D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Chegamos ao final do tempo pascal! Celebramos
a Festa Solene de Pentecostes! A experiência pascal continua na Igreja. O
Espírito Santo nos foi dado para continuarmos a missão de Jesus! Depois de uma
semana ou novena de preparação que coincide também com a semana de orações para
a unidade dos cristãos, viveremos a grande vigília e Festa de Pentecostes!
Hoje, o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos no Cenáculo e a Igreja iniciou
a sua missão pública. Eis: é tudo! E, no entanto, isso é dizer tão pouco! É muito
mais rico e profundo o Mistério que hoje celebramos!
Com esta solenidade encerramos o Tempo
Pascal, aqueles 50 dias que a Igreja celebra como se fosse um só dia, santo e
glorioso, o Dia da Ressurreição. Ao apagar o círio pascal no final de última
celebração dominical, recordaremos que essa luz nos foi entregue para que
sejamos aqueles que a levam pelo testemunho e pela palavra pela vida afora. É o
Senhor Ressuscitado que roga ao Pai que hoje nos doa o seu Espírito. O dom do
Espírito é fruto da Páscoa de Cristo: é no Espírito que nossos pecados são
perdoados, é no Espírito que o fruto da paixão e morte de Cristo nos é dado, é
no Espírito que somos transfigurados à imagem de Cristo Jesus, que nos
convertemos a cada dia, que somos enviados em missão, que compreendemos a
missão de Jesus, que experimentamos a força para dar testemunho.
Sem o Espírito tudo seria apenas uma
organização humana e de nada valeria para nós tudo quanto Jesus por nós disse e
fez! Se neste domingo, na primeira leitura, o Espírito aparece agindo de modo
tão vistoso e visível no Cenáculo de Jerusalém (como a tempestade, o terremoto
e a erupção vulcânica descritos no Sinai – cf. Ex 19,3-20), é para que nós
compreendamos que ele age em nós constantemente, discreto e suave, como a brisa
que passou diante de Moisés e Elias, fazendo-os encontrar a Deus! Eis,
portanto: o Espírito é dado pelo Cristo ressuscitado, que o soprou sobre a
Igreja no próprio Dia da Ressurreição – como escutamos no Evangelho de hoje –,
e continua a soprá-lo sobre nós, no sinal visível da água no sacramento do
Batismo e do óleo, na santa Crisma.
No Cenáculo, no dia mesmo da Páscoa, os
apóstolos receberam o Espírito Santo para a missão e daí saíram para anunciar o
Cristo Ressuscitado a todas as nações. No nosso Batismo, banhados pela água,
símbolo do Espírito, nós também recebemos em nós o Espírito de Cristo e nos
tornamos cristãos, templos do Santo Espírito, chamados a viver uma vida segundo
o Espírito de Cristo e, consequentemente como animados e ardorosos
missionários. Por isso, o conselho de São Paulo: “Procedei segundo o Espírito e
não satisfareis os desejos da carne”. O cristão, caríssimos, vivendo no
Espírito desde o Batismo, já não vive mais segundo a carne, isto é, segundo a
mentalidade deste mundo, segundo o pecado. Agora, ele é impulsionado pelo
Espírito de Cristo, crescendo cada vez mais nos sentimentos do Senhor Jesus.
Isto é a obra do Espírito, que nos vai cristificando, dando testemunho de
Cristo em nós (Jo 15,26), conduzindo cada um de nós e a Igreja inteira à plena
verdade de Cristo (cf. Jo 16,13). Portanto, é somente porque somos sustentados
pelo Espírito que podemos crer, com toda certeza, que Jesus está vivo e é
Senhor e que Deus, o Pai de Jesus, é também nosso Pai, porque nos deu o
Espírito do Filho, que nos faz filhos (Rm 8,16).
Foi este Espírito Santíssimo que veio de modo
portentoso em Pentecostes, a festa judaica da Lei, 50 dias após a Páscoa. O
Espírito de amor é a nova lei, a Lei do cristão, pois “O amor de Deus foi
derramado em nossos corações pelo seu Espírito que os foi dado” (Rm 5,5)!
Anotemos o sentido profundo daquele acontecimento 50 dias após a Páscoa, em
Jerusalém! O Espírito encheu de coragem e vigor os apóstolos, de modo que eles
abriram as portas e, ao lado de Pedro, o Chefe da Igreja, deram publicamente
testemunho de Cristo. A Igreja abriu as portas para nunca mais fechar; falou
por Pedro para nunca mais se calar! É, portanto, na força do Espírito, que a
Mãe Igreja iniciou publicamente sua missão de levar o Evangelho a todos os
povos. Mais ainda: o Espírito atrai e reúne línguas e pessoas tão diversas.
Estavam em Jerusalém judeus vindos de várias
partes do Império romano, judeus que não falavam mais o hebraico nem conheciam
o aramaico; e, no entanto, compreendiam o que os apóstolos falavam, como se
fosse na sua própria língua! É o Espírito quem reúne o que está disperso, é o
Espírito quem conserva a unidade, é o Espírito quem, na unidade, faz permanecer
a rica diversidade das línguas, culturas e mentalidades, sempre para a
glorificação do Senhor Jesus! É o Espírito quem embriaga de alegria, como um vinho
bom, o vinho do Reino, o vinho novo de Caná da Galileia, que tomou o lugar da
velha água da Lei! É o Espírito quem impele a Igreja para a missão,
testemunhando Jesus pela proclamação da Palavra, pela celebração dos santos
sacramentos e pelo testemunho santo da vida dos cristãos que, sustentados por
este Santo Paráclito, são capazes de dar a vida por Jesus e com Jesus.
A solenidade que nos faz retomar a
consciência do papel e da missão do Santo Espírito na vida da Igreja e na nossa
vida. Sem o Espírito, a Igreja seria somente a “Fundação ou Associação Jesus de
Nazaré”, que recordaria alguém distante e que teria ficado no passado. Sem o
Espírito, a vida dos cristãos seria apenas um moralismo opressor, tentativa
inútil de colocar em prática mandamentos exigentes que o Senhor nos deu. Sem o
Espírito, a evangelização seria apenas uma propaganda, um exercício de
marketing.
Sem o Espírito, a nossa esperança seria em
vão, porque o que nasce da carne é apenas carne, e nossa alma e nosso corpo
jamais alcançariam a Deus, que é Espírito! Mas no Espírito, tudo tem sentido,
tudo se enche de profunda significação: com o Espírito, a Igreja é o Corpo vivo
de Cristo, no qual os membros recebem a vida que vem da Cabeça, a seiva que vem
do Tronco, que é Cristo; com o Espírito, Jesus está vivo entre nós e nós o
recebemos de verdade em cada sacramento que celebramos; com o Espírito, os
mandamentos podem ser cumpridos na alegria, porque o Espírito nos convence que
eles são verdadeiros e libertadores e nos dá, no amor de Cristo, a força para
tentar cumpri-los na generosa alegria; com o Espírito, a obra da evangelização
é testemunho vivo do Senhor Jesus, dado com a convicção de quem experimentou
Jesus; com o Espírito, já temos a garantia, o penhor da ressurreição, pois
comungamos a Eucaristia, alimento espiritual, que nos dá a semente da vida
eterna (cfr. Atenágoras).
Que neste Ano da Esperança, com a atividade
concreta baseada na missão permanente em nossa arquidiocese, todos nós nos
disponhamos a deixar-nos conduzir pela ação do Espírito Santo à semelhança de
Maria, cujo mês comemoramos! Temos a certeza de que veremos acontecer
maravilhas entre nós! Não tenhamos medo de acolher esse grande dom de Deus em
nossas vidas e deixar-nos conduzir por Ele: o Espírito Santo! “Vinde, Pai dos
pobres, dai aos corações vossos sete dons” (Sequência de Pentecostes)!