Pe.
Vitor Gino Finelon
Professor
das Escolas de Fé Mater Ecclesiae e Luz e Vida
A Igreja se reúne, esta semana, para celebrar
o segundo domingo do Tempo Comum. O presbítero, então, em nome da assembleia,
dirige ao Pai, por intermédio de Cristo, na potência do Espírito Santo, a
seguinte oração: “Deus eterno e todo-poderoso, que governais o céu e a Terra,
escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz”.
Nessa oração se faz duas petições: “escutai com bondade as preces do vosso
povo” e “dai ao nosso tempo a vossa paz”. A paz, dom de Deus e encargo do
homem, é uma das necessidades mais urgentes de nosso tempo, marcado com tantas
formas de violência e de guerra.
A comunidade eclesial tem a tarefa constante
de interceder pela paz no mundo e de realizá-la entre os povos. Tal encargo
nasce da sua natureza de Corpo Místico do Senhor, como prolongamento da paz
trazida e ofertada por Cristo: “eu vos disse tais coisas para terdes paz em
mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo
16,35). O Papa Francisco tem insistido muito na necessidade da Igreja se tornar
um instrumento de paz entre os homens. Ele escreveu sua mensagem para o 49º Dia
Mundial da Paz, no primeiro dia do ano. O texto dessa mensagem versa sobre a
necessidade de se fomentar a cultura da misericórdia e da solidariedade, a fim
de se conquistar relações mais pacíficas para o mundo.
O ponto nevrálgico para a conquista da paz,
segundo o Pontífice, está na superação da “globalização da indiferença”. O
comportamento humano de indiferença se manifesta em três níveis: com Deus, com
o próximo e com a criação. A indiferença em relação a Deus se caracteriza por
uma atitude de autossuficiência, fruto de uma concepção materialista, niilista
e relativista. Em relação às pessoas, a indiferença se apresenta como um
fechamento do coração e dos olhos, desinteressando-se dos outros e
esquivando-se dos problemas sociais. Com a natureza, ela ocorre com a omissão
diante de tantos problemas graves na casa comum. De todos esses três níveis, a
indiferença em relação a Deus é a mais grave, pois gera no coração do homem um
vazio existencial e uma reduzida compreensão de sua identidade, das suas
relações e da sua pertença ao cosmos.
Como antídoto contra tal atitude de
fechamento, o Pastor da Igreja propõe uma conversão à misericórdia. Jesus é o
rosto da misericórdia divina, por isso, somente Ele pode revelar ao homem a
medida salutar do seu relacionamento com Deus, com o próximo e com a natureza.
De fato, o ministério do Senhor é marcado por ensinamentos e atos que rompem as
distâncias e criam condições de comunhão e de paz. A Igreja é convocada a viver
essa abertura cristã, a fim de que a indiferença seja vencida e reine uma
cultura de compaixão e de paz. O Ano Santo de 2016 quer favorecer o
conhecimento e a vivência do amor visceral de Deus, apresentado por Jesus
Cristo, para imprimir no coração da humanidade uma mudança de perspectiva em
sua cultura. O testemunho da misericórdia é a senda da comunidade eclesial para
ajudar o mundo a abandonar o indiferentismo e a vivenciar a paz.
Ao pedido pela paz para o nosso tempo feito
pela assembleia litúrgica na celebração eucarística desse domingo, corresponde
um compromisso ético e missionário de viver como instrumento de paz, de
reconciliação e de comunhão. Esse compromisso pela paz – assumido por todos os
cristãos – se concretiza em ações de misericórdia, de perdão e de cuidado,
quebrando todas as formas de indiferença em relação a Deus, ao próximo e aos
problemas ecológicos. O Papa nos alerta: “Vence a indiferença e conquista a
paz”. O Ano Santo da Misericórdia é uma grande oportunidade para que a paz de
Cristo seja comunicada pela Igreja aos homens.
Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/1054/dai-ao-nosso-tempo-a-vossa-paz