segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Família hoje

D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

Neste domingo, inicia-se em Roma a 14ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Até o final do mês (25 de outubro), os padres sinodais partilharão suas inquietações e soluções para as questões da família hoje. Na III Assembleia Geral Ordinária que tivemos no ano passado sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização, chegou-se a um texto conclusivo que serviu de base para as discussões do atual Sínodo. Portanto, na abertura, o Santo Padre, o Papa Francisco, ao abrir esse belo momento, estará discorrendo sobre o tema da liturgia deste domingo, que é exatamente sobre a união conjugal. E ele recordou sobre a questão da solidão, do amor entre o homem e a mulher e a situação da família, recordando a doutrina da Igreja baseada nas Escrituras e, ao mesmo tempo, a presença da mesma junto às pessoas que sofrem diante de tantas situações hodiernas. Lembremos que o Papa Francisco já decidiu em “motu próprio” como ter celeridade e gratuidade nos processos de nulidades matrimoniais que passam a ser julgados em apenas uma instância embora persistam sempre a possibilidades de recorrer às outras instâncias.
No Evangelho deste 27º Domingo do Tempo Comum, os fariseus perguntam a Jesus sobre o divórcio. Moisés, na Lei, no Antigo Testamento, o permitia. “E tu, Jesus, que dizes”? A resposta é muito clara: “O que Deus uniu, o homem não separe! Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”. São palavras que ressoam desde aquela época e que nos questionam.
A afirmação de Jesus para os matrimônios válidos continua repercutindo. Cristo é aquele que vem para tirar o pecado do mundo e fazer novas todas as coisas. Sua missão é implantar o Reino de Deus, destruindo o reino de Satanás, reconduzindo tudo ao plano original de Deus para a sua criação. E esse plano tem muito a dizer sobre o homem, sobre sua vida afetiva, sexual e social. Escutamos o Senhor ao responder aos fariseus: “No princípio não era assim”. – eis a chave para compreender o pensamento de Cristo! O casal é chamado e viver o amor como sinal do mesmo entre Cristo e a Igreja.

Recordando o Gênesis, “no princípio”, Jesus endossa a belíssima convicção de que homem e mulher têm a mesma dignidade: ambos vivem do mesmo sopro divino; a mulher foi tirada do lado do homem, como alguém que deve estar ao seu lado, como companheira de igual dignidade e valor. Não deve existir contraposição entre os sexos, mas sim complementaridade. Este é o plano de Deus. Viver com dignidade de filhos de Deus.
Deus institui a família com o homem e a mulher, num amor aberto à vida: “O homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne”. Que coisa: um deixar, um encontrar, um unir-se, um gerar vida! “Crescei e multiplicai! Dominai a terra”! (Gn 1,28). É esta a revelação que recebemos e que Cristo, nosso Senhor, confirmou, elevando o matrimônio à dignidade de sacramento, santificando-o com a sua graça! No plano de Deus, toda família é santa, todo lar é sagrado! 
Agora podemos compreender a palavra de Jesus no Evangelho! Naquele tempo havia o divórcio... “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés” permitiu o divórcio! “No entanto, no princípio da criação Deus os fez homem e mulher... Já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”! É uma palavra que parece dura, e os próprios discípulos tiveram dificuldades em compreender... Jesus veio para reconduzir este mundo ferido pelo pecado ao plano original de Deus. Ora, o sonho de Deus para o amor conjugal é que ele seja uma entrega total e plena, no amor indissolúvel, fiel e fecundo. Este é o ideal que Jesus aponta aos seus discípulos. O matrimônio abraçado por um cristão e uma cristã plenamente conscientes, responsáveis e capazes, no Senhor Jesus, é indissolúvel!
Jesus diz ainda no Evangelho que é necessário ter um coração de criança. “Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”! Ter coração de criança é deixar-se conduzir pelo Senhor, é acolher confiantemente a Sua palavra a nosso respeito, mesmo quando esta nos é difícil. Mas não o conseguiremos sem a disposição para sofrer com Cristo, para nos deixar a nós mesmo. A Carta aos Hebreus, na segunda leitura deste domingo, nos apresenta Jesus “coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte” e afirma que “pela graça de Deus em favor de todos, ele provou a morte” e foi levado“ à consumação por meio dos sofrimentos”.
Caríssimos, não nos iludamos: jamais compreenderemos as exigências do Evangelho, jamais teremos a força de abraçá-las, se não estivermos dispostos a participar do sofrimento e das renúncias do Cristo Jesus, aquelas mesmas que O fizeram estar agora coroado de glória. Ele que vive e reina pelos séculos.
Nestes tempos difíceis e complexos, diante de tão bela e importante vocação como é a matrimonial, rezemos para que a abertura à ação do Espírito Santo ajude todos os casais a serem testemunhas alegres de vida matrimonial. A grande resposta da Igreja ao mundo de hoje deve ser através desses testemunhos. Acompanhemos a 14ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos com nossas orações e unidade.

Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/923/familia-hoje