D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
A liturgia do Tempo do Advento não somente
nos faz recordar as promessas de Deus sobre o Messias, mas também nos vai
mostrando os traços da missão desse Salvador tão prometido e tão esperado. O
Advento é tempo de preparação para receber o Salvador. É tempo de conversão!
Daí o convite de João Batista a todos neste II Domingo do Advento:
“Convertam-se por que o Reino do Céu está próximo!” (Mt 3,2). O tempo é agora:
“Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!” (Mt 3,3).
A primeira leitura, retirada de Is 11,1-10,
mostra que o profeta Isaías usa uma imagem impressionante: do velho tronco de
Jessé, isto é, da dinastia já antiga de Davi, nascerá uma hastesinha, modesta,
frágil, pequena: um rebento! Querem coisa mais frágil, mais débil? Qualquer
criancinha pode, travessa, quebrar, estiolar uma haste… E, no entanto, sobre
este rebento tão frágil repousará o Espírito do Senhor. Esta haste é o ungido
pelo Espírito, é o Messias, o Cristo de Deus, brotado da Casa de Davi! João, o
Batista, dirá no Evangelho de hoje que “ele vos batizará com o Espírito Santo
e com fogo”, isto é, com o fogo do Espírito! Só ele pode fazer isso,
porque somente ele é pleno do Espírito: “Espírito de sabedoria e discernimento, Espírito de conselho e fortaleza, Espírito de ciência e temor de Deus”.
Nós, cristãos, temos, no entanto, uma missão
neste mundo, nesta situação atual. Escutemos o profeta: “Convertei-vos,
porque o Reino dos Céus está próximo! Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir
da ira que vai chegar? Produzi frutos que provem a vossa conversão! O machado
está na raiz da árvore e toda aquela que não produzir fruto será cortada e
lançada ao fogo!” O mundo precisa do nosso testemunho, da nossa palavra de
esperança, do nosso modo de viver inspirado no Evangelho! Se não dermos frutos,
seremos cortados! Vivemos num mundo que não somente é descrente como também
zomba da fé.
No Evangelho, retirado de Mateus 3,1-12, o
precursor São João Batista prega a conversão. Esta significa colocar os passos
nos passos de Jesus. E isto é um aspecto que caracteriza a vida cristã inteira.
Quando acontece erro, um extravio, cumpre reconhecer o erro, dispondo-se a
receber o dom de Deus, que perdoa sempre, que é infinitamente misericordioso e
oferece a cura espiritual no Sacramento da Confissão.
Converter-se é renascer continuamente para a
vida ressuscitada com Cristo. A existência do cristão deve ser uma conversão
contínua. Não é somente purificar-se do estado de pecado, mas também progredir
sempre. Ensina São Paulo: “Rogamos e vos exortamos no Senhor Jesus Cristo a que
progridais sempre mais” (1Ts 4,1). O cristão convertido sabe que é um
peregrino, como ser que vive debaixo da tenda em condição provisória, como
pessoa que jaz sob a lei fundamental de uma mudança sempre mais profunda em
busca de santificação pessoal.
Diz São João: “Eu sou a voz que clama no
deserto: Preparai os caminhos do Senhor, endireitai suas veredas” (Mt 3,3). Ele
é a voz, a voz que anuncia Jesus. Essa é a sua missão, a sua vida, a sua
personalidade. Todo o seu ser está definido em função de Jesus, como teria que
acontecer na nossa vida, na vida de qualquer cristão. O importante da nossa
vida é Jesus. João Batista indica-nos também o caminho que devemos seguir. O
importante é que Cristo seja anunciado, conhecido e amado. Uma preocupação de
singularidade, a ânsia de sermos protagonistas, não deixaria lugar para Jesus.
Sem humildade, não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus.
Ao celebramos este segundo Domingo do
Advento, somos motivados a abrir as portas do nosso coração para o Senhor. É
necessário fazer uma reflexão para adentramos ainda mais no caminho do Senhor.
Caminho este que possui dificuldades, que tem pedras, é estreito, mas, no fim
de tudo encontramos a graça da Salvação Eterna. Que esta Palavra de Deus de
hoje recaia em nossos corações.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1543/preparemos-os-caminhos