Orani
João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Nossa querida Arquidiocese de São Sebastião
do Rio de Janeiro ganha, com a graça de Deus, no dia de hoje, 7 de dezembro,
Dia de Santo Ambrósio e véspera da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria
Santíssima, dois novos bispos auxiliares: Monsenhor Joel Portella Amado e
Monsenhor Paulo Alves Romão. Para mim é um grande presente de aniversário ao
completar neste dia 42 anos de ordenação presbiteral. Agradeço ao Papa
Francisco ter-nos concedido esses auxiliares de que tanto necessitamos. É uma
boa notícia em meio a tantas situações de conflito que ora vivemos. São novos
sucessores dos Apóstolos para servirem a Igreja.
1. Significado
da Arquidiocese e a missão de seu Pastor Próprio: o Bispo Diocesano.
Desejo, dentro deste importante
acontecimento, refletir com nossos prezados leitores sobre o significado
pastoral, teológico e canônico deste momento da vida de nossa Igreja
particular. Embora todos saibam que o Rio é uma Arquidiocese e, por isso, tem à
frente, como primeiro servidor, um Arcebispo, usarei, no texto, os termos Bispo
diocesano, Bispo auxiliar e Diocese, uma vez que essas palavras são comuns à
praxe pastoral ao passo que os apelativos Arcebispo e Arquidiocese se referem
mais a uma questão canônico-administrativa.
Convém iniciar lembrando que “a Diocese é uma
porção do Povo de Deus confiada ao pastoreio do Bispo com a cooperação do
presbitério, de modo tal que, unindo-se ela ao seu pastor e, pelo Evangelho e
pela Eucaristia, reunida por ele no Espírito Santo, constitua uma Igreja
particular, na qual está verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo
una, santa, católica e apostólica” (Código de Direito Canônico, cânon 369).
2. Bispos
auxiliares e a necessidade pastoral.
Pois bem, essa Diocese tem à frente um Bispo,
chamado de diocesano, pois é o primeiro responsável no serviço do Povo de
Deus a ele confiado. Em circunstâncias de grandes necessidades pastorais, o
Bispo diocesano pode pedir à Santa Sé um ou mais bispos auxiliares. Estes são
chamados de titulares, pois recebem o título de uma antiga diocese que
havia outrora, mas hoje não mais existe. Eles ajudam ao Bispo diocesano nos
trabalhos pastorais sem direito certo à sucessão. Quem pode suceder um Bispo
diocesano, em funções especiais (limite de idade, doença etc.) é o Bispo coadjutor,
não, porém, o auxiliar (cf. cânones 376 e 403, § 1-3). Os auxiliares ou
coadjutores agem dentro da Diocese de acordo com as prescrições dos cânones
403-411 e de mais algum documento dado em sua nomeação.
Ao falar isso, lembramo-nos de uma antiquíssima
tradição da Igreja que diz estar ela congregada ou reunida em torno de seu
Pastor, segundo Santo Inácio de Antioquia, no início do século II, ao escrever:
“Sem o Bispo não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape (Eucaristia).
Tudo, porém, que ele aprovar seja agradável a Deus, para que tudo quanto se
fizer, seja seguro e legítimo” (Carta aos Esmirnenses, 8).
3. Da
missão episcopal.
O sacerdote nomeado para o ministério
episcopal passa a ser, automaticamente, chamado de Monsenhor até que receba
a sagração – aí tem o termo Dom antes do nome – em uma bela cerimônia
na qual devem estar presentes um Bispo como sagrante principal e mais dois
co-sagrantes ao menos, para dar autêntico significado à colegialidade
apostólica desejada por Cristo ao constituir os Apóstolos e seus sucessores.
Via de regra, um número maior de Bispos tomam parte dessas cerimônias,
demonstrando, assim, apoio e fraternidade colegial com o recém-sagrado (cf.
cânon 1014).
É importante ainda, penso, lembrar aqui um
ensinamento de Dom Dadeus Grings, nosso amado irmão no episcopado de quem fui
Coordenador de Pastoral e foi um dos meus co-sagrantes, a respeito da função do
Bispo em sua Diocese. Ele “possui ‘todo poder ordinário próprio e imediato’,
que se requer para o exercício de sua tarefa pastoral, exceto naquelas causas
que o Sumo Pontífice houve por bem reservar a si” (Curso de Direito Canônico.
Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2004, p. 25).
Como se vê, na Igreja vigora o princípio da
subsidiariedade, ou seja, o Bispo tem completa autonomia em sua Diocese naquilo
que diz respeito à sua missão de Pastor daquele Povo a ele confiado.
E qual é essa função do Bispo em linhas
gerais? – É a de ser, antes de tudo e acima de tudo Pastor, aquele que cuida de
suas ovelhas, especialmente as mais feridas e necessitadas em suas periferias
existenciais. Ele não é o “homem de gabinete”, mas, sim, aquele que está no
meio do seu povo dando exemplo do serviço, pois se é tido como o primeiro ou o
maior, então deverá ser aquele que a todos serve (cf. Lc 22,27).
4. O
que espera o Papa Francisco de um bispo hoje?
Aliás, o Papa Francisco voltou a lembrar,
recentemente, no Jubileu dos Núncios Apostólicos que eles (os Núncios) devem
indicar Bispos com o seguinte perfil para os dias de hoje: “testemunhas do
Ressuscitado e não portadores de currículos; Bispos orantes, familiarizados com
as coisas do ‘alto’ e não esmagados pelo peso do ‘baixo’; Bispos capazes de
entrar ‘com paciência’ na presença de Deus, de modo a possuir a liberdade de
não atraiçoar o Querigmaque lhes foi confiado; Bispos pastores e não
príncipes e funcionários.” (Discurso do Papa Francisco aos participantes do
Encontro dos Núncios Apostólicos, de 17/09/16, www.vatican.va).
Ao Bispo não cabe apenas a preocupação “com
os de dentro”, mas também com as ovelhas feridas e dispersas, especialmente
para com aqueles que abandonaram os sacramentos, a participação na comunidade,
a oração, a fé... Os fiéis de outros ritos ou os irmãos de outras confissões
religiosas, promovendo o sadio ecumenismo, o interesse por buscar os não
batizados, bem como ser um verdadeiro pai ao seu presbitério: é preciso
ouvi-los e ampará-los, especialmente nos momentos mais difíceis de suas vidas
(dificuldades pessoais, pastorais, crises diversas etc.), além de trabalhar na
pesca das vocações sacerdotais, consagradas e leigas de que a Igreja tanto
necessita.
5. Profunda
unidade e íntima sintonia dos Bispos Auxiliares com o seu Bispo Diocesano.
Tem o Bispo diocesano e os auxiliares com ele
– em profunda sintonia – a missão tríplice de: 1) evangelizar e defender a
ortodoxia da fé; 2) santificar, trabalhando com redobrado ardor a fim de que os
fiéis cresçam na graça divina, além do mais, de dar exemplo de uma vida santa,
caridosa, humilde, simples, rezando pelo seu povo e 3) como governante da
Diocese cabe-lhe o poder executivo, legislativo e judiciário a fim de que seja
promovido o bem comum e os trabalhos pastorais necessários entre os seus, de
acordo com a realidade na qual ele está inserido.
Tudo isso há de ser ponderado com a mente
aberta e o coração elevado a Deus, cheio de amor para com o próximo. E aqui,
como sempre faço, volto-me às sábias palavras do Papa Francisco: “O povo
percorre com dificuldade a planície do dia-a-dia, e precisa de ser guiado por
quem é capaz de ver as coisas do alto. Por isso, nunca devemos perder de vista
as necessidades das Igrejas particulares às quais devemos providenciar. Não
existe um Pastor standard para todas as Igrejas. Cristo conhece a
singularidade do Pastor de que cada Igreja necessita para que responda às suas
necessidades e a ajude a realizar as suas potencialidades. O nosso desafio é
entrar na perspectiva de Cristo, tendo em consideração esta singularidade das
Igrejas particulares” (Discurso do Papa Francisco na Reunião da Congregação
para os Bispos, 27/02/14, www.vatican.va).
6. Os
bispos devem ser testemunhas do Ressuscitado.
Os Bispos devemos ser testemunhas do
Ressuscitado. “Quem é uma testemunha do Ressuscitado? É quem seguiu Jesus desde
o início e é constituído com os Apóstolos testemunha da sua Ressurreição.
Também para nós é este o critério unificador: o Bispo é aquele que sabe tornar
atual tudo o que aconteceu a Jesus e, sobretudo, sabe, juntamente com
a Igreja, fazer-se testemunha da sua Ressurreição. O Bispo é antes de tudo um
mártir do Ressuscitado. Não uma testemunha isolada, mas juntamente com
a Igreja. A sua vida e o seu ministério devem tornar credível a Ressurreição.
Unindo-se a Cristo na cruz da verdadeira entrega de si, faz jorrar para a
própria Igreja a vida que não morre. A coragem de morrer, a generosidade de
oferecer a própria vida e de se consumir pelo rebanho estão inscritos no ‘DNA’
do episcopado. A renúncia e o sacrifício são conaturais com a missão episcopal.
E desejo frisar isto: a renúncia e o sacrifício são congênitos à missão
episcopal. O episcopado não é para si mas para a Igreja, para a grei, sobretudo
para aqueles que segundo o mundo são descartáveis” (idem).
7. Os
bispos devem pregar o Evangelho e viver em íntima oração com Deus em favor da
santificação do Povo de Deus.
Deve o Bispo ser o homem do anúncio, da
oração e, como já mencionava, o Pastor, aquele que não teme se sujar pelas ovelhas
próximas ou perdidas. Aquele desejoso de gastar-se pelo Reino de Deus que é a
Igreja no meio do seu Povo, cheio de tantos desafios e dificuldades.
8. O
bispo deve estar no meio dos mais pobres e dos descartados.
Reina ainda a banalização da vida nos
contextos que o Papa João Paulo II chamou de “cultura da morte” e Francisco tem
alcunhado de “cultura do descartável”, e aqui pensamos em todos os excluídos da
vida sem culpa própria, como aqueles que no ventre materno se acham ameaçados
de morte com o aval do Estado ou os doentes em fase terminal abandonados por
falta de cuidados, às vezes em situações piores do que a de países em guerra
declarada. Esta é um pouco da realidade que espera nossos novos auxiliares,
mas, certamente, a graça de Deus nunca lhes faltará.
9. Três
segredos de um bispo virtuoso: ser caridoso, ser vínculo de comunhão e ter
paciência.
Creio caber ainda uma palavra sobre a ideia
que todos temos quando nos tornamos servidores no sentido de desejar mudar ou
reformar algumas coisas vistas à nossa frente, ainda que nem sempre aquilo seja
o mais ideal. Como, então fazer? – Saber manter os três princípios que a sábia
tradição da Igreja oferece para essas ocasiões: 1) dar primazia à caridade e
aos sérios objetivos pastorais sobre as “belas ideias”. 2) permanecer na
comunhão com a Igreja: tudo aquilo que vem de Deus nunca separa, sempre une.
Por isso, a “bela ideia” de mudança há de estar em sintonia com a caminhada da
Diocese e da Igreja em todo o mundo e 3) saber com paciência aguardar os
momentos oportunos. Sim, aquele que busca renovar as coisas com Deus sabe
esperar a lentidão das criaturas e o amadurecimento de cada um a fim de não se
lançar, de modo afoito, em uma iniciativa cuja prosperidade pode ficar ameaçada
pela pressa.
10. Da
trajetória pessoal dos novos auxiliares:
10.1 –
Monsenhor Joel Portella Amado.
Monsenhor Joel Portella Amado pertence ao
clero diocesano do Rio de Janeiro. Nascido em 2 de outubro de 1954, na cidade
do Rio de Janeiro, teve a formação para o sacerdócio no Seminário
Arquidiocesano São José. Foi ordenado presbítero em 12 de outubro de 1982 pela
imposição das mãos de meu amado predecessor, Cardeal Eugênio de Araújo Sales.
Desde a sua ordenação, foi pároco nas Paróquias Jesus Ressuscitado (1982-1991)
e Nossa Senhora da Vitória (1991-2014). Até o dia de hoje é o pároco da
Paróquia São Sebastião, Catedral Metropolitana. Tem exercido, ainda, outras
funções em nível arquidiocesano, tais como: Vigário Forâneo, Membro do Conselho
Presbiteral e do Colégio de Consultores, Coordenador de Pastoral e Vigário
Geral. Foi membro do INP – Instituto Nacional de Pastoral (2008-2012) e membro
de reflexão teológico-pastoral do CELAM (2014-2016). Membro do colendo Cabido
Metropolitano e nomeado Capelão de Sua Santidade, pelo Papa Bento XVI. É,
ainda, membro da Academia Luso-Brasileira de Letras. Possui graduação em
Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1977), graduação em
Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1982),
mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(1987) e doutorado em Teologia pela mesma Universidade (1999). Tem larga e
festejada experiência na área de Teologia, com ênfase em Antropologia Teológica
e Teologia Pastoral, atuando principalmente nos seguintes temas: evangelização,
inculturação, pastoral urbana, teologia e urbanização. Atualmente é professor
no Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro e da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Está sendo nomeado hoje
Bispo Titular de “Carmeiano” e Auxiliar de nossa Arquidiocese.
10.2 - Padre
Paulo Alves Romão.
Paulo Alves Romão, nascido a 6 de abril de
1964, em Barra do Jacaré, Diocese de Jacarezinho, Estado do Paraná é também do
clero arquidiocesano. Obteve o grau de bacharel em Filosofia na Faculdade
Eclesiástica João Paulo II (1991-1992) e de bacharel em Teologia pelo Instituto
Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro (1993-1997). Obteve o
grau de mestre (1997-1998) e de doutor em Teologia sistemática pastoral
(2007-2012) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com a tese A
estrutura sacramental na história salvífica: estudo comparado Edward
Schillebeekx e Luigi Giussani. Foi ordenado sacerdote em 28 de junho de
1997 pela Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, na qual exerceu as
seguintes funções: Diretor espiritual do Seminário Arquidiocesano São José
(1997-1999), Professor do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio
de Janeiro, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(1998-2016); responsável diocesano do Movimento Comunhão e Libertação
(2001-2016); diretor do Departamento de Ensino Religioso da Arquidiocese de São
Sebastião do Rio de Janeiro (2002-2016), Professor do Instituto Superior de
Ciências Religiosas (2004-2005), Responsável pela Pastoral da Educação desta
Arquidiocese (2009-2016), Pároco da Paróquia Bom Pastor (2011-2016) e Diretor
espiritual do Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos (2016). Hoje foi
nomeado Bispo Titular de Calama, Auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do
Rio de Janeiro.
11. UT OMNES UNUM SINT.
É uma grande alegria receber dois
bispos auxiliares que são do amado clero do Rio de Janeiro. Isso demonstra a
vitalidade e o valor dos padres formados em nossa Arquidiocese. Meu afetuoso
cumprimento ao clero arquidiocesano na certeza de que os senhores irão acolher
com carinho os novos colaboradores que o Papa Francisco envia para comigo e sob
a minha direção de Bispo Diocesano possamos fazer acontecer a ação pastoral em
nossa querida Arquidiocese buscando sempre o ideal que deve nortear a todos:
bispo diocesano e seus bispos auxiliares, clero e povo santo de Deus: “Ut
omnes unum sint”, ou seja “de modo que todos sejam um em Cristo!”.
Por fim, gostaria de pedir ao nosso querido
Povo de Deus que acolha com alegria, entusiasmo e gratidão ao Senhor os nossos
novos Bispos auxiliares. Eles vêm nos ajudar a caminhar melhor. Eles são
sucessores dos Apóstolos, parte do colégio episcopal assim como todos os demais
Bispos – Eméritos, Arcebispos e Senhores Cardeais – e nessa condição cabe-lhes
as mesmas faculdades que Jesus deu aos doze (cf. Mt 18,18). Faz-se, portanto, a
distinção na forma de servir, mas não no ministério ou no modo de ser Bispo. Este
é e sempre será um sucessor do Colégio Apostólico até o fim dos tempos. A
ordenação de ambos está agendada para o dia 28 de Janeiro de 2016, sábado, às 9
horas da manhã em nossa Catedral Metropolitana de São Sebastião.
Temos consciência das realidades que vivemos
no mundo, no país, em nosso estado e cidade. Sabemos bem o terreno onde pisamos
e como as pessoas tem necessidade de encontrar luzes em suas vidas. Ao termos
mais dois auxiliares temos certeza de que irão colaborar para estar junto aos
que sofrem e necessitam assim como nos ajudarão a semear esperança e paz.
Monsenhor Joel Portella Amado e Monsenhor
Paulo Alves Romão, sejam bem-vindos! Nós os acolhemos como bons operários da
vinha do Senhor nesta Igreja particular do Rio de Janeiro para servir destemidamente,
particularmente os mais pobres e necessitados, para vivenciar a caridade
pastoral, construindo vínculo de comunhão com o Bispo Diocesano, dispensando os
mistérios sagrados, com a preciosa ajuda do amado clero, manifestando a todos
os homens e as mulheres a virtude paciência na construção da misericórdia e da
paz!
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/5188/novos-bispos-auxiliares-para-nossa-arquidiocese