D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Iniciamos 2016! Celebramos a Solenidade da
Santa Mãe de Deus, Maria. Os textos litúrgicos da Missa nos falam do nome de
Jesus e da circuncisão. Nesse dia foi também comemorado 49º Dia Mundial da Paz,
que trouxe como tema: “Vence a indiferença e conquista a Paz”. E no primeiro
domingo do novo anjo civil, dentro do tempo do Natal, somos convidados a
celebrar a universalidade da salvação através da festa da Epifania do Senhor,
ou popularmente conhecida como “festa dos Reis Magos”.
A Igreja celebra, pois, a Epifania, isto é, a
manifestação do Senhor ao mundo inteiro. Os Magos representam os povos de todas
as línguas e nações que se põem a caminho, chamados por Deus para adorar Jesus
(cf. Mt 2, 1-12).
A festa da Epifania incita todos os fiéis a
partilharem dos anseios e fadigas da Igreja, que “ora e trabalha ao mesmo tempo
para que a totalidade do mundo se incorpore ao Povo de Deus, Corpo do Senhor e
Templo do Espírito Santo” (LG 17). Nós podemos ser daqueles que, estando no
mundo, imersos nas realidades temporais, viram a estrela de um chamado de Deus
e são portadores dessa luz interior, que se acende em consequência do trato
diário com Jesus. Sentimos, pois, a necessidade de fazer com que muitos
indecisos ou ignorantes se aproximem do Senhor e purifiquem a sua vida.
A Epifania recorda que devemos nos esforçar
por todos os meios ao nosso alcance para que todos os nossos amigos, familiares
e colegas se aproximem de Jesus. Os Magos, seguindo a estrela, encontram o
lugar onde estava o Salvador com Maria e José. E voltaram às suas regiões por
outro caminho.
Porque os Magos tiveram a coragem de partir,
conseguiram atingir o Deus inatingível e o adoraram! Diz o Evangelho que eles “ao
verem de novo a estrela, sentiram uma alegria muito grande!” (Mt 2,1-12). Nós
também, se encontrarmos de verdade o Senhor! Eles encontraram uma criança
pobre, com uma pobre jovem do povo, Maria, sua Mãe... Não O encontram num
palácio, não O encontram numa corte! E, no entanto, com os olhos da fé,
reconheceram o Rei verdadeiro, prostraram-se e O adoraram!
Quando nos deixamos guiar, podemos encontrar
o Senhor; somente quando saímos dos nossos esquemas, dos nossos modos de
pensar, de achar e de sentir, podemos de verdade ver naquilo que é pobre e
pequeno, ver naquilo que não estava nos nossos planos e expectativas, a
presença de Deus. Depois, diz o Evangelho que eles voltaram por outro
caminho... Sim, porque quem encontrou esse Menino, quem se alegrou com ele,
quem viu a sua luz muda de caminho, caminha na Vida Nova!
Ao povo desanimado por ver frustradas suas
esperanças de glória temporal, o profeta Isaías ordena que Jerusalém levante a
cabeça, pois, uma vez convertida, ela servirá de luz para todos os povos. O
Messias não virá restituir a glória militar a Israel, mas este será um povo que
anuncia a salvação, trazida por Cristo, para todos os povos. Nós celebramos o
Natal pensando, talvez, em bens materiais e não nos damos conta do compromisso
missionário de anunciar Jesus como Salvador e libertador de nossos pecados!
Os “Santos Reis”, guiados pela “Estrela
Guia”, procuraram Jesus no palácio do rei Herodes, mas o Menino estava em
Belém. O anúncio da chegada do Messias não encheu de alegria o coração dos
poderosos; alegraram-se os pastores (pobres) e os “Santos Reis” (representando
a humanidade toda) que O adoraram e O acolheram como Salvador.
Os Magos seguiram a estrela. Não duvidaram
por que sua fé era sólida, firme. É importante aprender dos Magos a virtude da
perseverança: mesmo durante o tempo em que a estrela se ocultou aos seus
olhares continuaram à procura do Menino! Também nós devemos perseverar na
prática das boas obras mesmo durante as mais obscuras trevas interiores. É a
prova do espírito, que somente pode ser superada num intenso exercício de fé.
Sei que Deus assim o quer, devemos repetir nesses momentos: Sei que Deus me
chama e isso basta! “Sei em quem pus a minha confiança” (2Tm 1, 12).
Deixemo-nos iluminar pela sua luz! Com os
Magos, ajoelhemo-nos diante Daquele que nasceu para nós e está nos braços da
sempre Virgem Maria Mãe de Deus: ofereçamos-lhe nossos dons: não mais mirra,
incenso e ouro, mas a nossa liberdade, a nossa consciência e a nossa decisão de
segui-lo até o fim. Assim, alegrar-nos-emos com grande júbilo e voltaremos ao
mundo por outro caminho, “não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e
libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas vesti-vos do Senhor Jesus e não
procureis satisfazer os desejos da carne. Deixemos as obras das trevas e vistamos
a armadura da luz” (Rm 13, 13.12).
Na “Festa da Epifania” (manifestação), quais
seriam os presentes que vamos oferecer ao Menino Jesus como sinal concreto de
nossa adoração e de nossa conversão? Enfim, seria necessário reconhecer Jesus
como nosso Rei e Salvador e prometer segui-lo em todos os passos de nossa
caminhada diária. Para todos nós, Deus concede que tenhamos uma estrela que nos
indica o caminho a seguir para encontrar com Jesus Cristo! Cabe a nós discernir
e seguir. Uma vez encontrado o Senhor, teremos um novo caminho a seguir.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1034/uma-estrela-no-ceu-da-vida