segunda-feira, 30 de novembro de 2015

“Deus rico em misericórdia”

D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

No dia 13 de março do presente ano da graça do Senhor, o Papa Francisco anunciou no Vaticano que decidiu proclamar um “jubileu extraordinário”, com início no dia 8 de dezembro deste ano, centrado na misericórdia de Deus. “Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da Palavra do Senhor: ‘Sede misericordiosos como o Pai’, e isto especialmente para os confessores”, disse na homilia da celebração penitencial a que presidiu na Basílica de São Pedro, na abertura da iniciativa anual “24 horas para o Senhor”.
Proposta pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, promove em todo o mundo a abertura extraordinária das igrejas como um convite a celebrar o Sacramento da Reconciliação. O tema deste ano é extraído da Carta de São Paulo aos Efésios “Deus rico em misericórdia” (Ef 2,4). No texto da edição italiana da exortação apostólica “Evangelii gaudium”, o termo ‘misericórdia’ aparece 31 vezes. 
O tema da misericórdia está muito presente no atual pontificado, e que, já como bispo, Jorge Mario Bergoglio tinha escolhido como lema: “Miserando atque eligendo”, uma citação das homilias de São Beda, o Venerável, que, comentando o episódio evangélico da vocação de São Mateus, escreve: “vidit ergo Iesus publicanum et quia miserando atque eligendo vidit, ait illi Sequere me” (“Viu Jesus um publicano, e como olhou para ele com um sentimento de amor e lhe disse: Segue-me”). Esta homilia é uma homenagem à misericórdia divina. Uma possível tradução do lema poderia ser: “com os olhos de misericórdia”.
No primeiro Ângelus após a sua eleição, há dois anos, o Santo Padre dizia que: “Ao escutar misericórdia, esta palavra muda tudo. É o melhor que podemos escutar: muda o mundo. Um pouco de misericórdia faz o mundo menos frio e mais justo. Precisamos compreender bem esta misericórdia de Deus, este Pai misericordioso que tem tanta paciência”. (Ângelus, 17 de março de 2013). Já na sua mensagem na Quaresma deste ano, o Papa Francisco deixou votos de que as paróquias e comunidades católicas se tornem “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”.
No Jubileu, as leituras para os Domingos do Tempo Comum serão extraídas do Evangelho de Lucas, chamado “o evangelista da misericórdia”. Dante Alighieri o definia “scriba mansuetudinis Christi”, “narrador da mansidão de Cristo”. Algumas das parábolas mais conhecidas escritas por ele são as da ovelha perdida, a da moeda perdida e a do pai misericordioso.
A Santa Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII em 1300. Ele planejou um jubileu por século. A partir de 1475, para possibilitar que cada geração vivesse pelo menos um Ano Santo, o jubileu ordinário passou a acontecer a cada 25 anos. Um jubileu extraordinário pode ser realizado em ocasião de um acontecimento de particular importância.

Até hoje foram 26 anos santos ordinários. O último foi o Jubileu de 2000. Quanto aos jubileus extraordinários, o último foi o de 1983, instituído por João Paulo II pelos 1.950 anos da Redenção. O rito inicial do Jubileu é a abertura da Porta Santa: esta porta é aberta, exclusivamente, durante o Ano Santo, enquanto nos outros anos permanece murada. As quatro Basílicas Maiores de Roma têm portas santas: São Pedro, São João de Latrão, São Paulo fora dos Muros e Santa Maria Maior. O rito de abrir a Porta Santa expressa simbolicamente o conceito que, durante o Jubileu, é oferecido aos fiéis um “percurso extraordinário” rumo à salvação.
Este Ano Santo iniciar-se-á na próxima Solenidade da Imaculada Conceição, e concluir-se-á a 20 de novembro de 2016. A abertura do próximo Jubileu coincidirá com o cinquentenário do encerramento do Concílio Ecuménico Vaticano II, que aconteceu em 1965 e reveste este Ano Santo de um significado especial, encorajando a Igreja a prosseguir a obra iniciada no Concílio.
Contudo, o Jubileu da Misericórdia foi convocado pelo Papa Francisco para ser vivido intensamente em cada Igreja particular, de forma a permitir que todos possam encontrar a misericórdia de Deus Pai por meio da atuante missão da Igreja. O sinal mais evidente deste cuidado pastoral é a possibilidade de as Portas Santas serem abertas em cada diocese. Em nossa arquidiocese, a Porta Santa será aberta no Terceiro Domingo do Advento (13 de dezembro) em nossa Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, e depois nas demais igrejas que acolherão as peregrinações. Estas portas, análogas às Portas das Basílicas papais em Roma, permitirão que aqueles que não possam ir a Roma também realizem a sua peregrinação jubilar.
Vivamos, intensamente, o Ano Santo Extraordinário, e vamos manifestar a todos o Evangelho da Misericórdia!

Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/1005/deus-rico-em-misericordia