quarta-feira, 2 de março de 2016

24 horas para o Senhor

D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

No dia 13 de março de 2015, o Papa Francisco anunciou no Vaticano que decidiu proclamar um “jubileu extraordinário”, com início no dia 8 de dezembro daquele ano, centrado na misericórdia de Deus. “Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: ‘Sede misericordiosos como o Pai’, e isto especialmente para os confessores”, disse na homilia da celebração penitencial a que presidiu na Basílica de São Pedro, na abertura da iniciativa “24 horas para o Senhor”.
Proposta pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, promove em todo o mundo a abertura extraordinária das igrejas como um convite a celebrar o sacramento da Reconciliação. O tema do ano passado foi extraído da carta de São Paulo aos Efésios “Deus rico em misericórdia” (Ef 2,4). A misericórdia é um tema muito querido ao Papa Francisco, que já como bispo escolheu como lema: “Com olhos de misericórdia”. No texto da edição italiana da exortação apostólica “Evangelii gaudium”, o termo “misericórdia” aparece 31 vezes. 
Nos dias 4 e 5 de março de 2016, dentro do período da Quaresma, a Igreja realiza novamente a iniciativa “24 horas para o Senhor”. Em todo o mundo, igrejas abrirão as suas portas pelo período de um dia, para que os fiéis possam procurar o Sacramento da Reconciliação. Neste ano do Jubileu, em que somos chamados a ser “misericordiosos como o Pai”, é uma iniciativa ainda mais empenhativa.
A atividade é motivada pelo próprio Papa Francisco. Em sua Mensagem para a Quaresma de 2016, ele destacou esse período como propício à conversão e aproximação da misericórdia divina. “Na Bula de proclamação do Jubileu, fiz o convite para que a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus”. Com o apelo à escuta da Palavra de Deus e à iniciativa “24 horas para o Senhor”, quis sublinhar a primazia da escuta orante da Palavra, especialmente a palavra profética. Com efeito, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo, mas cada cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio. 

Na sexta-feira, 4 de março, o Santo Padre vai presidir a celebração penitencial na Basílica de São Pedro, às 17h (hora local), dando início à iniciativa mundialmente. Com a vivência do Jubileu da Misericórdia, a iniciativa ganha contornos específicos. Conforme anunciado pelo Papa, durante todo o Ano Santo extraordinário qualquer sacerdote vai poder absolver o pecado do aborto, uma faculdade atualmente concedida aos bispos (e estes delegam a alguns padres). Foram enviados também os missionários da misericórdia (alguns sacerdotes que receberam uma incumbência especial do Papa), que poderão absolver os chamados “pecados reservados à Santa Sé”, que, segundo o Direito Canônico, são cinco: a profanação das espécies consagradas, a violência física contra o Papa, a ordenação episcopal sem o mandato pontifício, a tentativa de absolvição do cúmplice em um pecado contra o sexto mandamento (não cometer adultério) e a violação direta do segredo da confissão. 
O Ano Santo interpela a criatividade de todos os sacerdotes para se tornarem missionários da Reconciliação, ou seja, irem, individualmente ou em grupos para atender confissões nos mais diversos locais: praças públicas, centros comerciais, hospitais, lugares de passagem de grande fluxo de pessoas. Isso já ocorre aqui no Rio e é muito bem recebido pelos fiéis. O Ano Santo da Misericórdia nos diz que não podemos ficar esperando que as pessoas venham, porque muitas não vêm mais. Precisamos ir até onde as pessoas estão.
A atitude de escuta pode ser considerada como o grande gesto do Ano Santo da Misericórdia. O Santo Padre Francisco já assim indicou em sua Bula que instituiu o Ano Santo. Seu texto é muito claro: “Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade, e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”. (MV 15).
Na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, a celebração “24 horas para o Senhor” – acontecerá em diversos locais nos dias 4 e 5 de março, a partir das 17h da sexta-feira até 17h do sábado, com forte perspectiva missionária – ainda maior que a ocorrida em 2015. Os vicariatos já divulgaram os locais e as iniciativas, que são tantas, graças a Deus. Com isso cresce a proposta de confissões nas ruas, praças e outros locais, conforme indicado acima. Será um tempo para incrementarmos os santuários móveis.
Contudo, gostaria de todo o coração que esta celebração possa atingir o coração de cada fiel, preparando assim para fazermos uma bela Páscoa. Que este dia possa vir como grande ápice em nossa espiritualidade, e que possamos dar passos concretos de conversão e de maior acolhimento d’Aquele que é rico em misericórdia e que nos faça “misericordiosos como o Pai”.

Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/1122/24-horas-para-o-senhor