D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
No dia 13 de março de 2015, o Papa Francisco
anunciou no Vaticano que decidiu proclamar um “jubileu extraordinário”, com
início no dia 8 de dezembro daquele ano, centrado na misericórdia de Deus.
“Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do
Senhor: ‘Sede misericordiosos como o Pai’, e isto especialmente para os
confessores”, disse na homilia da celebração penitencial a que presidiu na
Basílica de São Pedro, na abertura da iniciativa “24 horas para o Senhor”.
Proposta pelo Pontifício Conselho para a
Promoção da Nova Evangelização, promove em todo o mundo a abertura
extraordinária das igrejas como um convite a celebrar o sacramento da
Reconciliação. O tema do ano passado foi extraído da carta de São Paulo aos Efésios
“Deus rico em misericórdia” (Ef 2,4). A misericórdia é um tema muito querido ao
Papa Francisco, que já como bispo escolheu como lema: “Com olhos de
misericórdia”. No texto da edição italiana da exortação apostólica “Evangelii
gaudium”, o termo “misericórdia” aparece 31 vezes.
Nos dias 4 e 5 de março de 2016, dentro do
período da Quaresma, a Igreja realiza novamente a iniciativa “24 horas para o
Senhor”. Em todo o mundo, igrejas abrirão as suas portas pelo período de um
dia, para que os fiéis possam procurar o Sacramento da
Reconciliação. Neste ano do Jubileu, em que somos chamados a ser
“misericordiosos como o Pai”, é uma iniciativa ainda mais empenhativa.
A atividade é motivada pelo próprio Papa
Francisco. Em sua Mensagem para a Quaresma de 2016, ele destacou esse
período como propício à conversão e aproximação da misericórdia
divina. “Na Bula de proclamação do Jubileu, fiz o convite para que a
Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para
celebrar e experimentar a misericórdia de Deus”. Com o apelo à escuta da
Palavra de Deus e à iniciativa “24 horas para o Senhor”, quis sublinhar a
primazia da escuta orante da Palavra, especialmente a palavra profética. Com
efeito, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo, mas cada cristão é
chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio.
Na sexta-feira, 4 de março, o Santo Padre vai
presidir a celebração penitencial na Basílica de São Pedro, às 17h (hora
local), dando início à iniciativa mundialmente. Com a vivência do Jubileu da
Misericórdia, a iniciativa ganha contornos específicos. Conforme anunciado
pelo Papa, durante todo o Ano Santo extraordinário qualquer sacerdote vai poder
absolver o pecado do aborto, uma faculdade atualmente concedida aos bispos (e
estes delegam a alguns padres). Foram enviados também os missionários da
misericórdia (alguns sacerdotes que receberam uma incumbência especial do
Papa), que poderão absolver os chamados “pecados reservados à Santa Sé”,
que, segundo o Direito Canônico, são cinco: a profanação das espécies
consagradas, a violência física contra o Papa, a ordenação episcopal sem o
mandato pontifício, a tentativa de absolvição do cúmplice em um pecado contra o
sexto mandamento (não cometer adultério) e a violação direta do segredo da confissão.
O Ano Santo interpela a criatividade de todos
os sacerdotes para se tornarem missionários da Reconciliação, ou seja, irem,
individualmente ou em grupos para atender confissões nos mais diversos locais:
praças públicas, centros comerciais, hospitais, lugares de passagem de grande
fluxo de pessoas. Isso já ocorre aqui no Rio e é muito bem recebido pelos
fiéis. O Ano Santo da Misericórdia nos diz que não podemos ficar esperando que
as pessoas venham, porque muitas não vêm mais. Precisamos ir até onde as
pessoas estão.
A atitude de escuta pode ser considerada como
o grande gesto do Ano Santo da Misericórdia. O Santo Padre Francisco já assim
indicou em sua Bula que instituiu o Ano Santo. Seu texto é muito claro:
“Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos
irmãos e irmãs privados da própria dignidade, e sintamo-nos desafiados a
escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e
estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da
fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a
barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a
hipocrisia e o egoísmo”. (MV 15).
Na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de
Janeiro, a celebração “24 horas para o Senhor” – acontecerá em diversos locais
nos dias 4 e 5 de março, a partir das 17h da sexta-feira até 17h do sábado, com
forte perspectiva missionária – ainda maior que a ocorrida em 2015. Os
vicariatos já divulgaram os locais e as iniciativas, que são tantas, graças a
Deus. Com isso cresce a proposta de confissões nas ruas, praças e outros
locais, conforme indicado acima. Será um tempo para incrementarmos os
santuários móveis.
Contudo, gostaria de todo o coração que esta
celebração possa atingir o coração de cada fiel, preparando assim para fazermos
uma bela Páscoa. Que este dia possa vir como grande ápice em nossa
espiritualidade, e que possamos dar passos concretos de conversão e de maior
acolhimento d’Aquele que é rico em misericórdia e que nos faça “misericordiosos
como o Pai”.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1122/24-horas-para-o-senhor