D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
A Igreja celebra a Solenidade do Sagrado
Coração de Jesus na sexta-feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi. O
coração é mostrado como símbolo do amor de Deus. No Calvário, o soldado abriu o
lado de Cristo com a lança (Jo 19,34). Diz a Liturgia que “aberto o seu Coração
divino, foi derramado sobre nós torrente de graças e de misericórdia”. Jesus é
a Encarnação viva do Amor de Deus e seu Coração é o símbolo desse Amor. Por
isso, encerrando um conjunto de grandes Festas que abrem a retomada do Tempo
Comum após o Tempo Pascal (Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi), a
liturgia nos leva a contemplar o Coração de Jesus.
O Sagrado Coração é a imagem do amor de Jesus
por cada um de nós. É a expressão daquilo que São Paulo disse: “Eu vivi na fé
do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). É o
convite a que cada um de nós retribua a Jesus este amor, vivendo segundo a Sua
vontade e trabalhando com a Igreja pela salvação das almas.
Vários santos veneraram o Coração de Jesus.
Santo Agostinho disse: “Vosso Coração, Jesus, foi ferido para que na ferida
visível contemplássemos a ferida invisível de vosso grande amor”. São João
Eudes, grande propagador desta devoção no século XVII, escreveu o primeiro
ofício litúrgico em honra do Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela
primeira vez na França, em 20 de outubro de 1672.
Jesus revelou o desejo da Festa ao seu
Sagrado Coração à religiosa Santa Margarida Maria Alacoque, na França,
mostrando-lhe o “Coração que tanto amou os homens e é por parte de muitos
desprezado”. Santa Margarida teve como diretor espiritual o padre jesuíta S.
Cláudio de la Colombière, canonizado por São João Paulo II, e que se incumbiu
de propagar a grande Festa.
O Papa Clemente XIII aprovou a Missa em honra
do Coração de Jesus, e São Pio X, no dia 23 de agosto de 1856, estendeu a Festa
para toda a Igreja, a ser celebrada na sexta-feira da semana subsequente à
festa de Corpus Christi. O papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração
de Jesus. O Beato Paulo VI disse certa vez que ela é garantia de crescimento na
vida cristã e garantia da salvação eterna.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem a
sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do
infinito amor de Deus por você. Este amor encontra seu ponto alto com a vinda
de Jesus. A devoção ao Sagrado Coração de um modo visível aparece em dois
acontecimentos fortes do Evangelho: o gesto de São João, discípulo amado,
encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na
cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). Em um,
temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento
causado pelos pecados da humanidade.
O Papa São João Paulo II sempre cultivou esta
devoção, e a incentiva a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em
1980, no dia do Sagrado Coração, afirmou: “Na solenidade do Sagrado Coração de
Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em
torno do mistério do Coração de Cristo. Quero hoje dirigir juntamente convosco
o olhar dos nossos corações para o ministério desse Coração. Ele falou-me desde
a minha juventude. Cada ano volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo
da Igreja”.
Entre as muitas e ricas promessas que Jesus
Cristo fez aos que fossem devotos de seu Sagrado Coração, sempre chamou a
atenção a que fez aos que comungassem em Sua honra as nove primeiras
sextas-feiras do mês seguidos. É tal, que todos a conhecem com o nome da Grande
Promessa. Esta devoção, em sua forma atual, deve-se às inspirações de Santa
Margarida Maria (1649-1690), sobretudo quando, em 16 de junho de 1657, escreveu
sobre o coração de Jesus: “Eis aqui este Coração que amou tanto aos homens que
não omitiu nada até esgotar-se e consumir-se para manifestar-lhes Seu amor, e,
por todo reconhecimento, não recebe da maior parte mais que ingratidão,
desprezo, irreverências e tibieza que tem para mim neste sacramento de amor”.
Jesus deu a sua servidora o encargo de que se
tributasse culto a seu Coração e a missão de enriquecer o mundo inteiro com os
tesouros desta devoção santificadora. O objeto e fim desta devoção é honrar o Coração
adorável de Jesus Cristo, como símbolo do amor de um Deus para nós; e a vista
deste Sagrado Coração, abrasado de amor pelos homens, e ao mesmo tempo
desprezado por estes, nos deve mover a amá-lo e a reparar a ingratidão de que é
objeto.
Nesta tão sublime solenidade do Coração de
Jesus, queremos pedir ao Senhor que dê a paz a todos os corações, pois vivemos
num momento onde muitos optam pela violência. A violência vai contra os
princípios morais e éticos e ainda religiosos. Deus é amor e paz! O nome de
Deus é misericórdia! Que possamos ser ministros da misericórdia a exemplo da
docilidade do Coração de Jesus! Que o nosso coração possa unir ao Coração
Sagrado de Jesus.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1262/coracao-que-tanto-amou-a-humanidade