Pe.
Vitor Gino Finelon
Professor
das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida
No mês de agosto, a Arquidiocese do Rio de
Janeiro, em obediência ao pedido feito pelo Papa Francisco, no parágrafo 15 da
bula “Misericordiae Vultus”, medita sobre as seguintes obras de misericórdia
espirituais: aconselhar os indecisos e ensinar os ignorantes. Essas duas
apontam para a missão didático-profética da Igreja e dos cristãos diante de um
mundo anestesiado para a realidade e as feridas do erro e do pecado. Neste
sentido, podemos nos pôr estas questões: “ser-nos-á perguntado se ajudamos a
tirar da dúvida, que faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão; se
fomos capazes de vencer a ignorância em que vivem milhões de pessoas, sobretudo
as crianças desprovidas da ajuda necessária para se resgatarem da pobreza” (MV
15).
Aconselhar e ensinar
Na experiência de condução dos homens à
comunhão com Deus, a Igreja percebeu a necessidade de atuar em duas importantes
frentes. Na primeira, contribuindo para que as pessoas possam discernir seus
caminhos à luz da mensagem cristã. Na segunda, formando as consciências para
uma crescente adesão à mensagem da salvação. De fato, aconselhar e ensinar são
ações em prol do amadurecimento humano-espiritual. Como obras de misericórdia
espiritual, nos levam ao acompanhamento do próximo, a fim de que este se desenvolva
sob o signo do amor e da compaixão.
Cristo, o Mestre da
humanidade
Tanto no primeiro como no Novo Testamento, os
crentes reconheceram que Deus sempre ensina o seu povo. Se na Antiga Aliança
Ele educava os israelitas por meio dos patriarcas, dos sacerdotes, dos profetas
e dos sábios, na Nova Aliança, Jesus – o Deus conosco – é o grande Mestre da
humanidade. O Senhor, em seu ministério, proclamou inúmeros discursos,
aconselhou diversas pessoas e, por isso, mesmo sem ser escriba, recebeu do povo
o título de “Rabi”: “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu sou”
(Jo 13,13). Todavia, seu ensinamento não é igual ao dos fariseus e dos mestres
da Lei, mas é cheio de autoridade, “porque Ele as ensinava com autoridade e não
como os escribas e fariseus” (Mt 7,29). A grande novidade de seu ensino é que
Ele mesmo escuta, aprende e realiza toda a vontade do Pai: “Eu digo ao mundo o
que d’Ele ouvi” (Jo 8,26).
Os dois grandes erros
Em Mt 23,1-12, encontramos uma passagem que
trata sobre o modo como a Igreja deve exercer sua tarefa de ensino. O Senhor,
sabendo que sua comunidade exerceria um múnus docente diante do mundo, a
admoesta para que não viesse a cometer dois erros gravíssimos. O primeiro é a
hipocrisia: “eles dizem, mas não fazem” (Mt 23,3). Os discípulos não podem
apresentar esta duplicidade, na qual o Mestre não se esforça em nada para
encarnar a mensagem dita. O segundo é a vaidade: “gostam de que os homens lhe
chamem de rabi” (Mt 23,7). Os seus seguidores devem trazer a marca da
simplicidade e do desejo de ajudar o próximo. Para curar desde a raiz o coração
dos que iam continuar seu ministério de ensino no mundo, Jesus afirma: “O maior
dentre vós será aquele que vos serve. Aquele que se exaltar será humilhado, e
aquele que se humilhar será exaltado” (Mt 23,11-12). Desta forma, ensinar e
aconselhar alguém não é uma tarefa para hipocrisia e vaidade. Ambas requerem um
coração de serviço e de humildade.
A missão da Igreja
O Ressuscitado deixou, por um lado, um
mandato aos seus apóstolos – “Ide e ensinai-as a observar tudo quanto vos
ordenei” (Mt 28,19) – e, por outro, o dom do Espírito Santo para balizar tal
tarefa – “Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse” (Jo
14,26). Assim, a Igreja ensina o conteúdo salvífico com a autoridade de Cristo.
Nesta missão, o ministério ordenado tem um encargo particular: “Os bispos, com
os presbíteros seus cooperadores, têm como primeiro dever anunciar o Evangelho
de Deus a todos os homens, conforme a ordem do Senhor. Eles são os arautos da
fé, que trazem a Cristo novos discípulos, e os doutores autênticos da fé
apostólica, munidos da autoridade de Cristo” (CIC 888). Mas, todos os fiéis,
também, participam do múnus profético de Jesus: “Cristo realiza a sua missão
profética não só através da hierarquia, mas também por meio dos leigos. Para
isso os constituiu testemunhas, e lhes concedeu o sentido da fé e a graça da
Palavra: ensinar alguém, para o trazer à fé, é dever de todo o pregador e,
mesmo, de todo o crente” (CIC 904). Desta forma, até o retorno de Jesus Cristo,
a comunidade eclesial deve exercer o encargo de educar e de aconselhar os
homens.
O ministério da Palavra
Com o mandato de Cristo e o auxílio do
Espírito Santo, a comunidade eclesial é vocacionada a anunciar a mensagem de
salvação. Para isso, se utiliza de vários espaços formativos e de diferentes
formas de atuação: desde o primeiro anúncio feito aos não batizados, passando
pelo aprofundamento do conteúdo da fé na catequese catecumenal e na permanente,
chegando ao discurso técnico da ciência teológica e culminando com a palavra
proclamada e atualizada na homilia. Outra importante tarefa eclesial ligada à
tarefa de aconselhar as pessoas é a da direção espiritual. Nela, a pessoa se
coloca diante de seu diretor com o intuito de discernirem a atuação do Espírito
Santo, que guia e configura os fiéis, cada vez mais, ao Cristo. Esta prática
está cada vez mais franqueada aos fiéis, a fim de que possam responder aos
apelos divinos e perseverarem no caminho da salvação. Desta forma, através de
todas estas frentes, a Igreja exerce sua tarefa didático-profética, conduzindo
todas as gentes ao encontro com o Ressuscitado.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1357/aconselhar-indecisos-e-ensinar-ignorantes