Em comemoração ao jubileu de 60 anos de
fundação da Congregação de Nossa Senhora de Belém, o arcebispo do Rio, Cardeal
Orani João Tempesta, presidirá a santa missa em ação de graças, no Santuário de
Nossa Senhora de Loreto, em Jacarepaguá, no dia 22 de julho, às 16h.
Em entrevista ao Jornal Testemunho de Fé, a
fundadora e superiora geral, Madre Maria Helena Cavalcanti, destacou a alegria
da congregação em anunciar Cristo Ressuscitado, por meio da evangelização em
escolas e nas catequeses. Além disso, tem a missão de auxiliar muitas
catequistas, com encontros de formação sempre alegres, dinâmicos e, sobretudo,
alicerçados na Sagrada Escritura.
Testemunho de Fé (TF) – Como
surgiu o desejo de se consagrar a Cristo?
Madre Maria Helena Cavalcanti (Madre Maria
Helena) – No Colégio Santa Maria, em Belo Horizonte, tive a oportunidade de
aprofundar minha fé sob a orientação das irmãs dominicanas e recebi o chamado
de Deus para a vida religiosa.
TF – Como nasceu a Congregação
de Nossa Senhora de Belém?
Madre Maria Helena – Senti preocupação com
relação ao ensino religioso quando, logo após o término dos estudos com as
irmãs dominicanas, passei a dar aulas sobre religião numa escola pública. Ao
retornar para casa, passava pela Paróquia da Divina Providência, no Jardim
Botânico, e diante de Jesus Sacramentado, percebia como era pouco o que eu
fazia.
Em 1952, eu já era religiosa no Colégio São
Domingos, em Poços de Caldas (MG), quando essa preocupação retornou de maneira
muito forte. Organizei o movimento das Alunas Missionárias, as quais davam
aulas de formação religiosa em escolas da cidade, na tentativa de atacar mais
de perto esse problema.
Quando retornei ao Rio de Janeiro, em 1957,
depois de me apresentar ao padre Negromonte, comecei, com a permissão de minha
superiora, a dar aulas de religião em três estabelecimentos do Governo:
Instituto de Educação, Rivadávia Corrêa e Paulo de Frontin.
Depois de quase dois anos de experiência nas
escolas, no dia 20 de abril de 1958, escrevi um relatório ao Cardeal Dom Jaime
de Barros Câmara, que me chamou ao Sumaré para uma conversa. Ao final de duas
horas, estava resolvida a fundação da Congregação.
TF – Como foi escolhido o
nome da Congregação?
Madre Maria Helena – Quando Dom Jaime me pediu
que escolhesse um nome para a obra que surgia, fiquei confusa. Lembrei-me então
do que havia lido em uma biografia de São Francisco de Assis. Ajoelhei-me,
rezei e abri a Bíblia. Sem olhar, coloquei o dedo em uma das páginas e caiu
sobre a palavra Belém. Imediatamente me veio à mente: pelas mãos de Maria.
Então pensei, Nossa Senhora de Belém. Congregação de Nossa Senhora de Belém.
Faço muita questão desse ‘de’. A congregação é dela. Depois percebi que, se
ficasse mil anos pensando, não encontraria nome mais adequado, pois Belém
significa ‘Casa do Pão’. Nossa intenção, além de prolongar o mistério da
Encarnação no meio estudantil laicizado, é a de que Belém seja realmente a Casa
do Pão: pão doutrinário, pão intelectual e o pão gostoso da sadia convivência humana.
Só alguns anos mais tarde alguém me lembrou de que o nome escolhido era também
o de minha cidade natal.
TF – Qual é o carisma e o
lema da Congregação?
Madre Maria Helena – Nosso carisma é
prolongar o mistério da Encarnação no meio estudantil laicizado, campo árduo
que pede generosas vocações. Colaborando no grande esforço missionário da
Igreja, atuamos também na catequese paroquial e em outras atividades que para
tal contribuem. Nosso lema é: “Eis que vos anuncio uma grande alegria” (Lucas
2,10). Esta é a maior notícia que a humanidade jamais recebeu: “Hoje vos nasceu
na cidade de Davi o Salvador que é o Cristo Senhor!” (Lucas 2,11). É a grande
alegria que nos vem por Maria, causa de nossa alegria.
TF – Quais as áreas de
evangelização?
Madre Maria Helena – As irmãs são, em sua
maioria, professoras do município e do estado, nos ensinos Fundamental e Médio
e, além disso, trabalham na catequese e atuam também nas paróquias. A novidade
da nossa humilde congregação é que, ao invés de termos colégios nossos,
inserimo-nos por meio de concurso na rede pública ou trabalhamos em escolas
particulares.
Além do anúncio da Boa Nova do Evangelho e do
contato cotidiano nas salas de aula, há os retiros, os passeios, os livros, a
música, os domingos de formação, as palestras nas paróquias e a pedagogia
catequética nas Escolas Mater Ecclesiae e Luz e Vida.
TF – Qual é a diferença da
catequese hoje e antigamente?
Madre Maria Helena – Os pais são os primeiros
catequistas. Atualmente percebe-se a pouca participação das famílias na
educação religiosa dos filhos. Muitas crianças e jovens desconhecem Jesus, sua
mensagem e as orações que antigamente eram ensinadas pelos pais e avós.
Comecemos em casa nosso ardor de catequistas,
a fim de não sermos só ouvintes da Palavra, mas praticantes. É necessário,
pois, uma tomada de consciência na fé, um testemunho de vida na esperança e um
anúncio da salvação na caridade.
TF – Quais são as
características de um catequista e sua influência para a Igreja?
Madre Maria Helena – Integrar o conhecimento
numa vida correta inspirada pelos valores do Evangelho para anunciar a Palavra
de Deus. Essa é a meta do catequista. Não sejamos como carteiros levando a
Carta de Deus, mas discípulos que trazem suas palavras na mente, no coração e
na vida.
Não é preciso ser perfeito, do contrário
ninguém estaria à altura. Porém, certos requisitos são muito importantes. A
vida do catequista não pode desmentir o que sua boca fala. Quem não aprecia uma
pessoa simpática, afável com todos, exigente sem ser intolerante, mansa sem ser
fraca, educada sem ser formal e, principalmente, sincera e alegre na adesão a
Cristo e à Igreja? Só uma chama acende outra chama.
TF – Como é o caminho para
quem deseja entrar na Congregação?
Madre Maria Helena – A vocação é uma
iniciativa divina, um dom de Deus. Um dos fatores decisivos é a família cristã
bem estruturada, na qual os filhos percebem a coerência dos pais entre a fé que
praticam e a vida que vivem. Nos dias de hoje, toda vocação é um milagre. Basta
ouvir a história de cada vocacionado, de cada moça ou rapaz que procura a vida
religiosa ou o sacerdócio.
Para aqueles que se sentem chamados a viver
nosso carisma, é necessário em primeiro lugar possuir real vocação. Além disso,
os requisitos físicos, como boa saúde e idade de 19 a 30 anos. É preciso que
ore bastante e pergunte como São Paulo: “Senhor, que quereis que eu faça?” (At
9,6). Além disso, podem buscar conhecer mais profundamente a congregação.
TF – Quais são as alegrias e
desafios da vocação e da missão de servir a Deus num mundo em mudança? Qual a
diferença entre os tempos iniciais e agora?
Madre Maria Helena – A missão das irmãs de
Belém, onde quer que trabalhem, é evangelizar pelo testemunho e pela Palavra,
sempre que possível. A irmã de Belém procura ser transparente para que ninguém
se aproxime dela sem se aproximar também de Deus. Geralmente, somos bem
acolhidas, respeitadas e estimadas pelos colegas de trabalho e alunos. Na
verdade, como evangelizar sem dar testemunho e como testemunhar a não ser por
uma vida santa?
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/6811/irmas-de-belem-60-anos-de-evangelizacao-na-educacao