D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
O Segundo Domingo da Páscoa, antigamente era
conhecido como “Domingo in Albis”, isto é, “Domingo Branco”, devido ao costume
da vinda dos neo-batizados com suas vestes brancas recebidas na Vigília Pascal.
Depois tivemos as orientações para que se aproveitasse desse clima pascal para
que as crianças da catequese recebessem sua primeira comunhão (OS, 103). Por
isso, além do clima batismal, muitas pessoas recordam o dia da sua Primeira
Comunhão, ou da sua Comunhão Solene. É uma bela maneira de ligar o Batismo e a
Eucaristia à Páscoa, completando, desta forma, a alegria pela ressurreição de
Jesus.
Porém, nos tempos atuais, este Segundo
Domingo da Páscoa, tão cheio de significados e simbolismos, recebeu uma outra
designação: por disposição de São João Paulo II, a Igreja celebra a Divina
Misericórdia, convidando-nos a nos aproximarmos de Deus sem medo de sermos
menosprezados ou rejeitados. Por sinal, o Papa São João Paulo II voltou ao Pai
na véspera de um Domingo da Misericórdia. Além de seus documentos e testemunho,
ele deixou-nos esse legado, que agora com o Papa Francisco, com o Ano da
Misericórdia, nos faz ver a importância deste Kairós.
A motivação para colocar o segundo domingo da
Páscoa como o Domingo da Divina Misericórdia encontra amparo na consciência de
que “foi na ressurreição que o Filho de Deus experimentou, de modo radical, a
misericórdia do Pai, que é mais forte do que a morte”. (São João Paulo II,
Carta Encíclica Dives in Misericordia). Depois de ter passado pela
dor do abandono e pela morte na cruz, “Cristo revelou o Deus do amor
misericordioso, precisamente porque aceitou a Cruz como caminho para a
ressurreição”. A experiência que o próprio Cristo fez da misericórdia do Pai,
levou-O a nos ensinar que Deus é Pai de Misericórdia, que vai ao encontro do
filho que o havia abandonado cobrindo-o de beijos, conforme nos ensina a
parábola do Pai de Misericórdia, também conhecida como parábola do Filho
Pródigo (Lc 15,11-32).
É neste domingo que a liturgia da Igreja faz
memória da Confissão ou Sacramento da Penitência, que Jesus instituiu no mesmo
dia de sua Ressurreição: aparecendo aos Apóstolos reunidos no Cenáculo – no
domingo da Ressurreição – Jesus disse: “Recebei o Espírito Santo, aqueles a quem
perdoardes os pecados, os pecados lhes serão perdoados; aqueles a quem não
perdoardes os pecados, os pecados não serão perdoados” (Jo 20,22). O texto
litúrgico colabora ainda mais para falar de misericórdia.
No Plano da Salvação, o Pai enviou o Filho para
o perdão dos pecados; e o Filho enviou a Igreja. Ele quis que o perdão dos
pecados fosse dado não de maneira vaga e abstrata, mas de maneira concreta,
pelos ministros da Igreja, os sacerdotes do Senhor. Por isso, o sacerdote ao
perdoar nossos pecados diz: “Pelo ministério da Igreja… eu te absolvo de todos
os teus pecados”. Que consolo! Que alegria saber que o Sangue precioso do
Senhor derramado na Paixão lava a nossa alma de todos os pecados! Não há
misericórdia maior; não há amor mais profundo; não há certeza mais firme de
perdão.
Portanto, a festa da Divina Misericórdia é
celebrada no Segundo Domingo da Páscoa e foi oficialmente instituída e
estendida a toda a Igreja Católica no ano 2000, pelo Papa São João Paulo II.
Esta festa tem sua origem na proclamação da Divina Misericórdia por meio do
gesto eloquente de Jesus na cruz, doando a sua vida pela salvação da
humanidade. Aqui em nossa Arquidiocese a Festa da Misericórdia que já acontecia
há anos em nossa Catedral está sendo estendida para muitas outras Igrejas, em
especial para o Santuário da Divina Misericórdia. Uma oportunidade de
aprofundar o tema neste ano santo do jubileu extraordinário.
Com relação ao tem temos também a inspiração
de Santa Faustina, conhecida por São João Paulo II, quando no dia 22 de
fevereiro de 1931, na Polônia, ela relata: “à noite, estando no meu quarto vi o
Senhor Jesus vestido com uma veste branca: uma mão levantada para abençoar,
enquanto com a outra tocava sobre o peito a veste, levemente, da qual saiam
dois grandes raios, um vermelho e o outro pálido (branco)”. Depois de um
instante, Jesus me disse: “pinte uma imagem segundo o modelo que viste, e
embaixo escreve: Jesus, eu confio em ti”! E Jesus continuou: “Eu desejo que
haja a Festa da Misericórdia”. “Quero que essa Imagem, que pintarás com o
pincel, seja abençoada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse
domingo deve ser a Festa da Misericórdia”. De uma certa forma isso atualiza a
revelação sobre a misericórdia e a coloca de uma modo popular dentro da espiritualidade
pascal.
Dessa forma, com a liturgia, tradição da
Igreja e Inspiração em revelação particular, vemos como esta festa está em
profunda relação com a liturgia deste Domingo, pois se lê o Evangelho da
aparição do Ressuscitado e da instituição do Sacramento da Reconciliação, como
instrumento comunicador da Misericórdia e do Perdão de Deus.
A imagem de Jesus misericordioso representa o
nosso Salvador Ressuscitado, que leva ao mundo a sua paz com a salvação
realizada por meio da sua paixão e morte na cruz. Como lemos no relato da morte
do Senhor, quando o soldado lhe transpassa o peito, do seu coração saem sangue
e água. Na imagem vemos sair do peito de Jesus dois raios (símbolos da
Eucaristia e do Batismo). Jesus fez grandes promessas a aqueles que venerarem a
imagem de Jesus Misericordioso: a salvação eterna; progresso no caminho da
perfeição cristã; a graça de uma morte feliz e outras graças se os homens
pedirem com confiança.
Portanto, esta festa não é somente um dia
particular de adoração a Deus no mistério da sua misericórdia, mas é um tempo
de graça para todo homem. Dizia Jesus a Santa Faustina: “desejo que a Festa da
Misericórdia seja de reparo e refúgio para as almas, especialmente a dos pobres
pecadores”. Neste Ano da Misericórdia, e também quando a JMJ será realizada em
Cracóvia, na Polônia, terra de Santa Faustina e São João Paulo II, vemos a
importância de viver este Domingo como um grande dom para toda a Igreja, para
acolher e anunciar a misericórdia de Deus nesses tempos tão complexos da humanidade.
Jesus misericordioso, nós nos refugiamos em
vós, fazei-nos homens e mulheres pascais construtores da civilização do amor.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1172/jesus-misericordioso