quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Ano Santo da Misericórdia

Proclamação, peregrinação, atuação e transformação são os elementos que compõem um jubileu. A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro se prepara para viver o Ano Santo da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, uma oportunidade de profunda transformação dos fiéis, em que é concedido pela Igreja o dom da Indulgência Plenária.
O Jubileu da Misericórdia começará, oficialmente, no dia 8 de dezembro, na Solenidade da Imaculada Conceição, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Também nessa data se comemora o 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II. Nas demais dioceses do mundo inteiro, a abertura das Portas Santas se dará no dia 13 de dezembro. Antes disso, em razão de sua solicitude pastoral, o Santo Padre abrirá a Porta Santa na Catedral de Bangui, na República Centro Africana, no dia 29 de novembro, quando em visita ao país. O encerramento do Ano Santo será no dia 20 de novembro de 2016.

Jubileu
“Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes”, afirmou o Papa Francisco em sua bula de proclamação do Jubileu Extraordinário, a Misericordiae Vultus.
Um jubileu é um momento de conversão vivido pela Igreja Católica a cada 25 anos. O Ano Santo é marcado pela proposta de conversão do espírito e pelo perdão definitivo dos pecados confessados e dos quais as pessoas se arrependem. Este perdão chega através do Sacramento da Reconciliação, mais conhecido como confissão. Além disso, o Ano Santo é também uma oportunidade para a concessão das indulgências.
Quando encontra uma necessidade urgente, o Papa pode convocar um Jubileu Extraordinário, como foi o caso da Misericórdia.

Arquidiocese do Rio
Na Arquidiocese do Rio, sete igrejas terão Portas Santas, ou seja, locais que representam, simbolicamente, uma porta por onde se passa como marca de transformação. São a marca de uma proposta de abandono dos velhos hábitos e busca pelo alcance da misericórdia de Deus e a mudança de vida.
No dia 13 de dezembro, quando serão abertas as Portas Santas do Rio, a primeira celebração será presidida pelo arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta, na Catedral de São Sebastião, às 10h. A missa será precedida por um momento de oração e procissão com início às 8h30 na Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa, situada na Rua da Lapa, no Centro, em direção à Catedral, onde o cardeal celebrará missa após a abertura da Porta Santa e a proclamação do Ano Santo da Misericórdia.
As demais cerimônias ocorrerão no Santuário do Cristo Redentor, no Corcovado, às 12h, com Dom Antonio Augusto Dias Duarte; no Santuário de Nossa Senhora da Penha, na Penha, às 16h, com Dom Roque Costa Souza; no Santuário de Nossa Senhora de Schoenstatt, em Vargem Pequena, às 16h, com Dom Karl Josef Romer; na Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz, às 18h, também com Dom Orani; na Igreja Coração Eucarístico, em Santíssimo, às 18h, com Luís Henrique da Silva Brito; e no Santuário da Divina Misericórdia, em Vila Valqueire, às 19h30, com Dom Paulo Cezar Costa.


Proclamação, peregrinação, atuação e transformação
“Transformar o quê? Esse mundo que está aí”, exclamou o coordenador arquidiocesano de pastoral, monsenhor Joel Portella Amado. Ele, um dos responsáveis do projeto para a vivência do Ano da Misericórdia na arquidiocese, explicou que a vivência do jubileu compreende diversas etapas, que podem e devem ser articuladas entre si. São elas a proclamação da misericórdia, a peregrinação, a atuação e a transformação. O objetivo desse conjunto de passos é conseguir transformar o mundo de hoje.
“Proclamação é explicar às pessoas o que é a misericórdia de Deus e quais as implicações dela. Isso pode e deve ser feito em qualquer lugar, desde o nível interpessoal até uma palestra”, pontuou monsenhor Joel.
A peregrinação consiste, como indica a origem da palavra, em caminhar pelo campo. “Significa, portanto, atravessar o que for preciso para conseguir o que é necessário. O carioca terá sete lugares para fazer a peregrinação”, completou o coordenador.
O rito consiste em as pessoas, como gesto de conversão interior, atravessarem essa Porta Santa e depois ouvirem a proclamação da misericórdia. Em seguida, rezar, se confessar e participar da missa. Essa etapa será realizada a partir do dia 13 nos sete locais referidos.
Já a atuação consiste em gestos concretos que cada diocese ao redor do mundo vai fazer para motivar a transformação do mundo.

Gestos Concretos
A Arquidiocese do Rio elaborou quatro gestos concretos especificamente voltados para a prática da misericórdia: a escuta; o perdão e a reconciliação; a mediação; e atuação junto aos jovens sob medida socioeducativa. Os quatro formam um movimento ascendente: a escuta e o perdão são preventivos, a mediação e a atuação junto aos jovens são corretivas. Essas propostas foram pensadas devido a algumas características de uma grande cidade como o Rio de Janeiro. A primeira característica é o descompasso entre uma população tão numerosa e a dificuldade que as pessoas têm de ser escutadas, de parar para dialogar e encontrar caminhos para a solução de seus problemas. “Escutar é um gesto de misericórdia muito atual, e todos os católicos são convocados a desenvolverem essa atitude”, disse monsenhor Joel.
Como segundo passo, os católicos cariocas são chamados a se integrarem no projeto desenvolvido pelo Tribunal de Justiça (TJ-RJ) para a mediação de conflitos. Nos dois passos, escuta e mediação, vemos a Igreja presente na sociedade e atuando para que as soluções dos conflitos sejam encontradas pelo bom senso e pela paz.
Já os outros dois passos se referem a situações nas quais não foi possível evitar o conflito e que ficaram mágoas, ressentimentos e mesmo punições. O terceiro passo será junto a cada coração. Trata-se de Escolas de Reconciliação e Perdão (EsPeRe), uma proposta surgida na Colômbia e aprovada por Dom Orani para implantação no Rio. Através de encontros semanais, nos quais se reflete sobre perdão e reconciliação, e se vivenciam algumas dinâmicas sobre o tema, os participantes vão descobrindo como responder com perdão e reconciliação às variadas situações de violência.
Por fim, através da Pastoral do Menor, o Projeto Arquidiocesano para o Ano Santo da Misericórdia objetiva investir ainda mais nos jovens, que tendo cumprido alguma medida socioeducativa, voltam ao convívio social, retornam às suas famílias, mas precisam de apoio para se reestruturarem nos níveis pessoal, escolar e profissional.

Obras de Misericórdia
Para cada mês do Ano Santo, o Projeto Arquidiocesano indicou uma obra de misericórdia específica, diretamente ligada ao que as pessoas estão vivenciando. Pode ser o momento litúrgico ou uma realidade com a qual as pessoas estão acostumadas. “As pessoas podem escolher a obra de misericórdia que desejarem”, afirmou monsenhor Joel. “A lista das obras vai ser disponibilizada para todos. A indicação de uma obra por mês vai ajudar muito na unidade arquidiocesana, no sentido de que toda a arquidiocese estará agindo na mesma direção. Isso não significa retirar das pessoas a liberdade, mas chamar a atenção para a unidade. De algum modo, unidade e misericórdia estão muito ligadas”, completou.
As obras serão em dezembro deste ano: “Saciar a fome e a sede (Mt. 25,35.37.42.44)”; janeiro: “Visitar os cativos” (Lc 4,16-21); fevereiro: “Visitar os doentes” (Mt 8, 14-15); março: “Advertir os pecadores” (Jo 8, 1-11); abril: “Suportar os erros” (Lc5, 1-11); maio: “Abrigar os sem lar” (Lc 2, 1-7); junho: “Vestir os despidos” (Mt 25, 34.36.38.43-44); julho: “Contemplando o Deus Misericordioso” (Mt. 5, 38-48); agosto: “Instruir e aconselhar” (Mt. 13, 1-13); setembro: “Perdoar as ofensas” (Mt. 18, 21-22); outubro: “Confortar os aflitos” (Mt. 11, 28-29); novembro: “Sepultar os mortos e rezar por eles” (Jo. 11,1-45).
A relação entre as obras e o período é facilmente percebida. No mês de junho, por exemplo, com a proximidade do inverno, a obra escolhida foi “vestir os despidos”. É o tempo em que as pessoas recolhem agasalhos e distribuem para quem necessita.

Caridade Social
O Vicariato Episcopal para a Caridade Social será um dos grandes articuladores de várias atividades ligadas aos quatro atos específicos e a algumas das obras de misericórdia. No Natal, motivará a entrega de cestas de Natal, de modo especial àqueles lugares onde a ação paroquial não chega. Em fevereiro promoverá visitas a hospitais e pessoas doentes nas casas, entre outras atividades, dentre elas as ligadas à reinserção dos menores sob medida socioeducativa na sociedade. Ao longo do ano, acompanhará mais de perto os gestos concretos, entre os quais as EsPeRe, conforme explicou  monsenhor Joel e confirmou o vigário episcopal para a Caridade Social, cônego Manuel de Oliveira Manangão: “O primeiro grupo a fazer a experiência das EsPeRe será composto pelos que atuam junto à Pastoral do Menor e por outras pastorais diretamente ligadas a ela. As escolas têm a finalidade de fazer com que as pessoas possam se harmonizar melhor para ajudar os egressos, esses jovens sob medida socioeducativa, a superar as dificuldades e ajudar as pessoas a criarem uma condição de perdoar e reconciliar, enfrentando, assim, a realidade dentro das famílias, as marcas oriundas da privação da liberdade e do envolvimento com situações de criminalidade”, destacou o cônego.

Fonte: Jornal Testemunho de Fé, páginas 6 e 7.