, 15.
[18] Cf. Discurso ao Papa
Francisco à Cúria Romana, 2014
[19] Regra de São Bento
[20] Cf. 11º. Plano de
Pastoral de Conjunto da Arquidiocese do Rio de Janeiro, n. 08.
Fonte: http://www.cnbb.org.br/regionais/leste-1/15798-celebra-se-hoje-o-dia-mundial-da-vida-consagrada