quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A paz como dom de Deus foi o tema da pregação do padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia

“Se pudéssemos escutar o grito mais forte que existe no coração de bilhões de pessoas, ouviríamos, em todas as línguas do mundo, uma só palavra: paz!”.
Com esta afirmação, o padre Raniero Cantalamessa começou a primeira pregação de advento à cúria romana. Como já é tradição, o Santo Padre e os membros da cúria escutaram a meditação proposta pelo capuchinho, que, neste ano, gira em torno da paz.
O padre Cantalamessa espera que o tema “nos ajude a escutar com ouvidos novos o anúncio natalino: paz na terra aos homens amados por Deus”.
Ele chamou a atenção, primeiramente, para o anúncio fundamental da paz nas palavras de São Paulo aos romanos: “Justificados, pois, pela fé, estamos em paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Por ele alcançamos, mediante a fé, a graça em que estamos firmes e por ele nos gloriamos na esperança da glória de Deus”.
O capuchinho observou que, “quando falamos de paz”, pensamos quase sempre numa paz horizontal: “entre os povos, entre as raças, entre as classes sociais, entre as religiões”.  Mas destacou que “a palavra de Deus nos ensina que a paz mais essencial é a vertical, entre o céu e a terra, entre Deus e a humanidade”. Dela dependem todas as outras formas de paz, como vemos na narração da criação: “Enquanto Adão e Eva estão em paz com Deus, há paz dentro de cada um deles”.
Cantalamessa dedicou a primeira meditação à paz como dom de Deus em Cristo Jesus. Na segunda meditação, ele falará da paz como tarefa na qual se deve trabalhar e, na terceira, da paz como fruto do Espírito Santo.

O anúncio de Paulo, mencionado no início da meditação, pressupõe que “aconteceu algo que mudou o destino da humanidade. Se agora estamos em paz com Deus, quer dizer que antes não estávamos”. Cantalamessa explica o que levou a essa mudança decisiva nas relações entre o homem e Deus: “Diante da rebelião do homem, o pecado original, Deus não abandona a humanidade à sua própria sorte, mas decide um novo plano para reconciliá-la consigo”.
Assim, começa uma longa preparação com as alianças bíblicas.  Primeiro, com indivíduos: Noé, Abraão, Jacó; depois, através de Moisés, com todo Israel, que se torna o povo da aliança. Aquelas alianças antigas eram temporárias, “destinadas a ser estendidas, um dia, a todo o gênero humano”. A paz universal é apresentada como um retorno à paz inicial do Éden. E o Novo Testamento “vê realizadas todas estas profecias com a vinda de Jesus”.
“Foi com a sua simples vinda à terra que Jesus restabeleceu a paz entre o céu e a terra?”, perguntou o pregador. “O nascimento de Cristo é verdadeiramente ‘o nascimento da paz’, ou esse nascimento é também, e principalmente, a sua morte?”. A resposta está na carta de São Paulo aos romanos: “A paz vem da justificação mediante a fé, e a justificação vem do sacrifício de Cristo na cruz”.
“Não se compreende a mudança radical nas relações com Deus se não se compreende o que aconteceu na morte de Cristo”, declarou o padre Cantalamessa, explicando que “era necessário que houvesse alguém que unisse, em si próprio, aquele que é capaz de combater e aquele que é capaz de vencer, e este era Cristo, Deus e homem”.
O pregador observou ainda que “a paz que Cristo nos mereceu com a sua morte de cruz se torna ativa e operante em nós mediante o Espírito Santo”. Quando Jesus diz “Shalom!” e “Recebei o Espírito Santo”, destaca o padre, “Ele comunica aos discípulos algo da paz de Deus que supera toda compreensão”.
Em seguida, Cantalamessa matizou o dom da paz em “nossa relação com Deus”, explicando que “uma das causas da alienação do homem moderno no tocante à religião e à fé, talvez a causa principal, é a imagem distorcida que se tem de Deus”. Esta é também a causa de um “cristianismo apagado, sem entusiasmo e sem alegria, vivido mais como um dever do que como um presente”.
“Deus é visto, geralmente, como o Ser Supremo, o Todo-Poderoso, o Senhor do tempo e da história”, “como uma entidade que se impõe ao indivíduo de fora para dentro; nenhum detalhe da vida humana lhe escapa”, observou o padre. Quando transgredimos a sua lei, introduz-se inexoravelmente uma desordem que exige reparação; e, como esta reparação não pode jamais ser considerada adequada, surge a angústia da morte e do juízo divino.
O Espírito Santo, porém, “nos ensina a olhar para Deus com olhos novos: como o Deus da lei, sim, mas, ainda mais do que isto, como o Deus do amor e da graça, o Deus misericordioso e piedoso, lento à ira e rico em misericórdia”.

Fonte: http://www.zenit.org/pt/articles/o-padre-cantalamessa-fez-hoje-a-primeira-pregacao-de-advento-ao-papa-e-a-curia-romana